Que o FM vive uma crise atualmente, não é novidade. Qualquer um que leu esse blog ou ouvíu uma rádio pelo menos uma vez nos últimos meses já sabe disso.
Fazer rádio no brasil sempre foi uma atividade meio mambembe. Excluindo a fase dos broadcasters, quando os brasileiros assistiram (ou melhor, ouviram) a tão famosa "era do rádio", sempre faltou estrutura, boa vontade dos donos de emissoras em investir em material humano e, principalmente nesses últimos tempos, criatividade (ou liberdade) para os produtores e programadores realizarem o seu trabalho. Nunca o "mais do mesmo" foi tão valorizado. Emissoras mudam totalmente a sua programação para ficarem iguais a dezenas de outras que já existem no dial. Mas me comprometí com o Marcos Ribeiro, editor-chefe deste blog, que faria um texto no estilo "advogado do diabo", ou seja, defendendo o rádio e mostrando as suas qualidades. Juro que eu estou tentando.
Há alguns exemplos pontuais e bem sucedidos de inovação e estilo que merecem ser destacados. Vale lembrar que para nós da Rádio Base, "bem sucedido" não é sinônimo de "primeiro no IBOPE" ou "melhor faturamento de 2006". Nós, com a nossa visão romântica da coisa, temos que bem sucedido é aquele programa que entra bem nos nossos ouvidos, aquela programação que nos surpreende a cada minuto de audição, etc. Esses detalhes bobos, que a maioria dos engravatados donos de rádios nem sabem o que é...
A rádio Energia 97, por exemplo. Essa se firmou em seu segmento, afundou o pé na música eletrônica como nenhuma rádio havia feito antes. Houve tentativas anteriores, inclusive na própria Energia, mas sempre ficava aquela falha na identidade. Era ouvir a rádio para se perguntar: "Eles querem tocar pop/rock ou eletrônico?". Hoje, a emissora conquistou o público (colocou mais de 30 mil pessoas na festa Spirt of London, no Anhembi) e armou uma equipe deDJs competentíssima, que fala a mesma linguagem dos ouvintes, nas suas mais diversas vertentes: De Drum 'n'Bass à House, o "pop/rock" da música eletrônica em termos de popularidade. Quem acha cansativo ouvir o dia todo uma emissora que toca música eletrônica, ainda não ouviu a Energia 97.
Nos quesitos programação musical, originalidade e iniciativas, a emissora que leva nota 10 é a Eldorado FM. Em sua programação não existem os irritantes hits, aquelas músicas que você ouve 10, 15 vezes por dia. É uma programação ampla, que vai do Jazz ao Indie Rock em questão de minutos. Programetes, como o Rádio Parachoque (ganhador do prêmio APCA 2006), mostram que ainda há vida inteligente no rádio brasileiro. Tudo bem que a Eldorado tem a ajudinha do grupo teatral "Doutores da Alegria", mas já é alguma coisa. Ainda fica a pergunta: "Será que não existem locutores competentes o suficiente para 'encenarem' essas esquetes?".
E há algumas coisas, agora incluindo também o AM, que crise de criatividade nenhuma é capaz de anular. Episódios que não têm preço, como ouvir as histórias do Daniel Daibem na Eldorado, os comentários do Zé Paulo de Andrade no Pulo do Gato, na Rádio Bandeirantes e até as simulações de brigas no ar do pessoal do Pânico, na Jovem Pan.
Nós, da Rádio Base, esperamos sinceramente que 2007 seja um ano marcante para o rádio. O veículo precisa de uma revolução, precisa de mudanças. Os coreanos da Avenida Paulista já vendem mp3 players de 1 GB à R$ 110,00. Eles até vêm com rádio FM, mas se nada de novo e de bom acontecer, essa vai se tornar a função mais inútil dos tais aparelhinhos.
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