Foi anunciado com certa “pompa e circunstância” esta semana nas páginas da Rádio Globo / CBN nas redes sociais a contratação do jornalista Paulo Vinícius Coelho para reforçar a combalida programação esportiva.
PVC – como é mais conhecido – faz sucesso na TV por assinatura, graças à suas análises táticas das partidas e campeonatos que acompanha por meio de uma prancheta que leva o seu nome.
O novo comentarista do Sistema Globo de Rádio tem 47 anos, formou-se em jornalismo na Universidade Metodista de São Paulo e desde 1990 trabalhou em veículos como Diário do Grande ABC, Editora Abril, o diário Lance, Folha de São Paulo, entre outros.
Entretanto, PVC fez sucesso mesmo como comentarista dos canais ESPN, emissoras da Disney que operam nos sistema de TV por assinatura no Brasil. Sua única incursão pelo rádio foi durante a atabalhoada parceria entre a ESPN e a Rádio Estadão, em que levou seus quadros de sucesso da “telinha” para as ondas do rádio. De acordo com a wikipedia, em dezembro de 2014, saiu da ESPN Brasil, e transferiu-se para a Fox Sports, onde iniciou suas atividades em 1 de janeiro de 2015. Coelho também é autor de oito livros, em que aborda o jornalismo e o mundo dos esportes.
Ainda sim, é bom se pensar se, com este currículo, seria capaz esse profissional da imprensa esportiva ajudar a aumentar a audiência das rádios Globo e CBN no segmento. Só o tempo dirá. Antes de prosseguir, quero fazer uma ressalva. O Sistema Globo de Rádio aparentemente ainda consegue êxito na praça paulistana, graças ao bom desepenho comercial da CBN, mesmo com a recessão atual.
Recentemente, as emissoras do Grupo Globo demitiram metade do pessoal que compunha metade dos seus departamentos de esportes para fazer uma equipe única. O Sistema Globo de Rádio agira assim por que é “do mal”, como queriam crer alguns? Não, absolutamente. O fato é que, desde o fim da desastrosa Copa de 2014, a audiência das transmissões esportivas no rádio já não vem tão bem como outrora. Os motivos são diversos, desde a concorrência da tv por assinatura e da internet até a crise financeira que se instalou no país nos últimos dois anos. No caso do SGR em São Paulo, só a Hypermarcas, fabricante de produtos farmacêuticos, dona das marcas Epocler e Benegripe, se dispõe a anunciar no “futebol show” da Globo/CBN.
Queda no número de anunciantes - Outras emissoras também foram afetadas pela crise. A 105 FM, com sede em Jundiaí, interior de São Paulo, tida pelas pesquisas como líder de audiência do segmento nas regiões de Campinas e parte da Grande São Paulo, possuía, em 2013, três anunciantes em seus produtos “esportivos”: Fiat, Suvinil e Tim. Hoje conta apenas com a estatal paulista Sabesp.
A Rádio Transamérica, segunda colocada na audiência, chegou a ter cerca de trinta anunciantes patrocinando seus programas esportivos, em janeiro de 2015, luta para manter às duras penas para manter metade deles consigo, segundo levantamento feito pela Rádio Base.
A tradicional Rádio Bandeirantes foi a que menos perdeu em número de anunciantes: dos sete que possuía no início da temporada de 2015 somente Casas Bahia e os postos Ipiranga saíram. Entretanto, o humorístico “Na Geral”, que chegou a possuir seis anunciantes, possui apenas um, a Claro, que também patrocina outras atrações da casa como, por exemplo, a edição nacional do “Repórter Online”. A também veterana Jovem Pan, que na Copa do Mundo tinha seis patrocinadores, tem atualmente três, que também patrocinam praticamente toda a programação, inclusive a jornalística: Hypermarcas, Lojas CEM e Cerveja Proibida.
Os exemplos se seguem se formos verificar o que acontece no interior paulista e também nos outros estados. Porém, na Rádio Globo paulistana os efeitos da crise são mais sintomáticos. É possível ouvir sua programação ao longo do dia sem sequer ouvir o spot de um único anunciante. Até as transmissões da Fórmula 1 foram canceladas por falta de interesse dos ouvintes.
Está claro que trazer um nome de peso da TV – mesmo que seja das emissoras por assinatura - para o rádio é uma tentativa de “alavancar” a audiência que, comercialmente, nunca rendeu bons frutos, ao menos na Globo. Em 2005, o hoje deputado federal Jean Willys - só para ficar num exemplo bem lacônico - que à época ganhara o reality show “Big Brother Brasil”, foi um fracasso de “público e bilheteria”, com um pretensioso programa vespertino dedicado ao público feminino.
Também há a incerteza de que ao trazer PVC ao seu microfone, o futebol Globo/CBN conseguirá subir o número de ouvintes e consequentemente, atrair de volta os anunciantes e patrocinadores. Diferentemente do que ocorre em sua praça-sede no Rio de Janeiro, a Rádio Globo transmite apenas em AM, o que prejudica muito as vendas de seus espaços dedicados à publicidade na programação.
Como o atento leitor pode perceber, o que regula as atividades em um mercado como o radiofônico – e este colunista pretende insistir cada vez mais nessa premissa – é o desempenho econômico das emissoras de rádio.
O jornalista Luis Antonio Mello, que em 1982 implantou uma programação voltada ao rock na Rádio Fluminense FM de Niteroi (RJ), chegou à seguinte conclusão em seu livro “A Onda Maldita”, que conta a história de sua atuação naquela emissora: “Se o faturamento é alto e a audiência também, podem ser que a direção de programação e a comercial fiquem; se o faturamento é alto, mas a audiência, baixa, cai a programação; faturamento baixo e audiência alta, quem dança de novo é o pessoal que faz o conteúdo; agora se a rádio vai mal de todo jeito, roda todo mundo, mas quem faz o conteúdo é o primeiro a sair.”
Isso é fato. Mello sabe muito bom do que está falando. Durante muitos anos, a Fluminense foi campeã de crítica e audiência - fez e fará parte da história da música brasileira, ao lançar dezenas de bandas de rock que surgiram nos anos 80 e que viraram ícones das gerações posteriores - mas nunca teve um projeto comercial consistente com sua qualidade e importância.
De nada adianta um programa bem produzido, bem gravado, bem editado e exibido, se não atrair o público alvo de modo satisfatório. Dificilmente uma empresa se arriscará a veicular sua marca ou produto, ainda que seja um lançamento, a um conteúdo que ninguém ouve. E sem patrocínio nenhum veículo de comunicação sobrevive, a menos que receba subsídio público. Mesmo assim estes também precisam mostrar a que vieram.
A verdade é que o empresário de radiodifusão, de um modo geral, ainda não entendeu que é preciso fazer um planejamento comercial antes de se lançar um novo produto, ou seja, é preciso saber como esse novo programa, essa nova atração se manterá no ar, mesmo antes de lançá-lo. Uma exceção que confirma a Bandeirantes, cerca de 90% dos programas “não-jornalísticos” – cuja dinâmica de comercialização é um pouco diferente possuem pelo menos um patrocinador que anuncia ao longo da temporada.
Talvez se a Globo atentar a esses importantes detalhes, com certeza sairá da crise bem antes do que as demais.
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