Rádios não transmitem jogos do Metropolitano
do Diário Catarinense
Mesmo diante do gramado, há quem prefira ficar com o olho na bola e o ouvido no radinho. Para quem não sai de casa, mas também quer saber cada detalhe do jogo, a presença dele vira necessidade. Mas o companheiro indispensável do torcedor pode ficar sem voz no Catarinense.
As rádios de Blumenau não aceitaram, ontem, as exigências da Associação de Clubes de Futebol Profissional de Santa Catarina e decidiram continuar sem transmitir os jogos do Metropolitano (quarta-feira, contra o Brusque, quem não foi ao estádio já ficou sem saber do time). O que deve se repetir amanhã, quando o Metropolitano recebe o Criciúma, no Estádio Augusto Bauer.
Além das blumenauenses Nereu Ramos, Bandeirantes e Menina, emissoras da Capital também não concordaram com a determinação, que prevê uma espécie de permuta: em troca do uso da cabine e acesso ao campo, as rádios devem fazer 900 inserções (por clube) durante o campeonato. Estes comerciais seriam utilizados nos intervalos das emissoras. Em reais, segundo o diretor da rádio Nereu Ramos, Evelásio Paulo Vieira, significaria um custo de R$ 40 mil. As rádios entendem que, na verdade, a Associação de Clubes quer cobrar direitos de transmissão, algo não existe em nenhum lugar do Brasil.
Ontem, com representantes das três rádios de Blumenau que cobrem o Estadual, o assunto voltou a ser discutido. E nenhuma está disposta a ceder. Além de esperar pela posição das emissoras de Florianópolis, elas vão aguardar por um posicionamento da Associação Catarinense de Emissoras de Rádio e Televisão (Acaert), que deve entrar com ação judicial.
- Se não houver negociação, as rádios de Blumenau não vão transmitir o Catarinense. Até sábado vamos ter uma posição - afirma Vieira.
- A entidade lamenta uma atitude que demonstra a visão simplista da importância do trabalho dos profissionais do rádio, que nunca deixaram de cobrir as notícias do clube da sua região - disse, em nota, ontem, a presidente da Acaert, Marise Westphal Hartke.
Associação diz que a cobrança é justa
A Associação de Clubes de Futebol de Santa Catarina conseguiu, inclusive, uma resolução da Federação Catarinense de Futebol (FCF) para que pudesse controlar a entrada dos repórteres de rádio nos estádios. Segundo o assessor jurídico Luciano Favere, as emissoras podem até fazer as transmissões, desde que não usem as cabines.
- Os clubes detentores do mando de campo locam os espaços para as rádios em troca de inserções de mídia. As TVs também pagam pelo direito de transmissão - afirmou.
Segundo ele, o número - 900 inserções até maio, quando encerra o campeonato - não é excessivo.
- São aproximadamente seis por dia. As rádios que acompanham mais times terão de fazer mais porque têm mais mídia, porque transmitem mais jogos - disse.
No Metropolitano, o presidente Edson da Silva diz que tem de seguir a determinação da Associação dos Clubes e exigir que as rádios apresentem o contrato para que possam fazer uso das cabines. Mas ele torce para que haja um acordo.
- Acho que deve prevalecer o bom senso. O maior prejudicado com tudo isso é a comunidade - disse
Comentário: Aqui em São Paulo, o então presidente da Federação Paulista de Futebol, Eduardo José Farah, fez uma proposta semelhante, em 1991. A idéia não foi adiante, entre outros motivos, porque tal cobrança pelos direitos encareceria muito as despesas dos departamentos esportivos das emissora. E os donos de rádio, como se sabe, não são muito chegados em despesas. Um resultado prático dessa medida seria a dimunição mais radical do número de emissoras que transmitem futebol pelo rádio e o aumento do monopólio da informação.
É sabido por todos que o rádio é o primo mais que pobre dos veículos de massa e não detém uma fatia substiancial das verbas publicitárias. Então, que se cobre de quem tem mais para pagar: a televisão.
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Outro comentário: Esse País é engraçado mesmo: alguns setores da sociedade cobram dos profissionais de rádio ética na prática do jornalismo, lisura no trato da informação, etc. Agora querem que a gente pague para trabalhar. O pessoal das rádios de Santa Catarina prestam um grande serviço ao futebol local divulgando-os quase que diuturnamente, e de graça. Critica, aponta soluções, incentiva os torcedores a irem no estádio, e de graça. Agora querem que eles paguem pra fazer isso.
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Eu sou bem pragmático: se fosse dono de uma emissora de rádio lá, daria uma banana pra esses cartolas e iria transmitir qualquer outro certame esportivo, ou colocaria outra atração no ar. Aí sim eu queria ver o que eles iriam fazer. Quem trabalha com Comunicação Social neste país tem que começar a criar vergonha na cara e parar de se rebaixar pra certos setores atrasados da nossa bela sociedade. Além do mais, 90% da verba publicitária das emissoras decentes do interior do país - aquelas que não se submeteram ao dinheiro fácil de seitas suspeitas e políticos inescrupulosos - vem da publicidade e da promoção advindas das transmissões futebolísticas da sua cidade. Cobrar indiretamente os "direitos de transmissão" é jogar sujo com parceiros que sempre jogaram limpo e sempre foram leais. (Marco Ribeiro)