Sem muito alarde, a Rádio USP colocou no ar o programa Recordações by Night. A atração vai ao ar aos domingos, a partir das 22h. O programa até que é bacaninha. Tem a excelente condução de Rui Monteiro, usando toda a experiência adquirida nas FMs jovens. Tem flash backs dancantes dos anos 70 e 80. Tem até um quadro em que uma carta de amor (pode ser amor de amigo, amor de mãe, de filho, etc.) é lida pelo apresentador. Parecia que eu estava ouvindo uma FM dos anos 80. É aí que reside o problema de Recordações by Night. Ele é bom e correto naquilo que se propõe, mas fica uma dúvida no ar: será que ele tem o perfil da Rádio USP?
A Rádio USP é uma emissora ligada à Univerisidade de São Paulo. Reproduzo aqui trechos de um texto publicado em seu próprio site:
A Rádio USP de São Paulo foi criada em 11 de outubro de 1977, preenchendo o espaço vazio de emissoras educativas em FM na Grande São Paulo e, ao mesmo tempo, proporcionando um canal de comunicação entre a Universidade de São Paulo e a sociedade.
Ao longo de seus 27 anos, a emissora recebeu diversos prêmios por sua linha de trabalho diferenciada.(...)
A programação musical vem se caracterizando como uma opção à segmentação das atuais emissoras de FM, oferecendo ao público o melhor de todos os ritmos no panorama musical brasileiro, da MPB ao Rock, do Jazz ao Samba e é uma das poucas emissoras que inclui Música Instrumental em sua programação principal. A Rádio USP difunde ainda gêneros musicais que não encontram espaços nas emissoras comerciais como, por exemplo, a Música Étnica, a Música Erudita, o Jazz e o Blues Internacionais.
O Recordações by Night vai justamente no caminho inverso da segmentação que a Rádio USP tanto se orgulha em seu site. Aliás, ele não está sozinho. O Non Stop Music toca flash backs que estão presentes em outras emissoras dedicadas ao estilo como a Alpha. Além disso, está num horário bastante interessante: as 19h, de segunda a sexta, pegando um público com mais de 30 anos que está voltando para casa em seus respectivos automóveis.
Reitero: nada contra o conteúdo ou os profissionais que produzem e apresentam esses programas. Contudo, é triste ver que a Rádio USP está abrindo mão dos princípios que a fizeram ter uma audiência para lá de qualificada nos anos 80 e 90.
Até se justificaria essa busca por audiência quantitiativa se a Rádio USP fosse uma emissora comercial, mas não é o caso. Ela tem espaço para errar, para acertar, mas principalmente para ousar. É o que se espera de uma rádio de universidade.
Nunca é demais lembrar do exemplo das college radios norte-americanas, que ajudaram a fomentar o rock independente como o conhecemos hoje. Nunca é demais lembrar da definição que o amigo Roberto Maia deu sobre esse tipo de rádio:
"(o conceito de college radio) varia muito, mas a questão básica é que é uma coisa para o campus. Ela tem permissão oficial para funcionamento. É tudo feito pelos próprios alunos. O modo de transmissão pouco importa, pode ser por AM e até mesmo por fios mesmo que levam a programação para ser veiculada em caixas de som dentro dos dormitórios dos estudantes, que é onde eles passam a maior parte da vida deles. Isso é uma coisa interessante até porque é um país mais frio, as pessoas lá são mais estudiosas (risos). De uma certa maneira eles levam muito a sério esse período na universidade, assim como eles levam muito a sério o lazer na universidade. Tem desde transmissão por onda eletromagnética até transmissão por cabo, mas o importante mesmo é que está todo mundo ouvindo uma mensagem, isso é dinâmico"
Fica a proposta: por não deixar de vez a Rádio USP na mão daqueles que podem voltar a fazer a emissora ter um pouco de ousadia: seus alunos. (Rodney Brocanelli)
Um comentário:
A radio excepcional pelo bom gosto e agora nao consigo ficar sem ouvir as musicas (otimas!)
Parabens ao grupo idealizador.Sou fa de carteirinha e recomendo!
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