segunda-feira, 15 de junho de 2009

Locutora escolhida pelo povo

Vou fazer um ctrl-c/ctrl-v dos patrícios do Público. A RFM, "rádio top de audiência em Portugal, do grupo Renascença", escolheu a locutora do seu programa de maior audiência atravéz de um concurso. Disputando com 600 "locutoras", a vencedora foi...

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Esta é uma história sobre a procura de um sonho. E o sonho é fazer rádio. Era um sonho partilhado por 600 pessoas movidas por um anúncio a um casting que procurava uma voz feminina para brilhar, durante três meses, no horário mais ouvido da rádio com maior audiência do país. Mas só uma o alcançou. Mariana Alvim, 30 anos, foi a vencedora.

O desafio lançado pela RFM, a rádio top de audiência em Portugal, do grupo Renascença, era dirigido aos ouvintes. Queriam uma nova voz feminina para substituir a animadora do Café da Manhã, Carla Rocha, em licença de maternidade, até Setembro. E não havia pretensão de escolher uma voz já conhecida, ou com experiência de rádio. Apesar de elas também terem aparecido.

A escolha decorreu em Lisboa, Coimbra e Porto e de 600 candidatas apenas ficaram três. José Coimbra, a voz masculina do Café da Manhã, com 20 anos de rádio, não se lembra de ver alguém ser escolhido, através de um casting, para um lugar de tanta exposição na rádio. “Nunca vi ninguém ser escolhido assim. Mas é bom, é uma maneira de dar uma oportunidade a quem não é do meio. É claro que apareceram muitas pessoas de outras rádios. Só de uma vieram 10, mas não digo de onde.”

Sandra Nazaré, 34 anos, nunca fez rádio. Mas gostava de fazer. Cada vez que ia com o carro à inspecção, o que acontecia uma vez por ano, um dos empregados do centro de inspecções insistia que a psicóloga tinha voz de rádio e que devia tentar a sorte aos microfones. Quando ouviu o anúncio da RFM sobre o casting para o Café da Manhã, lembrou-se do senhor do centro de inspecções e decidiu tentar a sorte. “Estive seis horas em pé à espera. Mas nunca na vida pensei que esta brincadeira fosse parar aqui.” Foi uma das três seleccionadas. Ainda fez uma semana de programa ao lado de José Coimbra, o que a obrigou a acordar todos os dias às 5 da manhã e a tirar uma semana de férias. “Foi a semana de férias mais bem passada que eu tirei. Já acordei tantas vezes tão cedo para coisas tão chatas... esta semana foi um prazer.” A experiência não passou daí, porque acabou por não ser a finalista mais votada pelo público e pelos profissionais da RFM. Voltou à psicologia e ao emprego das 9 da manhã às 6 da tarde. Mas esteve quase lá.

Rebeca Venâncio estava na fase final da licenciatura, preocupada em arranjar emprego e a enviar currículos. Reconhece que não apanhou o anúncio do casting da RFM. Mas os amigos acabaram por pô-la a par da oportunidade. Depois dos testes de voz, de contar anedotas em inglês e de descobrir que gosta mais de se ouvir em rádio do que de se ver em televisão, onde já tinha feito um curto estágio de três meses, conta que saiu das provas de selecção sem noção de a coisa lhe ter corrido bem ou mal. Mas ficou a admirar mais o trabalho da equipa da RFM, de quem era ouvinte “desde pequena”. “Descobri que ali se faz serviço público”, diz, sobre o trabalho de José Coimbra e Carla Rocha no Café da Manhã. No fim foi uma das três seleccionadas para fazer uma semana de rádio ao lado de José Coimbra: “Foi uma surpresa enorme. Não estava nada à espera.” E da semana em que esteve ao lado de José Coimbra, de quem se diz impressionada porque “tem quase tantos anos de rádio como eu de vida”, só afirma: “Foi muito stressante mas muito divertido. São todos francamente bem dispostos, mesmo às seis da manhã. Saía de lá com dores nas bochechas de tanto me rir”, conta Rebeca, a quem o país passou a chamar “Becas”, como acontecia só entre a sua família: “A minha mãe teve de partilhar a Becas com o país inteiro por uma semana.”

E a vencedora é...

Mariana Alvim, 30 anos feitos em directo na RFM, já tinha uma carreira de sete anos em marketing quando um dia acordou e decidiu mudar de vida: “Pai, mãe, não sou feliz, vou largar o marketing. Optei sempre pela porta ao lado. Agora é a vez da rádio.” Fez um estágio em televisão, passou por uma curta experiência de rádio, na Cidade FM. E acabou no guionismo, a integrar a equipa responsável pelos textos da série juvenil Morangos com Açúcar, da TVI. Mas o sonho era fazer rádio.

Já casada e com um filho pequeno, conta que deixou uma vida confortável, que passou a andar de transportes e a levar o almoço de casa para perseguir o sonho de fazer rádio. Foram os amigos que a alertaram para o casting da RFM para substituir Carla Rocha por quatro meses. Foi às provas de selecção e confessa que até lhe correu tudo bem. “Fui eu própria. Eram mais de 600 candidatos e cheguei aqui”, disse depois de já ter sido seleccionada como uma das três candidatas semifinalistas. Mas a grande surpresa chegou pelas 9h45 do dia 29 de Maio.

O anúncio da vencedora do casting, a que a RFM chamou “curso Carla Rocha”, foi feito por uma voz com sotaque alemão. Gabriela Schüster, 54 anos, foi uma das participantes do casting. António Mendes, director da RFM, diz que ficou conhecida pela candidata “sei que não vou ganhar por causa da minha pronúncia mas não vou desistir”. Foi esta a maneira como Gabriela se apresentou na selecção. “Respondemos-lhe: ‘Deixe lá, não se nota nada!’”, diz António Mendes, rindo sobre o episódio. “Simpatizámos muito com ela, estava sempre a rir. E então lembrámo-nos de a convidar para anunciar a vencedora.”

“E a vencedora é... Mariana Alvim!” Fez-se silêncio. Mariana não queria acreditar. Acabava de alcançar o sonho. E partilhou esse momento com um auditório de quase dois milhões de ouvintes, os mesmos que até Setembro contarão com a sua voz e boa disposição todas a manhã.

O melhor lugar

“Decidimos transformar esta licença de maternidade da Carla Rocha numa oportunidade para alguém. Escolher uma voz feminina da estação para o lugar da Carla não fazia sentido. Todas as vozes da RFM já têm o seu espaço diário fidelizado. E é uma situação temporária. Mas não quer dizer que toda a gente chegue hoje assim, por casting, à rádio”, diz António Mendes, defendendo que a velha maneira de chegar à rádio, de começar numa rádio local pequena, para aprender, e ir evoluindo profissionalmente até chegar às grandes estações, já não é o mais comum. “Muita gente vem das universidades e acaba por ficar. Isso é o que mais acontece agora.”

O que faz uma estrela de rádio? “A estrela de rádio que gosta de passar músicas acabou. A rádio hoje é outra. O que procuramos são bons contadores de histórias. Alguém que consiga pôr as pessoas a rir e a chorar. É isso que procuramos.”

Mariana Alvim teve sorte, diz José Coimbra, há sete anos à frente do Café da Manhã ao lado de Carla Rocha. “Este é o melhor lugar para fazer rádio. E a melhor hora, em prime-time. Aqui temos uma liberdade que durante o resto do dia não existe. Conversase mais, fala-se com os ouvintes em directo...” E não nega que ter alguém amador ao lado, depois de sete anos numa rotina ao lado de uma profi ssional, vai ser um grande desafi o. “Eu e a Carla já temos uma relação mais próxima que certos casais. Agora tenho de estar com os sentidos mais apurados, tenho de me proteger e proteger a pessoa que está ao meu lado, o que sinto que faz de mim um melhor animador”, diz, frisando que o objectivo era chegar com vida ao final das três semanas de experiência em que recebeu cada uma das três finalistas do casting. “Se não fui internado, acho que vai correr bem até Setembro.”

Sobre o segredo do programa de rádio mais ouvido do país, José Coimbra não revela qual é: “Isso era o que os outros queriam saber!” Mas dá uma pista. “Se calhar passa por trabalharmos tanto hoje como no primeiro dia, quando tínhamos metade da audiência que temos hoje. E temos uma equipa coesa, aqui não há instabilidade. Porque é que o Futebol Clube do Porto ganha todos os campeonatos?”

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