sábado, 24 de março de 2012

O que um banco tem de entender antes de colocar sua emissora de rádio no ar

Bradesco consolida ações de marketing em vista dos Jogos Olímpicos

Do Portal Jornal do Brasil

O Projeto Olimpíadas do Bradesco, ação de marketing do banco, que visa o grande evento esportivo em 2016, será administrado pela agência WMcCann, que venceu a concorrência pela conta da instituição. Também foram ouvidas propostas da AlmapBBDO, que atende a conta da Bradesco Seguros; da Neogama/BBH, até então principal agência da marca; da Y&R, que cuida de uma menor fatia da verba do banco; e da Ogilvy. A disputa foi intermediada pela consultoria SPGA, com apresentações realizadas nestas segunda, 19, e terça, 20.

Além de nova agência de publicidade, o Bradesco anuncia o lançamento da Rádio Bradesco Esportes FM, primeira rádio do País com programação voltada para divulgação de todas as modalidades esportivas. A instituição bancária é a empresa que apóia a maior quantidade esportes olímpicos no pais, sendo responsável por patrocinar as equipes brasileiras das modalidades de desportos aquáticos, remo, basquete, judô, vela e rugbi.

“A proposta da Rádio Bradesco, que é um projeto em conjunto com o Sistema Bandeirantes de Rádio, é ser um espaço voltado para a divulgação de múltiplos esportes, com foco especial nas modalidades olímpicas”, comenta Jorge Nasser, diretor de marketing do Bradesco.

As rádios entrarão no ar em breve, no dial 94,1, em São Paulo e 91,1, no Rio de Janeiro. Além de eventos esportivos de modalidades como Boxe, Vôlei, Corrida, Basquete, Natação, Tênis, Automobilismo, Remo, Vela e Futebol e debates sobre assuntos da área, a programação será mesclada com matérias sobre qualidade de vida, programas de humor e uma seleção de músicas inseridas na programação.

“A rádio Bradesco Esportes estará preparada para fazer a cobertura dos grandes eventos esportivos, como as Olimpíadas e Paralimpíadas, Copa do Mundo de Futebol, Jogos Panamericanos e muitos outros”, garante Nasser.

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O texto acima deu a entender que a Rádio Bradesco Esportes FM durará apenas até o fim da Olimpíada do Rio de Janeiro, daqui a 5 anos. Não me parece que será um projeto permanente. A exemplo dos antecessores, essa rádio vai ser usada como mídia de aluguel de um projeto de marketing maior, como se fora um veículo popular qualquer. Poderá se inaugurar aí a nova era do "arrendamento radiofônico". Porém, desta vez, em vez de ceder seu horário para igrejas e denominações religiosas diversas, essas rádios customizadas terão inquilinos mais chiques, mais organizados, com mais "know-how" e mais endinheirados.

Sem dúvida, é uma grande saída para os concessionários que não querem investir na sua emissora de rádio e, ainda por cima, vão ganhar o dinheiro do aluguel sem esforço algum. Mas este é um aspecto que peço licença ao leitor para discutir em outra oportunidade.

Ninguém duvida que a "formatação" será a perfeita, espera-se também que o salário de quem for trabalhar lá estará acima de que o mercado oferece. Afinal, é um banco. E por mais que ele gaste com tudo o que for necessário para equipar a nova estação, será uma pequena parte do gasto total com este projeto.

A principal questão é se o fato do Bradesco ser a "proprietária" da emissora vai tirar a liberdade de ação do seu corpo editorial? Os jornalistas - supondo que o projeto preveja uma redação de jornalismo que esteja à sua altura - poderão criticar eventuais parceiros da instituição que lhes paga o salário? Poderão apontar falhas dos organizadores das Olimpíadas ou ainda questionar a falta de apoio do governo aos atletas? Esta aí outro tema de discussão a ser debatido oportunamente.

Eu suponho que os idealizadores do projeto na agência W/Mcann tenham pensado nesta emissora não só como uma "ferramenta de apoio" a todo esquema de marketing sugerido, mas também como uma rádio que disputará ouvintes dentro do radiojornalismo esportivo com emissoras de peso e tradição, inclusive da própria parceira, Bandeirantes. Precisa contar ainda com uma programação musical de qualidade, condizente com a proposta.

Apesar das incongruências e incoerências, o mercado de rádio em São Paulo e no Rio de Janeiro está repleto de empresas e profissionais altamente competentes e competitivos, que não vão deixar a nova emissora conquistar seu espaço. A guerra pela audiência será mais feroz ainda. Rádio não é uma mídia para amadores. O ouvinte não é mero espectador do espetáculo.

A grande contribuição que a Rádio Bradesco Esportes FM poderá trazer é acirrar ainda mais a disputa pelos corações e mentes dos ouvintes, que não são meros espectadores. Do contrário, apenas ocupará um precioso espaço no dial. Os exemplos anteriores e os atuais estão aí para serem observados. Só errará mais uma vez quem quiser.

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