sábado, 10 de março de 2012

Rádio Bandeirantes de São Paulo passa a retransmitir programa humorístico da Band TV. Mais um factoide?

A partir desta segunda, o programa humorístico CQC volta ao ar pela BAND TV. A grande "novidade" para este é que ele passará a ser retransmitido também pela Rádio Bandeirantes de São Paulo.

Este expediente de se levar o som da tv para o rádio pura e simplesmente já está se tornando comum nas emissoras de rádio. Além de "retransmitir" os telejornais da TV,a Band News FM - que também é do grupo - "pirateia" o áudio do programa de entrevistas Canal Livre.

A CBN, concorrente mais próxima destas emissoras, também "copia o áudio" da TV Globo, quando esta leva ao ar o Programa do Jô.

Quem já teve a "fascinante experiência" de ouvir algum destes programas no rádio, sabe que não é a mesma coisa que vê-lo na tv. Pode até quebrar o galho de quem no momento da exibição não está em frente de um televisor, mas é apenas um...paliativo.

Se fosse tão simples assim, bastaria dispensar as equipes esportivas das emissoras de rádio e ligar o áudio do televisor na hora das partidas de futebol, o que por si só já seria uma idiotice atroz, não é mesmo? Certamente, o "gênio" que teve esta ideia deve achar que rádio é "televisão sem imagem".

O que é mais lamentável é o desprezo que se tem pelo conteúdo de meio Rádio. Afinal, por que uma Rádio Bandeirantes precisaria restransmitir o áudio da Band TV? Será que um programa como o CQC tem uma audiência tão baixa que precise da audiência - e do prestígio - de uma emissora de rádio pra ser "ouvido"?

Infelizmente, reina no meio empresarial de comunicação no Brasil aquela mentalidade terceiro-mundista do século XX de se faturar mais, investindo o mínimo possível. E que investir, que apostar em um projeto promissor, é sinônimo de gastar. Querem que o CQC vá para as ondas do Rádio? Ótimo!!! então faça a lição de casa: montem uma equipe para fazer o programa CQC para o Rádio. Quiçá até contrate apresentadores diferentes somente para o Rádio. Assim, ganha o mercado de trabalho dos profissionais de rádio. E se os profissionais de Rádio ganham com isso, os ouvintes também ganham. E se os ouvintes tem programas de qualidade no ar, é lógico que o faturamento aumenta e quem ganha é o dono da rádio, não é mesmo?

Vejam o exemplo da Estadão / ESPN. Apesar de retransmitir alguns pouquíssimos programas da emissora da tv a cabo de mesmo nome - o que até se compreende, porque 80% dos ouvintes não têm acesso a ela, mas não se justifica - eles tiveram o bom senso de criar uma programação própria, com linguagem adequada ao Rádio e à tradição informativa de seus parceiros do Grupo Estado e à sua própria tradição de jornalismo esportivo.

Atentem também para o programa Pânico na TV - que por acaso fará parte da grade da Band este ano. Há quase 20 anos, ele existe como programa diário de humor e entrevistas na Jovem Pan FM. Em 2003 eles foram para a Rede TV!. Logo no início, seus criadores perceberam que não poderiam fazer o programa de Rádio numa televisão e mudaram radicalmente o formato. Desta forma, criaram uma atração totalmente nova e diferente do que se fazia na FM.

É bem verdade que o Pânico na TV conseguiu ao longo do tempo bater vários recordes negativos de qualidade, indo na direção diametralmente oposta do que foi seu ex-"arquirrival" e agora "companheiro de emissora" CQC (UIA!). Mas a qualidade deste não é o objeto de nossa análise aqui, neste momomento. Mesmo assim, seu exemplo quanto à adaptação de linguagem entre os meios de comunicação é válido.

Apostar no "contrabando" do som do programa da tv para o Rádio é ir de encontro a tudo que os fundadores do Grupo Bandeirantes sempre acreditou. Dá-se a impressão de que eles não acreditam na competência e talento de quem trabalha em suas emissoras de rádio, talvez achando que eles não sejam capazes de produzir um show radiofônico à altura do CQC ou de seus telejornais. Como ouvinte, eu digo que eles são, sim, não dentro das proporções de um programa de Tv transmitido para o Brasil todo. Porém, dentro do que é possível para uma emissora de Rádio com tantos anos de tradição é altamente viável.

Está na hora dos executivos e profissionais das empresas de comunicação perceberma que esta falada "sinergia" entre os diversos meios de comunicação é fato real. No entanto, há de respeitar as características intrínsecas de cada um, diante do momento histórico. Do contrário, "notícias" como estas não passaram de meros factoides.

Um comentário:

alex ci disse...

De fato: estimular produções radiofônicas é a grande iniciativa para inovar o meio, arejá-lo, manter sua importância até nossos dias inabalada.