Hoje a Gazeta Mercantil publicou uma matéria do New York Times sobre uma investigação que será feita na Arbitron, que é o "IBOPE" para as rádios norte-americanas.
Lá eles usam o PPM (explicação abaixo, na matéria), que o "nosso" IBOPE tentou emplacar por aqui também. Eu e o Marcos Ribeiro, há uns quatro anos, fomos convidados para uma coletiva de imprensa na sede da empresa que monopoliza as medições de audiência em São Paulo. Nessa coletiva, conhecemos o PPM e seu funcionamento. A idéia nos foi vendida como uma grande novidade, que iria resolver o "problema" que é medir a audiência em rádio e substituiria a obsoleta pergunta "que rádio você ouve?". Os contras, que também foram apresentados na coletiva, davam conta da perda de privacidade do ouvinte que portasse o aparelho, já que seria possível saber que rádio ele estaria ouvindo a qualquer momento e talvez até a sua localização. Então, por isso, o projeto foi abortado.
A matéria é um pouco longa, mas reproduzo em sua totalidade. Quem quiser ver na página original, o link é esse. Acho que ela serve para mostrar a importância e a seriedade que é medir o nível de audiência de alguma coisa, seja rádio ou TV. Com essa medição tosca que é feita aqui no Brasil (em São Paulo, mais especificamente), que publicitários compram com os olhos fechados e total confiança, muitas atrações boas são tiradas do ar por falta de patrocínio ou de "audiência", um número que é divulgado de três em três meses e que, na minha opinião e na opinião de muita gente que lê esse blog, não tem a mínima credibilidade.
E sem esse papo de "os americanos são muito melhores", ok? Não é isso, de forma alguma. Aqui nós temos tudo para sermos os melhores também. Mas é cômodo ficar do jeito que está. É cômodo fazer uma pesquisa sobre rádio do jeito que ela é feita, com uma metodologia que as próprias pessoas do IBOPE com quem conversamos têm dificuldade de explicar e se fazer entender.
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Empresa que mede audiência de emissoras será investigada
The New York Times, 16 de Setembro de 2008 - O gabinete do procurador geral de Nova York informou que abriu uma investigação para analisar a maneira como a Arbitron, que mede a audiência para as estações de rádio, distribui os aparelhos chamados Portable People Meters (PPM), que as pessoas carregam consigo, e que podem captar os sinais das emissoras de rádio que elas estão sintonizando.
Os críticos acusam a Arbitron, que está trocando um sistema no qual as pessoas mantêm diários pessoais do que ouvem nas rádios, de não colocar PPM nas mãos de um número suficiente de ouvintes minoritários, possivelmente distorcendo os índices de audiência das estações orientadas para grupos minoritários.
Numa carta para a Arbitron, que tem sede em Nova York, o procurador geral Andrew M. Cuomo manifestou preocupação de o novo sistema ser "nem confiável, nem imparcial, e exercer um grande impacto sobre a transmissão de rádio para grupos minoritários em Nova York".
A Arbitron produz índices de audiência de rádio que são usados para a compra e a venda de tempo de publicidade. Apesar da resistência de algumas emissoras, a companhia tem gradualmente colocado em uso o PPM, um aparelho do tamanho de um celular que reconhece qual emissora é sintonizada. A companhia estima o tamanho da audiência para as emissoras de rádio inferindo os resultados de sua amostra de ouvintes.
Já a Arbitron informa que os aparelhos utilizados são bem mais precisos do que os diários, que se baseiam na memória da pessoa.
Os testes iniciais do PPM, no ano passado, mostraram declínios abruptos de audiência para algumas emissoras de rádio que atendem grupos minoritários e ouvintes mais jovens. James L. Winston, diretor- executivo da Associação Nacional de Emissoras de Propriedade de Afro-americanos, afirmou que os PPM não estavam medindo uma amostra adequada de afro-americanos e hispânicos, dessa forma colocando as emissoras com formatos urbanos em grande desvantagem. "O tamanho da amostra com a qual estão conduzindo seus estudos é muito pequeno, e isso compromete toda a credibilidade de seus dados", disse Winston.
Numa nota emitida na semana passada, a Arbitron sustentou que a amostra de audiência que foi selecionada para carregar consigo os PPM "representa plenamente a diversidade dos mercados de rádio de Nova York". A companhia havia previamente adiado a apresentação dos PPM em Nova York por nove meses para aprimorar a diversidade de sua amostragem, e informa que a amostragem agora inclui todos os segmentos da população.
As emissoras voltadas para grupos minoritários incentivaram o gabinete do promotor geral e outras agências do governo a investigar o uso que a Arbitron faz do PPM. Uma coalizão de emissoras solicitou a intervenção da Comissão Federal de Comunicações na semana passada, e a comissão está agora conduzindo um programa de consulta popular. O gabinete de Cuomo vai mais longe e emitiu uma intimação para coletar informações sobre os PPM.
Na carta para a Arbitron, Cuomo escreveu que o sistema de PPM "parece conter falhas de criação que podem ter impacto devastador sobre as comunidades, emissoras e empresas minoritárias".
Os dados dos PPM estão posicionados para ser o padrão para a compra e venda de tempo no rádio em Nova York a partir de 8 de outubro, quando serão divulgados os índices de audiência para setembro. Benjamin M. Lawsky, assistente especial de Cuomo, disse que resta ver se o gabinete do promotor geral tentará intervir antes da data de troca de sistema em outubro.
Previamente neste ano, a Media Ratings Council, a agência que supervisiona a medição de audiência para o setor, se recusou a aprovar a utilização do sistema PPM no mercado de Nova York. (A agência aprovou o uso do sistema em Houston, uma das primeiras cidades em que foi testado). A decisão está agora sendo reconsiderada.
Na nota, a Arbitron argumentou que o setor de mídia deve se preocupar com as tentativas de "suspender ou reprimir" a certificação do PPM.
(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 6)(Brian Stelter)
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