Laura Mattos
Folha de São Paulo
Ouvintes mais atentos já perceberam: surgiu uma nova FM pop no congestionado dial da Grande São Paulo. Em bate-papos na internet, o assunto quente dos últimos dias tem sido a "misteriosa" 94,1 MHz. "Alguém poderia me dizer, por favor, que rádio é essa!?", pergunta um. "É a pirata mais potente da cidade", arrisca outro.
A tal estação entrou no ar às 18h do dia 29 de fevereiro. Ainda em caráter experimental, toca hits do rock, pop e dance, num estilo que vai da 89 FM à Jovem Pan. É mais uma estação lançada pelo poderoso grupo CBS, do empresário Paulo de Abreu, dono de dez emissoras na Grande São Paulo, entre elas a Kiss (102,1 MHz), a Scalla (92,5 MHz) e a Tupi (104,1 MHz). Ele é conhecido no mercado pelo costume de promover "dança das cadeiras", trocando repentinamente suas emissoras de lugar no dial.
A 94,1 MHz, antes ocupada por programação gospel, só foi regularizada recentemente, por determinação da Justiça, segundo a assessoria da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). A concessão, de acordo com a agência, havia sido caçada pelo governo militar (1964-1985). Uma decisão judicial obrigou o Ministério das Comunicações a conceder a rádio novamente ao empresário.
Por enquanto, a nova FM utiliza transmissor de baixa potência e sua sintonia é deficiente em regiões mais afastadas do centro. Deverá passar para um cinco vezes mais potente a fim de atingir com clareza toda a Grande SP.
A "equipe" da rádio ainda é restrita ao diretor, Ricardo Henrique, 42, e seu computador. Ele está selecionando locutores e programadores e deverá estrear oficialmente a estação até o final de março, com o nome de 94 FM.
Segundo Henrique, seus principais concorrentes serão Jovem Pan (100,9 MHz), Mix (106,3), Transamérica (100,1), Metropolitana (98,5) e 89 FM (89,1).
Ele diz não temer a disputa acirrada do gênero pop nem a crise das gravadoras -uma das principais fontes de renda de FMs. "Rádio que sobrevive de gravadora está perdida. Queremos delas apoio, liberação de artistas para shows", afirma Henrique, ex-89, Pan e Nativa, entre outras.
Tudo o que já domina o dial vai ter lugar garantido na 94 -Titãs, Paralamas, CPM 22, Charlie Brown Jr. e por aí vai. A badalada dupla de rap Outkast também tem vez. E, claro, os flashes dos anos 80. Como ganhar audiência e anunciante então? "Dá para tocar o mesmo tipo de música, mas escolher títulos diferentes. E usaremos uma nova linguagem", diz.
Façam suas apostas.
@ - laura@folhasp.com.br
Eu aposto que vai ser mais uma bosta no ar. não vai aguentar muito tempo, ainda mais pertencendo ao grupo empresarial ao qual pertence. Se Ademar Altieri infelizmente saiu da Kiss antes do projeto amadadurecer, e a rádio está na draga em que se encontra agora, o que acontecerá com este tal de Ricardo Raimundo? Na época em que ele passou por essas emissoras citadas acima, a programação virou um esgoto, para não dizer um mar de cocô a céu aberto. E a audiência da maioria delas foi pro saco, quando o modelo implantado se desgastou. O mais incrível de tudo é que um "discípulo" seu, Marcelo Braga, conhecido por editar as músicas que na rádio que dirige, a famigerada Mix, deu certo, mas só durante algum tempo. A Mxi também está numa pindaíba de dar dó, totalmente sem um conteúdo realmente atraente.
Esse cidadão não é um mal sujeito. Talvez seja até um profissional correto. Mas ele e seu "discípulo" involuntariamente representa toda uma geração de profissionais do rádio FM que foi criada neste caldo de cultura movido à base de jabaculê, da falta de criatividade, da falta de um bom trabalho de pesquisa de repertório mais apurado, da falta de sintonia com o que realmente acontecia no mundo da música, da falta de reflexão sobre o que está se produzindo para ir ao ar, da falta de comunicação e interação com o ouvinte e da falta de esforço em querer se aprimorar mais o meio rádio, sem precisar ficar copiando fórmulas "mandraques" que supostamente deram certo em outros países. A desculpa mais frequente que eles costumam dar e que eu já ouvi de vários representantes desta geração é que "o mercado do rádio é dinâmico, depedende de audiência para veicular comercial e faturar e que se a qualidade da programação musical é ruim é orque o ouvinte é que exige música ruim". Tudo conversa fiada!!!! Eu sou ouvinte e quero escutar boa música, seja lá qual for o estilo, e não empulhação de grande gravadora para vender lixo sonoro aos milhões.
No fundo, ele foi tão vítima do desprezo que o rádio sofreu nos últimos 25 anos, quanto nós, ouvintes. Talvez, no caso dele pelo menos, quem sabe ele tenha aprendido com os seus erros, sua falta de visão, tenha refletido sobre o que as rádios oferecem atualmente aos ouvintes e esteja atento aos novos tempos em que a relação artista/gravadora/rádio/ouvinte mudou e muito. Mas a julgar pelo que ele declarou que vai fazer, parece que a rádio será mais uma estação "rodriguiana": bonitinha, mas ordinária. Ou talvez nem isso.
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