A extinta revista Bizz, nessa fase que durou de 2005 a 2007, tinha uma seção que falava de LPs que não tiveram reedição em CD, CDs fora de catálogo e fitas demos. Chamava-se Tesouros Perdidos. Tive a oportunidade de emplacar uma resenha nela em maio de 2007. É do disco Suspeito, de Arrigo Barnabé, lançado origialmente há 20 anos. Aqui vai a versão original que eu mandei para a redação
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Saudado como um dos compositores mais inventivos dos anos 80, Arrigo Barnabé vivia um período de inquietação no final daquela década. Ele era um dos expoentes da “vanguarda paulistana”, movimento musical que, tendo como base a casa de shows Lira Paulistana, procurou trazer algo de novo à estagnada MPB da época. Seus dois primeiros LPs (“Clara Crocodilo” e “Tubarões Voadores”) surgiram com uma proposta estética peculiar, misturando elementos da cultura pop, como a linguagem das histórias em quadrinhos, com o dodecafonismo, técnica de composição da música erudita. Do ponto de vista artístico, era uma ruptura, mas os resultados comerciais não foram satisfatórios. Sem grana, Arrigo teve a percepção de que necessitava fazer algo mais profissional para sobreviver. Dentro deste contexto nascia “Suspeito”. Para torná-lo comercialmente viável, o jeito foi se aproximar do pop oitentista caracterizado por teclados e bateria eletrônica. Exemplo da faixa-título, um pop-brega à la Odair José, cujos versos de abertura são excepcionais: “Você tem medo de fazer amor comigo/Você tem medo de acordar com um bandido/E ver no espelho escrito com batom/ Tchau trouxa, foi bom”. Eclético, Arrigo antecipa em alguns anos as ondas da dance-music, (“Uga-Uga”), e do rap, (“O Dedo de Deus”). Outro destaque é “Êxtase”, um cruzamento entre o maracatu e os solos de guitarra típicos do rock de arena. Com “Suspeito”, Arrigo mostrou que é possível atender as necessidades do mercado sem fazer grandes concessões.
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“Suspeito” rompeu a barreira e conseguiu levar Arrigo às emissoras de rádio e a vários programas de televisão, em especial os de auditório. O “Perdidos na Noite”, da Rede Bandeirantes, foi um deles. Durante a apresentação, o apresentador Fausto Silva perguntou à sua platéia: “Vocês acham suspeito?”
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Em 1989, Arrigo foi “banido” das rádios depois de dizer a um jornal de São Paulo que não ouvia rádio e o achava chato. A Rádio 105 FM, de Jundiaí (SP), respondeu veiculando uma nota oficial: “um músico que diz ser o rádio muito chato não merece continuar no rádio". A trilha usada era “Suspeito”.
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Arnaldo Antunes, na época um titã, foi convidado pelo jornal “Folha de S. Paulo” a resenhar “Suspeito” para seu caderno cultural. Em seu texto, Antunes identifica na obra um procedimento que seria caro à Tropicália. "É através da paródia que Arrigo contamina de estranheza a banalidade", escreveu.
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O inconfundível timbre vocal de Tetê Spíndola é identificado em “Uga-Uga”. Uma das parcerias mais conhecidas entre Arrigo e Tetê é “Pô, Amar é Importante”, de 1986, que integra a trilha do filme “Cidade Oculta”. Outras vozes femininas ouvidas em “Suspeito” pertencem a Ana Amélia e Vânia Bastos.
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Vale dizer que Arrigo Barnabé voltou ao rádio depois de muito tempo, mas como apresentador do Supertônica, na Rádio Cultura FM.
Como eu acho que dificilmente este álbum terá reedição em CD, vai aqui um link onde você pode baixar suas canções. Divirta-se.
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