domingo, 30 de janeiro de 2005

Músicos pedem a volta da Sinfonia Cultura em protesto

JANAINA FIDALGO
da Folha de S.Paulo
Com trajes negros, os músicos da Sinfonia Cultura, extinta pela Fundação Padre Anchieta no último dia 14, fizeram ontem um concerto-protesto no vão livre do Masp contra o fim da orquestra. Com 55 profissionais, a Sinfonia Cultura questiona os argumentos do presidente da fundação, Marcos Mendonça, para quem a dissolução seria mais digna que a sua manutenção sem as condições necessárias.

Durante a manifestação, os integrantes da Sinfonia Cultura receberam o apoio de representantes da Orquestra Sinfônica Municipal e do Coral Lírico, que, além de prestarem solidariedade, traçaram um paralelo com as dificuldades enfrentadas pelos corpos estáveis do Teatro Municipal.

"A destruição de uma orquestra não é um fato que pode ser tratado pensando só no lado monetário", disse Fábio Prado, maestro-assistente da Sinfonia.

A vocação para formação de público --a orquestra fazia récitas no Sesc Belenzinho-- e a divulgação da produção de compositores brasileiros são argumentos apontados pelos músicos. O protesto de ontem reuniu, segundo os organizadores, 300 pessoas.

"O que nos preocupa é a ausência dessa atividade que fazíamos. Não há uma orquestra com proposta semelhante", alega o maestro Lutero Rodrigues. "Outra atividade que fica órfã é a atenção dada à zona leste."

Indignados com o fim da orquestra, um grupo de frequentadores das récitas no Sesc Belenzinho participou do protesto. "Não podem acabar com a orquestra. [Mendonça] foi um bom secretário, mas agora está destruindo com os pés o que fez com as mãos", disse o aposentado Heitor Malzone, 81.

Procurada, a assessoria de Marcos Mendonça informou que ele não está no Brasil e não poderia comentar. Em carta publicada hoje pela Folha, Mendonça diz que a escassez de recursos não permite "manter uma orquestra com a qualidade que as orquestras devem ter". Segundo ele, as metas da Rádio e TV Cultura são a digitalização de seu acervo, a modernização dos equipamentos e a retomada da produção.

Sobre as reivindicações dos corpos estáveis do Municipal, como o pagamento do salário de dezembro, uma posição sobre a renovação dos contratos e um novo diretor para o teatro, o secretário municipal da Cultura, Emanoel Araújo, disse que os músicos não têm de "reclamar de nada". "Não é da competência deles se tem diretor ou não."

Araújo disse ainda que terá uma audiência com os profissionais do Municipal na próxima quarta. "Sou artista. A minha sensibilidade está voltada para entender os meus pares", disse. "Quero armar uma política para a secretaria que seja perene. Isso aqui, na minha gestão, não será um puxadinho."

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