JANAINA FIDALGO
da Folha de S.Paulo
Com trajes negros, os músicos da Sinfonia Cultura, extinta pela Fundação Padre Anchieta no último dia 14, fizeram ontem um concerto-protesto no vão livre do Masp contra o fim da orquestra. Com 55 profissionais, a Sinfonia Cultura questiona os argumentos do presidente da fundação, Marcos Mendonça, para quem a dissolução seria mais digna que a sua manutenção sem as condições necessárias.
Durante a manifestação, os integrantes da Sinfonia Cultura receberam o apoio de representantes da Orquestra Sinfônica Municipal e do Coral Lírico, que, além de prestarem solidariedade, traçaram um paralelo com as dificuldades enfrentadas pelos corpos estáveis do Teatro Municipal.
"A destruição de uma orquestra não é um fato que pode ser tratado pensando só no lado monetário", disse Fábio Prado, maestro-assistente da Sinfonia.
A vocação para formação de público --a orquestra fazia récitas no Sesc Belenzinho-- e a divulgação da produção de compositores brasileiros são argumentos apontados pelos músicos. O protesto de ontem reuniu, segundo os organizadores, 300 pessoas.
"O que nos preocupa é a ausência dessa atividade que fazíamos. Não há uma orquestra com proposta semelhante", alega o maestro Lutero Rodrigues. "Outra atividade que fica órfã é a atenção dada à zona leste."
Indignados com o fim da orquestra, um grupo de frequentadores das récitas no Sesc Belenzinho participou do protesto. "Não podem acabar com a orquestra. [Mendonça] foi um bom secretário, mas agora está destruindo com os pés o que fez com as mãos", disse o aposentado Heitor Malzone, 81.
Procurada, a assessoria de Marcos Mendonça informou que ele não está no Brasil e não poderia comentar. Em carta publicada hoje pela Folha, Mendonça diz que a escassez de recursos não permite "manter uma orquestra com a qualidade que as orquestras devem ter". Segundo ele, as metas da Rádio e TV Cultura são a digitalização de seu acervo, a modernização dos equipamentos e a retomada da produção.
Sobre as reivindicações dos corpos estáveis do Municipal, como o pagamento do salário de dezembro, uma posição sobre a renovação dos contratos e um novo diretor para o teatro, o secretário municipal da Cultura, Emanoel Araújo, disse que os músicos não têm de "reclamar de nada". "Não é da competência deles se tem diretor ou não."
Araújo disse ainda que terá uma audiência com os profissionais do Municipal na próxima quarta. "Sou artista. A minha sensibilidade está voltada para entender os meus pares", disse. "Quero armar uma política para a secretaria que seja perene. Isso aqui, na minha gestão, não será um puxadinho."
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