terça-feira, 8 de julho de 2014

Copa no Brasil mostra os novos desafios da radiodifusão

  
Terminada a fase de quartas de final do mundial de futebol no Brasil, o balanço das emissoras de rádio paulistanas que compraram da FIFA os direitos de transmissão de torneio é desanimador: somente a “Rede Verde Amarela”, formada de pela Rede Bandeirantes de Rádio, Rede Band News FM, rádios Esporte FM e outras emissoras afiliadas, cumpriu integralmente a promessa de transmitir todos os jogos da Copa no Brasil.

Além de “cumprir o que vendera” a seu ouvinte, a Rede Verde Amarela (que até o começo deste ano tinha o nome de Cadeia Verde Amarela) soube coordenar o trabalho das várias equipes formadas nas cidades-sede dos jogos, com profissionais da área esportiva de suas principais emissoras. A coordenação da “cadeia” foi perfeita, inclusive nos horários de conteúdo local em São Paulo. Os “breaks” comerciais entraram e saíram nos horários certos, sem pulos ou solavancos, o conteúdo das informações que eram transmitidas sobre o campeonato foram bem coordenados, sem que houvesse repetição de informações, como costuma acontecer na concorrência. De longe, foi a melhor transmissão dos jogos do mundial até agora.

"Torre de Babel global" – Se sobrou organização e “know how” na cobertura das rádios do Grupo Bandeirantes, parece que faltou diálogo e planejamento nos trabalhos das duas redes do Sistema Globo de Rádio. Se nas  transmissões de Fórmula 1, sempre comandadas pelas Rádio Globo e CBN de São Paulo para todo o país, há uma cobertura muito bem desenhada (a exemplo do que também acontece na Bandeirantes / Band News), a coisa se complica – e muito – quando o assunto é futebol, mesmo quando é feita a cobertura de um só torneio, como a Copa ou o Brasileirão. A começar que cada praça principal das duas redes tem sua equipe de jornalismo esportivo, como é o caso de São Paulo, Rio e Belo Horizonte, ou seja, a transmissão da CBN de São Paulo é diferente de sua irmã paulistana Rádio Globo, que é diferente do da Globo carioca, que pouco compartilha conteúdo com a CBN do Rio, que não “conversa” com sua homônima de São Paulo. Temos aí pelo menos duas emissoras em cada praça transmitindo o seu próprio conteúdo que não é padronizado de forma alguma.

Essa balbúrdia não impede que alguns programas sejam transmitidos em cadeia na Rádio Globo. A sazonal “Futebol de Verdade”, que na edição da última segunda feira mostrava um bate papo entre os ex-jogadores Zico e Juninho Pernambucano, direto da Globo Rio, é também transmitido pela Globo paulista e demais emissoras dessa rede. Já a atração que o sucede, “Aqui é Nossa Casa”, possui versões regionais diferentes no Rio e em São Paulo, inclusive com apresentadores locais.

Nos tempos em que o narrador esportivo José Carlos Araújo comandava o departamento de esportes da Rádio Globo do Rio, o programa “Enquanto a Bola Não Rola”, aos domingos, das 12h às 15h, era não só transmitido para todas as emissoras, como contava com a participação ativa de comentaristas de São Paulo e Belo Horizonte ao vivo. Era um programa genuinamente “de rede”. Com a saída do radialista para a Bradesco Esportes FM, a rede “Rádio Globo Brasil” fora desmantelada – ainda que não contasse efetivamente com a sua participação – sobrando apenas alguns programas do fim da noite e da madrugada sendo transmitidos simultaneamente, sempre a partir da capital fluminense.

Na rede CBN, parte dos programas esportivos recebe um tratamento “nacional”, sendo transmitidos sem problemas para todo o país, a exemplo do que acontece com seus noticiários regulares. Entretanto, na hora da “bola rolando”, dificilmente tem acordo. Essa torre de babel e falta de coerência editorial confunde e irrita o ouvinte, sobretudo o da internet. Isso faz com que ele se afaste da CBN/Globo e prefira a concorrência.

A Jovem Pan também transmitiu todos os jogos somente no AM e na nova rede Jovem Pan News não mostrou nenhuma grande novidade em relação às coberturas de copas anteriores. Infelizmente a rede FM só foi acionada para transmitir apenas os jogos da seleção brasileira, contradizendo o que seu novo presidente Antonio Augusto de Carvalho Filho, o Tutinha, prometera recentemente de integrar ainda mais a programação das duas emissoras líderes – AM e FM – ainda mais porque “não dá mais para ficar tocando música apenas”. Perderam os ouvintes da frequência modulada, que não puderam ter acesso às transmissões pela internet no momento.

Pioneira em programação esportiva em FM, a Transamérica parece ter tido grandes dificuldades em realizar sua cobertura. Com apenas três narradores, a rede contou muito com a participação de repórteres das afiliadas nas cidades-sede. Entretanto, não veicularam todas as partidas ocorridas nos horários de seus noticiários. Os ouvintes da emissora, que eventualmente não estavam à frente de um aparelho de tv, perderam com certeza, a chance de acompanhar bons espetáculos de futebol.

Mundial pela internet – Quem tentou ouvir as transmissões da copa por seus celulares ou tablets não se deu muito bem. A maioria das emissoras – provavelmente por força de contrato – bloquearam seu sinal na hora dos jogos.  Inclusive a EBC, empresa estatal de rádio do governo federal que, na dúvida bloqueou a audição de todas as suas estações por qualquer meio, inclusive das emissoras que não iriam transmitir o evento. Para os usuários dos sites de suas emissoras, a Rede Verde e Amarela colocou um link de áudio exclusivo em seu player. Uma boa medida que não exclui nenhum perfil de audiência. Já no aplicativo “Band Radios” para dispositivos com sistema operacional android não há esta opção.

No portal da Transamérica, o Transanet.com, a programação das estações de suas três redes – Hits, Pop e Light, foi possível ao menos os jogos da seleção brasileira na íntegra, mesmo sendo os desenhos das páginas antiquados e um tanto quanto confusos. Entretanto, se o portal é antiquado e confuso, o aplicativo para android é simples, eficiente e muito fácil de ser usado. Pena mesmo não funcionar durante os jogos.

Se a confusão é tamanha em suas AMs e FMs, pelo menos nos portais do Sistema Globo de Rádio é possível se ouvir exatamente o que está indo ao ar em cada praça das duas redes, inclusive com imagens dos estúdios geradas pelas webcams instaladas nas cabeça das duas redes. Ao contrário da concorrência, o ouvinte pode acompanhar as jornadas esportivas na íntegra, sem bloqueios, inclusive nos aplicativos para android das rádios Globo e CBN.

Uma nova lição para se aprender – Mesmo com tantos acertos e muitos erros, o que se nota é que o modo de se ouvir rádio está mudando e que as formas de distribuição de conteúdo, também. Podemos dizer que, finalmente o rádio entrou no novo milênio. Não dá mais para falar em radiodifusão baseando-se apenas na irradiação pelas ondas “hertzianas”. Por meio da internet, todas as emissoras “off-line” podem ampliar seu conteúdo radiofônico por meio de podcasts, streamings exclusivos para a web, blogs, perfis e páginas de fã em diversas redes sociais, webcams que transmitem o que acontece nos estúdios das próprias rádios e os aplicativos para dispositivos móveis que reproduzem parte dessa imensa gama de opções de formatos para o ouvinte/leitor/internauta do rádio.

Essa copa do mundo mostrou ao mercado radiofônico que, não basta mais levar o som dos estádios para o ouvinte em sua casa. É preciso, sim, levar conteúdo multimídia onde ele estiver. Uma emissora de rádio não concorre mais apenas com o seu “vizinho de dial”. Agora ele tem de brigar com blogs, podcasts, perfis de redes sociais, webradios domésticas, sites de notícias grandes e pequenos e até mesmo portais de canais de tv aberta ou por assinatura que atuem no mesmo nicho de mercado que o seu. 

Os novos tempos exigem um hercúleo trabalho “multi-tarefa”, em que o radiodifusor tem de criar várias versões para o seu conteúdo em diversas plataformas de distribuição, além de cuidar da divulgação, promoção, “layout”, comercialização, administração e, claro, produção do seu conteúdo. Daqui a 4 anos, na Copa da Rússia, esse processo será cada vez mais complexo e diversificado, com o compromisso de "vender o que se promete". Melhor para o “ex-ouvinte” de rádio.

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