quinta-feira, 30 de abril de 2009

Na era da internet, rádio tenta sobreviver com os olhos no futuro

Ethevaldo Siqueira

Onde houver um alto-falante ou um par de fones de ouvido, o rádio aí estará, pois, hoje, mais do que nunca, precisa tornar-se mais vivo, mais forte e mais avançado. Eu vejo o caso da internet como um novo meio de se ouvir rádio. Um estudo recente (da empresa Arbitron) mostra que 42 milhões de norte-americanos ouvem rádio online, via internet, toda semana. Vejam que coisa boa: a internet amplia nossos horizontes. Ela é a continuação de nossas transmissões. Temos que dizer tudo isso ao nosso público.

Essa é a visão otimista do rádio, exposta por David Rehr, presidente da Associação Norte-Americana de Radiodifusores (NAB, na sigla em inglês), em seu discurso de abertura do NAB Show 2009 e em entrevista aos jornalistas que cobriram a abertura do evento, na semana passada. Para ele, o rádio e a televisão passam por mudanças empolgantes. São mudanças totalmente inesperadas, que parecem ocorrer num piscar de olhos e que dão a impressão de serem desestabilizadoras. Na posição em que me encontro, entretanto, posso afirmar que são oportunidades para serem agarradas e não para deixar escapar.

Rehr reconhece a inquestionável crise econômica por que passa o mundo. E o rádio, naturalmente, enfrenta grandes desafios. Mas, em contrapartida, aqui mesmo, neste NAB Show, estamos comprovando que os profissionais do rádio e da TV - os radiodifusores - estão forjando o futuro, aprimorando as inovações e criando múltiplas plataformas para a distribuição de seu conteúdo. Nossa estratégia é da convergência positiva, pois podemos transformar os desafios em novas oportunidades, como, por exemplo, a visão tridimensional, a incorporação da FM aos chips dos celulares e à exploração total das possibilidades da internet.

Na verdade, o rádio prepara-se para o futuro e para captar as múltiplas oportunidades da era digital. De um lado, as emissoras têm que enfrentar, sem qualquer hesitação, os desafios tecnológicos. De outro, enfrentar o desafio da tomada de duras decisões para assegurar o equilíbrio econômico e um futuro mais seguro de suas empresas.

O presidente da NAB discorda das pessoas que acusam o rádio de ser a mídia do passado, de não haver evoluído diante dos desafios da era digital, obsoleto e incapaz de enfrentar a concorrência dos tocadores de MP3 e de outras plataformas.

Diante de tantas ameaças e perigos, a NAB lançou há dois anos o projeto Rádio 2020 - uma iniciativa para que o valor do rádio continue a ser reconhecido também no futuro, como grande meio de comunicação que é. Nesse sentido, a grande preocupação da NAB é a revitalização do rádio, num projeto de 12 anos, com dois objetivos principais: de um lado, corrigir as eventuais distorções de percepção pelo público e, de outro, aprofundar o que poderia ser chamado de um caso de amor (ou love affair) entre o ouvinte e o rádio.

Outra preocupação do rádio norte-americano é tornar reconhecido pela sociedade o papel exercido por esse meio de comunicação. Esse é o objetivo central da campanha Rádio Ouvido Aqui, pela qual as emissoras relembram aos ouvintes a importância da radiodifusão para a comunidade local, para os negócios, para a indústria eletrônica e para a vida social em geral. Segundo Rehr, a campanha está, de certo modo, levando o rádio de volta às suas origens. Mas o importante, relembra, é ir além do discurso da campanha, e atingindo, efetivamente, esses objetivos.

Para outros líderes, a volta às origens significa resgatar um pouco daquela visão original dos pioneiros do rádio, ao nascer no começo do século passado, que era estar muito mais próximo do ouvinte, pela informação, pelo entretenimento, pela cultura, pela prestação de serviço, pelos debates de interesse social, pelas grandes causas, pela democracia, pela defesa do meio ambiente, pela paz.

A vitalidade do rádio pode ser medida pelo nível de audiência de 80% da população total dos Estados Unidos: quase 240 milhões de pessoas que sintonizam seus receptores a cada semana. Ao mesmo tempo, o rádio amplia sua audiência com os novos formatos e modelos proporcionados pela internet, nos podcasts, blogs e redes sociais.

Ainda na visão de David Rehr, as emissoras de televisão e a própria NAB fazem desde 2005 um esforço especial para completar a transição da TV analógica para a TV digital. O setor de televisão como um todo uniu-se com o objetivo de educar e informar o consumidor, numa campanha de mais de US$ 1 bilhão. Essa campanha educativa alcançou praticamente todos os espaços visíveis da America, garante Rehr: na própria TV, nos barcos, aviões, ônibus, nos pontos de coletivos, nos metrôs, no rádio, nos cartazes dos outdoors, na internet, nas maiores e nas menores feiras, num total de 8.300 eventos nos Estados Unidos.

O único problema ainda sem grande perspectiva e que não é enfrentado pela NAB é a questão da digitalização do rádio nos Estados Unidos. Por mais propaganda que se faça, por maior que seja o apoio da entidade, o padrão chamado HD Radio, da empresa Ibiquity, não decola e tem problemas de qualidade que o tornam inaceitável para os Estados Unidos e para o mundo. É mais fácil digitalizar o rádio pela internet do que pelas formas de transmissão tradicionais, via atmosfera.
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Esse texto foi publicado no Jornal Cruzeiro do Sul, de Sorocaba, um dos únicos veículos a trazer conteúdo sobre o NAB Show 2009. Ele traça uma perspectiva positiva para o rádio, mesmo com a crise mundial que interfere diretamente nas comunicações. Ao mesmo tempo, não tem boas notícias para quem torce pelo rádio digital, que não pegou nos EUA, com o seu excelente serviço de rádios por satélite.

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