Nerone Simioli é diretor de uma rádio FM em Ariquemes, município de 85 mil habitantes que fica no centro de Rondônia, situado numa região rica em cacau e forte na extração de borracha. Ela tem programação própria, mesclando música e jornalismo, e sua receita com publicidade é de, no máximo, R$ 55 mil por mês. Depois de pagar os 15 funcionários e os demais custos de operação, não sobra muito.
Simioli anda preocupado com a digitalização do rádio. Diferentemente do que acontece com a televisão, que iniciará em dezembro suas transmissões digitais em São Paulo, o rádio é um meio de comunicação descentralizado e com imensa programação local. Os equipamentos necessários para entrar na era digital custam menos, mas as empresas também têm faturamento menor. Quando escolher o sistema a ser adotado no Brasil - os padrões existentes são o americano IBOC, o europeu DRM, o japonês ISDB e o coreano DMB -, o governo dará um prazo para a transição de tecnologias, que pode chegar a dez anos.
Mas os questionamentos são imediatos. "Na região Norte, não vejo isso como viável", diz Simioli, da Rádio Planície de Ariquemes. Seus cálculos preliminares indicam a necessidade de investir algo como R$ 300 mil para adquirir modulares digitais. E ele questiona se a atratividade do rádio digital, que dará qualidade de CD ao som de FM, conseguirá driblar a barreira da baixa renda de seus ouvintes. "A maioria do meu público é um pessoal do campo, da fazenda. Quem tem dinheiro para comprar um receptor de R$ 700?", pergunta Simioli, confiando na escala de produção para baratear os aparelhos.
O temor do rondoniense é a esperança de muitos. Para Daniel Pimentel Slaviero, presidente da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), a digitalização do rádio "não é uma questão de vaidade, mas de sobrevivência" para enfrentar a concorrência de tecnologias cada vez mais atrativas, principalmente para o público jovem, como os iPods. "O rádio precisa fazer essa transição para competir, em igualdade de condições, com todos os players que já estão em ambiente digital", disse o presidente da Abert, ontem, no 24º Congresso Brasileiro da Radiodifusão.
Slaviero defendeu novamente a adoção, no país, do sistema digital IBOC (americano). "É o único que atende às características do Brasil, operando em AM e FM na mesma banda e na mesma freqüência", justificou. Atualmente, nenhum país latino-americano oficializou a escolha de seu padrão de rádio, embora o México esteja bastante adiantado no uso do IBOC, informou Slaviero.
Fonte: Valor Econômico
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