Milton Neves, versão zen: "nunca briguei, sempre reagi".
Por Pedro Venceslau
Antes da entrevista, foi logo avisando: "Olha, garoto, não vou polemizar com jornalista". Não é jogo de cena. Milton Neves está mesmo passando por uma fase zen. A entrevista completa está na edição de novembro da revista IMPRENSA, que já está nas bancas.
Olha garoto, quem tem que anunciar e ajudar o esporte brasileiro é a iniciativa privada. Todo mundo diz isso. Aí vem Bradesco, Itaú, Banespa, Extra, IBM e resolve patrocinar o judô, o basquete e tal. Mas quando um cara ganha a medalha de ouro e vai dar entrevista, focalizam da testa ao queixo e ignoram o boné do patrocinador. É uma hipocrisia. Os apresentadores e jornalistas vivem dizendo que a iniciativa privada tem que ajudar o esporte. Mas quando isso acontece, escondem os logotipos.
Então o sujeito fica um ano, dois, três, pagando, pagando, pagando. Chega uma hora que cansa. Meu Deus, o sujeito só aparece na mídia vez ou outra, quando ganha uma medalha de ouro na Olimpíada, que é a coisa mais difícil do mundo. Essa bandeira é minha. Esse negócio (de reclamar de merchandising) é uma hipocrisia, uma sacanagem. O Diego Hipólito veio no meu programa com um macacão que parecia piloto de Fórmula 1. Eu pedi para dar um close no peito dele e falei o nome dos 10 anunciantes, sendo que 3 eram concorrentes nossos.
Qual sua opinião sobre a CBF?
Milton: O Flávio Gomes, que trabalhou comigo na Rádio Bandeirantes e na Jovem Pan e hoje está na ESPN Brasil, tem uma definição interessante: 'Esse Ricardo Teixeira é o pior cartola que o Brasil já teve, mas com ele o Brasil só ganha. Quando não ganha, passa perto ou é vice'. Além disso, o sujeito conseguiu trazer a Copa do Mudo pra cá. Agora, é uma sacanagem o que ele está fazendo com meus velhos (jogadores)... Prometeram dar assistência médica para todos os campeões mundiais vivos, ou para as viúvas. Mas não deram porcaria nenhuma. A CBF está sendo canalha, calhorda, cachorra em relação aos ex-jogadores de futebol. Eles devem isso ao Gilmar, ao Castilho, ao Garrincha, ao Moacir, ao Joel, ao Newton de Sordi... Aos caras que ganharam as copas. Tem até jogador que foi campeão em 1994 passando dificuldade. (Nesse momento, Milton Neves, muito emocionado, começa a chorar) O Lula devia fazer um discurso contra o Ricardo Teixeira. Devia dizer: "não vamos ajudar a Copa do Mundo de 2014 se vocês não cuidarem dos velhos jogadores".
E por falar em Lula...
Milton: O Juarez Soares eu trouxe para cá. Era meu ídolo e estava desempregado. Como é que pode... O Juarez Soares ajudou o Lula quando ele estava perdendo. O cara perdeu o emprego na Globo, fez greve, pôs a cara para bater. Agora que o Lula é o rei, deixa o Juarez desempregado. O que é isso? E ouço o Juarez Soares desde 1963, na rádio Tupi. Como pode uma injustiça dessa? Aí o Lula bota esse Franklin Martins, que não tive o prazer de conhecer, como ministro da TV pública. Tinha que ser o Juarez Soares. Quando o Lula era chamado de comunista que ia comer as criancinhas do Brasil, de analfabeto que não ia ganhar nunca, era o Juarez Soares quem estava lá, do lado dele. O Lula fez com Juarez o que o Ricardo Teixeira está fazendo com os jogadores velhos campeões do mundo.
Você votou no Lula?
Milton: Nunca votei, mas sou fã dele.
A hegemonia da Globo no esporte está com os dias contados?
Milton: A Record será líder em um tempo muito menor do que se espera. Pena que não estarei mais aqui.
Como assim?
Milton: Nós temos um prazo de validade. A minha boa fase profissional já passou. Minha tendência, agora, é cair. Não vou esperar. Quando sacar que chegou a hora, tiro o time de campo e vou para minha fazendinha em Guaxupé. Dentro de uns cinco anos já não devo estar mais aqui. Estou cansado. Fiz 56 anos. Domingo, saio às 7, fico na rua até a uma da manhã e durmo aqui (na Record) no meu camarim. Trabalho 17, 18 horas por dia. Nós da TV, garoto, somos como jogadores de futebol. Tá cheio de gênio de futebol, da dramaturgia, literatura que morreu pobre. Então, estou dando um malho legal para fazer um pé de meia relativamente bom, mas infinitamente menor do que se apregoa por aí. Na minha terra, em Muzambinho, com três mil reais você vive como rei. Outro dia, fui jantar com um grupo de empresários no La Tambouille, em São Paulo, e custou R$ 47 mil, devido ao vinho. Eu jamais pagaria isso.
Você é pão-duro?
Milton: Eu não, mas só tomo vinho de R$ 150, 200. Em Muzambinho, fui jantar no restaurante Cesário com minha mulher, meu filho e uns amigos. Éramos sete pessoas. Jantamos muito bem. Quanto gastamos? R$ 205.
Antes da entrevista, você me avisou que não quer polemizar com jornalistas. Está em uma fase zen?
Milton: Eu nunca briguei. Ficou essa fama, mas eu sempre reagi. O Mauro Beting, um maravilhoso profissional, sempre diz isso: "Milton Neves não age contra ninguém, só reage". Normalmente o cara que mais processa é o que está em melhor fase. Está na Bíblia: ninguém atira pedra em árvore que não dá fruto. A inveja é o mau hálito da alma. Nós, do meio do jornalismo esportivo, somos pessoas famosas e mal remuneradas. 99% dos profissionais da crônica esportiva ganham pouco. Dão autógrafo, mas recebem mal.
Leia a entrevista completa na edição 229 de IMPRENSA
Um comentário:
Essa desculpinha a favor do merchan foi a mais esfarrapada que eu já ouvi. Atleta é atleta, Cabeça!
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