Terça feira, 23 de agosto, 9h30. O repórter da Rádio Estadão Marcel Naves chega à Avenida Gethsêmani, no bairro Vila Sonia, na zona sul de São Paulo e vê uma cena desalentadora. Na esquina da Rua Judith Passold Esteves, parte da obra de canalização de um córrego está abandonada.
Trata-se de mais uma cena que retrata o descaso do poder público com o dinheiro do erário, que o experiente jornalista vai relatar minutos mais tarde no quadro Blitz Rádio Estadão, que vai ao ar ao longo da programação da emissora FM do grupo Estado. No final do dia, ele escreverá de próprio punho o que apurou com os moradores no local e com os “responsáveis” pela obra através do telefone.
Este tipo de programa ou quadro no rádio não se trata exatamente de uma novidade. A prestação de serviços - também conhecido na gíria das redações como "cobrir buraco de rua" - é um gênero bem antigo, cuja origem se perde nos primórdios da história do Rádio. Provavelmente deve ter sido inventando durante a Ditadura Militar (1964-1985) quando as emissoras de rádio viviam sob forte censura em seu noticiário. A saída, segundo costuma relatar José Paulo de Andrade - à época diretor de jornalismo da Rádio Bandeirantes - era falar dos problemas da cidade, até como forma de escapar da “tesoura” censora.
O trânsito cada vez mais congestionado, um cano de água estourado, o entupimento de um sistema de esgoto, a falta de iluminação ou de asfalto e problemas com assalto ou violência urbana eram temas que cada vez mais o ouvinte se interessava em ver retratado nas ondas do rádio, com a intenção de resolvê-los de uma vez por todas.
A televisão, irmã mais nova do Rádio, logo tratou de explorar este filão, fazendo-o por vezes com certa dose de sensacionalismo. Tendo a imagem como trunfo, o telejornalismo mostrou muito mais eficiência neste tipo de produção.
Com o tempo esta modalidade de prestação de serviço foi abandonada paulatinamente pelas emissoras radiofônicas, sobretudo as estações jornalísticas. Os motivos alegados eram muitos: a baixa audiência em relação à TV, a falta de recursos técnicos para a transmissão direto das ruas da cidade, o alto custo da produção deste tipo de reportagem, o tempo de realização das matérias, etc. Alegava-se tudo, menos a falta de disposição das emissoras de eventualmente entrarem em atrito com o poder público por causa das cobranças ou a falta de interesse dos anunciantes em patrocinar esta iniciativa.
A Rádio Estadão, que nos últimos tempos vem amargando baixos índices de audiência, depois de desfazer parcerias mal sucedidas, resolveu arriscar. A emissora trabalha com um quadro reduzido de funcionários e o principal conteúdo vem diretamente da redação do jornal O Estado de São Paulo, da Agência Estado e do portal Estadão.com . Os únicos repórteres “na rua” são Eliezer dos Santos, que monitora o trânsito da cidade a bordo de um helicóptero e o próprio Marcel Naves, que recebe as reclamações dos ouvintes por meio da conta de whatsapp da própria Estadão FM.
Seu Bairro, Nossa da Cidade, da CBN – Na emissora jornalística do Sistema Globo de Rádio quem é responsável pelo quadro concorrente da Blitz Rádio Estadão é Evelyn Agenta. Há algumas diferenças no formato, mas o intuito é semelhante. A repórter vai até um determinado bairro, tira fotos, conversa com os moradores, volta à redação, grava entrevista com eles por telefone, edita as reportagens e as apresenta ao vivo ao longo da programação matinal, contando a história e exibindo outros dados sobre a região, além das reclamações. Posteriormente coloca algumas das imagens juntamente com o áudio das reportagens na página do programa no portal da CBN, muito embora não exista um texto escrito, tal como ocorre no blog do quadro do “oponente”.
Entretanto, a atração não se limita a um único problema ou reivindicação. A cada entrada, Evelyn aborda cada um deles. Diferentemente do concorrente, jamais faz uma entrada ao vivo do lugar, o que faz perder parte da força narrativa e a instantaneidade que o rádio proporciona, apesar de ter uma cobertura mais abrangente dos assuntos abordados.
Essa perda é parcialmente compensada com uma reportagem em vídeo, disponível no site. Todavia, tal formatação, se beneficia o internauta, deixa dúvidas se não prejudica a informação que é "entregue" ao ouvinte da CBN.
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