segunda-feira, 21 de julho de 2003

Reflexões a respeito da Rede Transamérica

Prezado Marco e amigos da Rádio Base,

Li algumas críticas a respeito da Rede Transamérica e também a reportagem da coluna de rádio da Folha de São Paulo a respeito da crise de audiência da rede. Escrevi no site Preserve o Rádio AM - http://www.preserveoam.hpg.com.br - um texto sobre a crise e ela se deve a uma crise de identidade que a emissora tanto quis passar, de tão oportunista que quis ser. Ela parece que queria se livrar da imagem que a consagrou, de rádio pop, numa forma mais ou menos parecida que a Rádio Cidade do Rio de Janeiro, que por sua vez teve a frustração de nunca ter tido a trajetória da Fluminense FM.

A Transamérica também quis ser "rádio alternativa", como a Cidade, no mesmo ano de 1995. Tinha até um lema, muito vago e discutível: "Aqui toca música de verdade". A programação não pegou, a rádio voltou ao pop em 1996 e parte de sua equipe levou sua experiência para a 89 FM, na época já caminhando para ser uma mera "Jovem Pan 2 com guitarras" (cujo auge foi convidar o produtor das coletâneas "As Sete Melhores" para comandar a chamada "rede rock").

Aí a Transamérica, em 2001, tentou ser uma "rádio AM em FM". Já havia tido alguma experiência parecida em 1993 e 1994, sem muito êxito. Mas em 2001 a estratégia foi mais ambiciosa, uma tendência das FMs politicamente corretas do Brasil, que imitam a programação das AMs para desviar a atenção dos ouvintes à Amplitude Modulada ou até mesmo às discussões sobre a implantação do AM digital. Com programas tipo "Transamérica Esporte Clube" e "Transnotícias", a Transamérica até endoidou, pois acabou aderindo à grande dicotomia das FMs comerciais, a dicotomia Jovem Pan 2 versus CBN (ou, para usar um paradigma mais político, "A Voz do Brasil").

As transmissões esportivas da Transamérica, como a maioria esmagadora das transmissões do tipo feitas (na base do empurra) em FM, mais parecem rádio AM dos anos 70. Vale lembrar que o "puro som" das transmissões esportivas em FM é mito: o som é tão ruim quanto as piores AMs e o contraste entre as vinhetas e a transmissão é terrível. Sem falar que os ouvintes das transmissões esportivas em FM são mas exibicionistas e arrogantes do que os de AM, estes mais pé-no-chão e menos afeitos a praticar poluição sonora até durante partidas noturnas (que às vezes vão até 23:30 h).

A Transamérica Pop ou Hits são apenas rótulos. A Rede não consegue dizer a que veio, e essa tentativa de agradar todos os públicos, papagaiando ora as rádios alternativas, ora as emissoras AM, sem qualquer adaptação ou investimento digno, é que provoca seu fracasso em todo o país.

Se era para investir numa programação AM voltada ao público jovem, por que não investir então numa rede própria na faixa da Amplitude Modulada? A Transamérica está perdendo a chance de revitalizar o rádio AM com uma programação jovem. Mas fica muito fácil e cômodo fazer "rádio AM" nas FMs, porque é mais barato e dá uma impressão de que o rádio FM ficou mais "certinho", metido a inteligente e falsamente revolucionário.

Por isso, não dá para chorar o leite derramado. A Transamérica, na tentativa de ser "vanguarda", perdeu o rumo. Terá que aceitar o baixo Ibope de sua programação AeMizada e mudar sua programação, deixando a Transamérica Hits para o perfil popularesco, a Transamérica Pop para o pop dançante e o pop-rock mais leve (tipo CPM 22, Matchbox 20, Bon Jovi) e criar uma rede de AMs - sem sucumbir à farsa chamada "transmissão AM+FM" - para abrigar a programação noticiosa e esportiva. Do jeito que está só vai dar Translanterna. Com a luz pifada, aliás.

Um abraço a todos do Rádio Base.

Alexandre Figueiredo
Rio de Janeiro - RJ

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