domingo, 10 de outubro de 2004

O importante é que a nossa amizade sobreviva

Uma coisa que eu sempre digo que é importante pra mim são as amizades que faço. Seja as na própria família e seja com pessoas com quem mantenho contato virtualmente ou de corpo presente. Algumas amizades que tenho são bem mais fortes que outras, mas todas as pessoas que se lembram de mim ou por quem eu tenho alguma afeição eu considero especiais. Parei e pensei nisso depois que li a última coluna de José Paulo Lanyi no Comunique-se, onde ele reproduziu uma carta de uma jornalista brasileira, Tônia Azevedo, que está residindo em Londres, e escreveu sobre a dor que ela sentiu ao saber do assassinato do comentarista esportivo Pedro Luiz Júnior, de quem ela era muito amiga, mas com quem não tinha contato há muito tempo. Afora umas coisas que ela fala sobre fazer boicotes a filmes nacionais, que não vem ao caso neste momento, o depoimento dela me tocou muito. Mostra que neste mundo cada vez mais capitalista, ainda existem aqueles que dão valor à vida, ao ser humano. A seguir, o depoimento emocionado da jornalista Tônia Azevedo, que tomo a liberdade de pegar da coluna do Lanyi no C-se:

“Amigos, desde que cheguei na Inglaterra tenho lutado para mostrar às pessoas que conheço daqui que o Brasil não é feito apenas de futebol, samba, bundas e violência. Faço propaganda das belezas naturais e da espontaneidade do povo para tentar equilibrar esse quadro.

Meu protesto solitário inclui um boicote a filmes como ‘Cidade de Deus’, ‘Carandiru’ e afins, altamente elogiados mas que, para mim, propagam a imagem de violência que já se tornou uma assinatura para o País. Até carta para uma revista daqui já escrevi, pedindo menos estereótipo e mais justiça.

Hoje, essa mesma violência que eu abomino me atingiu. Perdi um grande amigo no Brasil por causa da violência. O radialista Pedro Luiz Júnior, de 51 anos, com quem trabalhei em 1995/96 na Equipe de Esportes da Rádio Gazeta AM, foi assassinado com três tiros quando chegava em casa no ultimo sábado, em Campinas. Ao que tudo indica ele foi vítima de um assalto. Mesmo testemunhas afirmando que o Pedro não reagiu, o assaltante atirou e fugiu.

A dor é muito, muito forte. O Pedro foi muito importante na minha vida, tanto pela sua pessoa quanto pelo que o período na Gazeta representou para mim. Foi uma época em que tive grandes alegrias, conheci muitas pessoas mas também descobri algumas coisas a meu respeito que não gostei mas fui forçada a aceitar, e ele estava lá para participar desse processo. As pessoas que participaram daquela época ao meu lado podem imaginar o que estou sentindo. O fato de estar longe, de não ter podido participar do sepultamento está tornando essa perda um pouco irreal. Eu não falava com o Pedro há mais de três anos (ele me ligou na véspera de eu viajar para cá) e desde o ano passado ele não me mandava nenhum e-mail. A última notícia que recebi dele foi de sua entrada na equipe da CBN Campinas.

Não tenho planos imediatos de voltar ao Brasil mas acredito que até o ano que vem devo estar por aí - se não definitivamente, porque ainda estou batalhando para conseguir ficar legalmente na Inglaterra e aproveitar as inúmeras oportunidades de crescimento profissional, pelo menos de férias, para rever família e amigos. Uma das coisas que planejava fazer era voltar aos estádios, tentar reacender a paixão pelo futebol que anda bem apagada já há alguns anos. Agora, não sei se vou conseguir fazer isso. Cada estádio de São Paulo, cada cabine de transmissão vai me lembrar do Pedro.

Junto com a dor dessa perda veio uma constatação. Eu percebi que sou péssima para manter o contato com meus amigos. A culpa por ter me afastado do Pedro está tão forte quanto a dor da perda. Sou egoísta o suficiente para admitir que não quero sentir essa culpa de novo. Entre os destinatários desse e-mail estão desde uma amiga de infância que conheci com seis anos de idade até amigos mais recentes, feitos na Inglaterra e que já voltaram para o Brasil. Tem gente para quem eu estou devendo respostas. Tem amigos de escola, faculdade e trabalho. Há pessoas que eu ‘roubei’ de e-mails recebidos de outros amigos e que até agora não tinham recebido nenhuma notícia minha- na maioria porque eu não tinha esses e-mails até recentemente. Para vocês, fica a promessa de eu escrever com mais detalhes, o mais breve possível.

Por favor, me ajudem a não perder o contato com vocês. Se eu demorar muito para escrever, me cutuquem. Amizade é uma das coisas da vida mais importantes para mim. Eu vou tentar ser mais constante. E, se vocês souberem de alguém que deveria mas não está na lista, sintam-se livres para passar meu e-mail. Hoje estou me sentindo arrasada, terrivelmente sozinha e precisando ter certeza de que ainda tenho amigos, mesmo estando longe.

Grande beijo e muitas saudades,
Tônia”.

Este depoimento me tocou porque eu me identifico muito com ele. Tem algumas pessoas que eu estimava muito e com as quais acabei perdendo contato ao longo do tempo, e que me rendem saudade quando lembro delas, como um primo que eu tinha que foi cruelmente assassinado quando eu era ainda gurizote, tinha meus 8, 9 anos, por volta disso, e uma tia minha que faleceu há poucos meses, a qual vi pela última vez há tanto tempo que nem lembro direito, embora a presença dela ainda esteja viva pra mim. Além, claro, dum caso que eu contei aqui na coluna duma gata que era muito especial pra mim, a qual perdi há pouco menos de seis meses, a qual tive praticamente desde meus 5 anos de idade. Também de pessoas que eu mal conhecia virtualmente eu sinto saudades, caso dum amigo que fiz uma vez numa sala de bate-papo de futebol, torcedor fanático da Portuguesa, e que morreu de causas naturais.

É por isso tudo que, volta e meia, quando eu envio uns e-mails pra minha longa lista de endereços, não o faço por mal. Faço também para manter contato com todas elas, nem que seja por meio de inúteis avisos de coisas relativas a meu site e coisa e tal. No fundo, o site nem importa neste caso. Receber um "olá, tudo bem?", um "como vai?" é o que me gratifica. Até eu sei que fico devendo em matéria de lembranças de algumas pessoas que tenho muita estima, não me comunico com elas como queria. Mas acho que agora não vou me furtar a fazer isso sempre que tiver vontade. Ler o depoimento desta jornalista me fez colocar como lema máximo uma frase usada pelo Sílvio Luiz ao encerrar suas transmissões de futebol: "o importante é que a nossa amizade sobreviva".

Por isso que deixo claro para todos aqueles com quem mantenho contato e todos aqueles com quem não tenho tanto contato, enfim, todas as pessoas com quem já me comuniquei ao menos uma vez: todas vocês podem se considerar amizades minhas. Porque se tem algo que eu considero importante, é um amigo. Mais do que um presente material. A prova maior foi no dia do meu aniversário. Só ganhei um presentinho bem simplezinho da minha mãe. Acham que eu reclamei? Que nada. Foi muito bom porque ela se lembrou de mim, e só isso já me encheu de felicidade. Assim como me encheu de felicidade as manifestações de parabéns que recebi de alguns amigos.

Então, você que lê esta coluna, que é sempre marcada pelo bom humor, pela brincadeira, pela crítica dura e constante e pelo sarcasmo, saiba que agora eu falo muito sério, quase com lágrimas nos olhos, quando digo: dê muito valor às pessoas que você quer bem e que te querem bem. Elas são a melhor coisa que pode lhes acontecer. Mais do que tudo. E vou fechar por aqui, porque tô sem lenço e as lágrimas já tão escorrendo, he.... Vamos lá, gente boa, que essa aventura chamada vida segue e não espera pela gente!

Grande semana a todos nós!
Edu Cesar
Editor-chefe de
PAPO DE BOLA - O SITE
www.papodebola.com.br

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