sábado, 13 de fevereiro de 2010

Muito além do carnaval e do futebol

Este redator que vos escreve esteve ouvindo a cobertura da Jovem Pan e realmente foi a melhor transmissão durante a madrugada. Wanderley Nogueira, Flávio Prado e toda a equipe de repórteres entrevistaram personalidades do mundo do samba, foliões e autoridades presentes como o ministro dos Esportes e o ministro do Turismo.

Durante a conversa eles não se acanharam em perguntar aos dois sobre os preparativos para a Copa do Mundo e para as Olímpíadas de 2016. Como bons jornalistas que são, foram além e os questionaram sobre a infra-estrutura que o Brasil oferece aos turistas que deverão vir a este evento. Também não se fizeram de rogados e "cobraram" explicações sobre o superfaturamento que teria ocorrido na época dos Jogos Panamericanos, em 2007, no Rio. E para coroar conversa tão produtiva, os repórteres e entrevistados discorreram sobre a situação do transporte aéreo brasileiro.

Pode ser que alguns considerem que o pessoal da Jovem Pan tenha "extrapolado" na cobertura. Não é nada disso. Reafirmo que a Jovem Pan cumpriu sua missão primordial como emissora de rádio e concessionária de serviços públicos: informar, analisar, questionar, cobrar e promover o debate de assuntos de interesse público. É provável que algum leitor diga que eles se "esqueceram do principal", que era os desfiles das escolas de samba ali no local. Mas, como ouvinte, não me senti mal informado um só instante sobre o que acontecia na passarela do samba.

Flávio Prado e Wanderley Nogueira fazem parte de uma ínfima minoria de jornalistas, que conseguem ir além do assunto que cobrem e exercem seu dever profissional de abordar assuntos mais relevantes ou abrangentes quando a situação requer. Não enxergo isso na grande maioria de seus colegas que, por questões de sobrevivência comercial, interesses não confessados ou até falta de preparo ou estudo adequado - o que é mais provável, se limitam a comentar o "esporte" dentro das quadras, das pistas, ou dos campos de competição.

É preciso compreender que o Esporte, a Cultura são assuntos que devem ser tratadas com tanta seriedade jornalística quanto os demais, ainda mais quando envolve dinheiro de nossos impostos, incentivos fiscais, construção de praças esportivas com dinheiro público ou a promoção e o incentivo à práticas esportivas de atividades culturais para crianças, adolescentes e adultos.

Ouço muito pouco isso no rádio. Apenas em emissoras como a Jovem Pan, a CBN ou a Eldorado esses assuntos são tratados pontualmente. Em outras emissoras, o que mais ouço é um desfile de palpites de "arbitragem pós-jogo", desfiles intermináveis sobre conhecimentos enciclopédicos de futebol e muito "preenchimento de tempo com comestíveis embutidos".

Mas talvez não seja culpa de quem milite no meio esportivo. O próprio esporte, sobretudo o futebol, é assim. A última vez que se promoveu um debate sério sobre o futebol foi na época da "Democracia Corintiana". Isso foi tão importante que só poderia vir mesmo do clube mais popular da maior cidade do País. Infelizmente, muitos torcedores, jornalistas, dirigentes, jogadores e pessoas interessadas em que o futebol não evoluísse, fizeram com que a idéia fosse assassinada e enterrada junto com o clamor pelas "Diretas Já", principal fonte de inspiração do "levante" corintiano.

Lá se vão 25 anos e o futebol não evoluiu. Pelo contrário, ficou mais "corrupto", mas sem graça e menos brilhante. Nem a seleção brasileira já empolga como outrora. A crônica esportiva - em sua maioria, ressalva-se sempre - discute futebol como se 90% dos atletas profissionais do Brasil não ganhasse menos de um salário mínimo; como se os grandes clubes não devessem VERDADEIRAS FORTUNAS de impostos ao fisco; como se as grandes transferências de jogadores para o exterior não fossem envoltas em mistério sobre o quanto é recolhido de imposto de renda; como se fosse natural pessoas que nunca fizeram nada pelo esporte, perpetuarem-se durante anos no comando das federações e confederações; como se os dirigentes não usassem o esporte como moeda de troca política em suas cidades ou em seus estados; como se as grandes redes de televisão não submetessem o horário dos jogos unica e exclusivamente à sua grade de programação e sim ao que fosse melhor ao torcedor.

Outro ao qual se deve elogiar o empenho em transmitir o carnaval e revelar todos os detalhes que cercam este evento é Moisés da Rocha e a equipe da USP FM. Mesmo não contando com os recursos e facilidades de emissoras maiores, eles foram ao sambódromo e mostraram o espetáculo na íntegra. Se não puderam ir além da cobertura, como a Pan, não tem o menor problema. Afinal, o grande mestre Moisés é o maior divulgador do samba e das escolas no rádio de São Paulo durante o ano inteiro, tendo uma vida dedicada a isso.

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