domingo, 22 de fevereiro de 2015

Músicas de Nelson Motta recebe novas interpretações


A Som Livre lança um disco em homenagem aos 70 anos do jornalista, escritor, produtor e diretor musical Nelson Motta. “Nelson 70” foca no letrista Nelson Motta, trazendo novas versões de sucessos assinados por ele e parceiros, de 1967 a 2014, interpretadas por artistas de diversos estilos. Nelson e a Som Livre têm relação de longa data, já que suas trajetórias tiveram um intenso caminho em comum, quando ele e João Araújo produziram trilhas sonoras de novelas.

O projeto “Nelson 70”, que inclui além do CD uma série que será exibida pelo Canal Brasil a partir de 29 de outubro (dia de seu aniversário), foi concebido por Adriana Penna, Guto Barra e Tatiana Issa.  No álbum, são 14 músicas e toda a curadoria artística, assim como a seleção de repertório, foram feitas pelo próprio Nelson.

Gravado pelos quatro cantos do país e também no exterior, o disco apresenta versões emocionantes como Lenine emprestando a voz em “Certas Coisas”, ao som da harpa de Cristina Braga; arranjos novos como em “Você Bem Sabe”, parceria entre Nelson Motta e Djavan, que ganha a interpretação voraz de Maria Gadú. A versão digital do disco trará a faixa bônus “O Cantador”, interpretada por Lisa Ono.

No Uruguai, Jorge Drexler cantou uma das músicas mais marcantes dos anos 80, “Como Uma Onda”, primeiro grande sucesso de Lulu Santos. Em Belo Horizonte, Fernanda Takai foi para o estúdio gravar “De Onde Vens”, primeira letra assinada por Nelson, aos 21 anos de idade, com Dori Caymmi. Para Gaby Amarantos, direto de Belém, a escolha foi o ícone nacional da era disco, “Dancing Days”. “Nelson 70” traz ainda uma canção inédita, “Nós e o tempo”  , a primeira parceria de Nelson com Marisa Monte e Cesar Mendes, que na gravação, ganhou arranjos e o piano luxuoso de João Donato.

As canções, ordem cronológica, por Nelson Motta 

De onde vens, 1967, com Dori Caymmi. Sempre fiz letras para músicas prontas, esta é uma das duas vezes em que escrevi uma letra para ser musicada, o que Dori fez no ato, em menos de uma hora, com grande naturalidade. A letra tentava imitar o estilo de Vinicius e falava de um relacionamento amoroso sombrio e doloroso, pura ficção para um garoto de 20 anos.

Perigosa, 1977, com Rita Lee e Roberto de Carvalho, feita a pedido das Frenéticas para seu primeiro disco. Foi a outra rara vez em que escrevi uma letra para ser musicada, com um ritmo de rock and roll. Roberto fez a música, e no final da minha letra, que terminava com “eu vou fazer você ficar louco, muito louco”, Rita acrescentou “dentro de mim” e fez toda a diferença.

Dancin’Days, 1978, feita em meia hora com Ruban Barra, o pianista das Frenéticas, os dois doidões na minha casa no Joá, a pedido de Daniel Filho, para ser o tema de abertura da novela “Dancin’Days”, de Gilberto Braga. A letra é uma celebração do clima da discoteca Dancin’ Days, de 1976.

De repente Califórnia, 1982, feita com Lulu Santos para o filme “Menino do Rio”, a pedido do diretor Antônio Calmon, para ser o tema do surfista “Pepeu” interpretado por Ricardo Graça Mello, que também a gravou para a trilha sonora, com grande sucesso de rádio e TV.

Areias escaldantes (A caravana do delírio), 1982, com Lulu Santos, de uma nossa série de rocks que chamávamos de “palestinos” porque sentíamos um clima árabe nas melodias que me inspiravam letras de aventuras e romances de espionagem ambientadas em desertos e oásis do Oriente Médio.

Como uma onda (Zen surfismo), 1982, feita com Lulu Santos para o filme “Garota Dourada”. A letra mistura as praias cariocas com Jorge Luís Borges, Buda e a Bíblia com Vinicius, que havia morrido há pouco, e o homenageei com a citação do seu verso “a vida vem em ondas como o mar”, do poema “ Dia da criação”. Lulu era uma estrela iniciante do rock, mas seu primeiro grande sucesso popular foi esse bolero havaiano.

Certas coisas, 1983, com Lulu Santos, uma balada apaixonada que fizemos especialmente para Roberto Carlos, mas, na época, ele jamais gravaria uma música que começasse com a palavra “não”. Mas foi sucesso com Lulu em 1983 e voltou em 1998 com Milton Nascimento. É minha musica favorita entre as parcerias com Lulu.

Coisas do Brasil, 1986, com Guilherme Arantes, que fazia enorme sucesso com seu pop melódico e seus teclados pesados, e me surpreendeu com uma bossa nova, techno, mas bossa, e muito nova, num momento de total ostracismo da bossa nova original. A letra se baseia em temas e clichês das letras de meus mestres Ronaldo Bôscoli e Vinicius de Morais.

Marina no ar, 1986, com Guilherme Arantes, totalmente pop, feita em homenagem à amiga Marina Lima, como a voz que aparece cantando no rádio do carro e transforma a vida de quem estava triste e solitário e encontra o amor quando ouve Marina: eu mesmo.

Você bem sabe, 1988, com Djavan, que me convidou para dirigir seu show “Oceano” e me ofereceu esse choro jazzístico muito diferente, cheio de voltas e surpresas melódicas e harmônicas, como é de seu estilo. As sonoridades que ele usava cantarolando a melodia me levaram a fazer alguns versos em inglês misturados ao português.

Ditos e feitos, 2002, com Roberto Menescal, que era meu ídolo no tempo da bossa nova e foi meu professor de violão em 1965/66 e amigo da vida inteira. Aprendi muito com ele, nossos caminhos se cruzaram muitas vezes, e 40 anos depois mestre e aluno se tornaram parceiros quando ele me mandou uma bossa nova e fiz a letra sobre nós dois e o tempo.

Apaixonada, 2004, com Ed Motta, tema romântico feito para o filme “A partilha”, a pedido do diretor Daniel Filho. Gravada pelo próprio Ed com uma grande orquestra, a canção acabou tocando poucos segundos na tela, mas encantou a fadista Cuca Roseta, que, a meu pedido, gravou-a como um fado em 2014.

Noturno carioca, 2010, com Erasmo Carlos. Somos amigos desde o tempo em que a MPB brigava com a Jovem Guarda. Em Lisboa, recebi com grande surpresa, alegria e honra duas músicas que ele me mandou por email pedindo letras para seu novo disco. E depois fizemos outras. Minha favorita é sobre o Rio noturno visto do alto e de longe, num momento de paz, beleza e plenitude.

Parece mentira, 2014, com Marisa Monte e César Mendes. Produzi o primeiro disco de Marisa, em 1988, ela se tornou uma ótima compositora e uma grande estrela no Brasil e no exterior e ficamos amigos para sempre. 25 anos depois, ela me ofereceu uma linda melodia, em parceria com César, que remete a clássicos da música brasileira dos anos 40 e de sempre, e fizemos juntos a letra sobre a fugacidade dos mistérios, das certezas e do tempo.

CD Nelson 70

1. Lenine part. de Cristina Braga – Certas Coisas (NM/ Lulu Santos)
2. Ed Motta part. de Daniel Jobim – Coisas do Brasil (NM/ Guilherme Arantes)
3. Marisa Monte e João Donato – Nós e o Tempo (NM/ Marisa Monte /César Mendes)
4. Jorge Drexler – Como uma onda (NM/ Lulu Santos)
5. Cuca Roseta – Apaixonada ( NM / Ed Motta )
6. Céu – De repente California ( NM/ Lulu Santos )
7. Gaby Amarantos – Dancin’Days (NM/ Ruban Barra)
8. Ana Cañas – Perigosa (NM/ Rita Lee/ Roberto de Carvalho)
9. Max de Castro - Areias escaldantes (NM/ Lulu Santos)
10. Maria Gadu– Você bem sabe (NM/ Djavan)
11. Leo Cavalcanti – Ditos e Feitos (NM/  Roberto Menescal )
12. Fernanda Takai – De onde vens (NM/  Dori Caymmi)
13. Silva – Marina no ar (NM/ Guilherme Arantes)
14. Laila Garin – Noturno carioca (NM/ Erasmo Carlos)

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