sábado, 19 de janeiro de 2008

Rádios de Santa Catarina não aceitam cobrança de taxa para transmitir jogos do campeonato local

Rádios não transmitem jogos do Metropolitano

do Diário Catarinense


Mesmo diante do gramado, há quem prefira ficar com o olho na bola e o ouvido no radinho. Para quem não sai de casa, mas também quer saber cada detalhe do jogo, a presença dele vira necessidade. Mas o companheiro indispensável do torcedor pode ficar sem voz no Catarinense.

As rádios de Blumenau não aceitaram, ontem, as exigências da Associação de Clubes de Futebol Profissional de Santa Catarina e decidiram continuar sem transmitir os jogos do Metropolitano (quarta-feira, contra o Brusque, quem não foi ao estádio já ficou sem saber do time). O que deve se repetir amanhã, quando o Metropolitano recebe o Criciúma, no Estádio Augusto Bauer.

Além das blumenauenses Nereu Ramos, Bandeirantes e Menina, emissoras da Capital também não concordaram com a determinação, que prevê uma espécie de permuta: em troca do uso da cabine e acesso ao campo, as rádios devem fazer 900 inserções (por clube) durante o campeonato. Estes comerciais seriam utilizados nos intervalos das emissoras. Em reais, segundo o diretor da rádio Nereu Ramos, Evelásio Paulo Vieira, significaria um custo de R$ 40 mil. As rádios entendem que, na verdade, a Associação de Clubes quer cobrar direitos de transmissão, algo não existe em nenhum lugar do Brasil.

Ontem, com representantes das três rádios de Blumenau que cobrem o Estadual, o assunto voltou a ser discutido. E nenhuma está disposta a ceder. Além de esperar pela posição das emissoras de Florianópolis, elas vão aguardar por um posicionamento da Associação Catarinense de Emissoras de Rádio e Televisão (Acaert), que deve entrar com ação judicial.

- Se não houver negociação, as rádios de Blumenau não vão transmitir o Catarinense. Até sábado vamos ter uma posição - afirma Vieira.

- A entidade lamenta uma atitude que demonstra a visão simplista da importância do trabalho dos profissionais do rádio, que nunca deixaram de cobrir as notícias do clube da sua região - disse, em nota, ontem, a presidente da Acaert, Marise Westphal Hartke.


Associação diz que a cobrança é justa

A Associação de Clubes de Futebol de Santa Catarina conseguiu, inclusive, uma resolução da Federação Catarinense de Futebol (FCF) para que pudesse controlar a entrada dos repórteres de rádio nos estádios. Segundo o assessor jurídico Luciano Favere, as emissoras podem até fazer as transmissões, desde que não usem as cabines.

- Os clubes detentores do mando de campo locam os espaços para as rádios em troca de inserções de mídia. As TVs também pagam pelo direito de transmissão - afirmou.

Segundo ele, o número - 900 inserções até maio, quando encerra o campeonato - não é excessivo.

- São aproximadamente seis por dia. As rádios que acompanham mais times terão de fazer mais porque têm mais mídia, porque transmitem mais jogos - disse.

No Metropolitano, o presidente Edson da Silva diz que tem de seguir a determinação da Associação dos Clubes e exigir que as rádios apresentem o contrato para que possam fazer uso das cabines. Mas ele torce para que haja um acordo.

- Acho que deve prevalecer o bom senso. O maior prejudicado com tudo isso é a comunidade - disse



Comentário: Aqui em São Paulo, o então presidente da Federação Paulista de Futebol, Eduardo José Farah, fez uma proposta semelhante, em 1991. A idéia não foi adiante, entre outros motivos, porque tal cobrança pelos direitos encareceria muito as despesas dos departamentos esportivos das emissora. E os donos de rádio, como se sabe, não são muito chegados em despesas. Um resultado prático dessa medida seria a dimunição mais radical do número de emissoras que transmitem futebol pelo rádio e o aumento do monopólio da informação.

É sabido por todos que o rádio é o primo mais que pobre dos veículos de massa e não detém uma fatia substiancial das verbas publicitárias. Então, que se cobre de quem tem mais para pagar: a televisão.

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Outro comentário: Esse País é engraçado mesmo: alguns setores da sociedade cobram dos profissionais de rádio ética na prática do jornalismo, lisura no trato da informação, etc. Agora querem que a gente pague para trabalhar. O pessoal das rádios de Santa Catarina prestam um grande serviço ao futebol local divulgando-os quase que diuturnamente, e de graça. Critica, aponta soluções, incentiva os torcedores a irem no estádio, e de graça. Agora querem que eles paguem pra fazer isso.

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Eu sou bem pragmático: se fosse dono de uma emissora de rádio lá, daria uma banana pra esses cartolas e iria transmitir qualquer outro certame esportivo, ou colocaria outra atração no ar. Aí sim eu queria ver o que eles iriam fazer. Quem trabalha com Comunicação Social neste país tem que começar a criar vergonha na cara e parar de se rebaixar pra certos setores atrasados da nossa bela sociedade. Além do mais, 90% da verba publicitária das emissoras decentes do interior do país - aquelas que não se submeteram ao dinheiro fácil de seitas suspeitas e políticos inescrupulosos - vem da publicidade e da promoção advindas das transmissões futebolísticas da sua cidade. Cobrar indiretamente os "direitos de transmissão" é jogar sujo com parceiros que sempre jogaram limpo e sempre foram leais. (Marco Ribeiro)

Um comentário:

J. Begatti disse...

Fim da picada essa dos cartolas de SC. Acompanho futebol em Minas há mais de 30 anos e sei como poucos que o futebol só tem esta paixão graças ao imaginário do torcedor alimentado pelas ondas do rádio. As emissoras catarinenses devem repudiar mesmo esta idéia sob pena dela extrapolar os limites do estado e chegar a outros.
J.Begatti - www.begatti.blogspot.com