sábado, 18 de agosto de 2012

Transmissão "simultânea": uma conta que não fecha



Caro leitor, peço licença para reproduzir uma nota escrita de próprio punho e analisarei a seguir. Obrigado.

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A Rádio Bandeirantes FM 90,9 MHz, de São Paulo, transmite simultaneamente com a TV Bandeirantes, a partir das 10h, um debate eleitoral entre os candidatos a prefeito da cidade de Osasco, na Grande São Paulo. Estarão presentes os candidatos Délbio Teruel (PTB), Celso Giglio (PSDB), Osvaldo Vergínio (PSD), Alexandre Cassol (PSOL), João Paulo Cunha (PT) e Osvaldo Motta (PMN).

A Rádio Bandeirantes AM 840 KHz e o site da emissora transmitirão o programa "Você é Curioso", com Marcelo Duarte.

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É sempre bom ver quando as emissoras de rádio usam seus recursos para promover o debate e praticar o bom jornalismo e a prestação de serviços. No caso da Rádio Bandeirantes, que possui duas emissoras em faixas diferentes transmitindo a mesma programação, é sempre salutar quando eles oferecem opções aos ouvintes. Quem não estiver interessado em ouvir o debate, como deve ser o caso da maioria dos que não moram em Osasco, pode continuar a ouvir a programação normal de sábado da estação. 

Para as emissoras de rádio do Morumbi, não deixa de ser um paradoxo, uma vez que a Bandeirantes e a Band News FM irritantemente retransmitem o áudio de diversos programas da Band TV, a exemplo da CBN, que põe no ar o som do "Programa do Jô", da Rede Globo. No caso desta atração não chega a ser tão irritante, já que é a única atração da Globo a passar na rádio, além de estar no contexto da linha editorial da CBN, mas sobre isto falarei mais aprofundadamente em um outro dia.

Já é causa perdida protestar contra esse nefasto processo de se retransmitir no AM a programação da FM - e vice-versa - em prejuízo e desvalorização das emissoras de ondas médias. Há um processo insano no mercado em se "desfazer" das rádios AM que, ao contrário do que os "iluminados" do rádio pensam, ainda têm muita força no Brasil afora. Quem perde é o ouvinte que poderia ter mais opções de programação no rádio - a exemplo do que acontece com as Rádios Cultura AM e FM de São Paulo - que ainda mantém programações distintas e segmentadas. 

Em uma era em que as rádios estão cada ver mais integradas à internet e à mobilidade dos dispositivos móveis, não justifica ficar duplicando o sinal, tampouco agir como uma portadora de áudio da TV. Não tem a menor lógica. Mesmo com a desculpa de que o "ouvinte pode acompanhar seu programa da televisão, caso esteja em locomoção pela cidade", não faz sentido quando o mercado de eletrônicos nos oferece celulares com imagem de tv digital e com boa qualidade. Mas parece que as emissoras miram apenas na quantidade e não na diversidade e, por conseguinte, na qualidade: "a nossa rádio AM  tem 5 mil ouvintes; a FM, 80 mil?Bingo!!!! Vamos juntar as duas."

Não, senhores, não é uma conta tão simples e singela. Se uma rádio tem 5 mil e a outra do mesmo grupo, 80 mil ouvintes por minuto, é que alguma coisa pode estar errada com a programação ou com determinado programa. Partindo do pressuposto de que há uma única empresa que mede audiência no rádio no nosso país, pode ser que esses 5 mil ouvintes por minuto (termo esse que jamais entendi, se alguém quiser me explicar...) sejam 10 mil ou 20 mil, ou quem sabe 50 mil. É possível também que esses 5 mil ouvintes também façam parte dos 80 mil da FM, o que não daria 85 mil; há a ainda a possibilidade destas 5 mil almas ouvirem apenas a AM do nosso indigitado e querido radiodifusor otimista do "case" acima, ao passo que os 80 mil talvez nem sejam tão fiéis assim e mudem de emissora justo na hora do intervalo comercial.

Ninguém gosta de falar desse aspecto, mas fazer uma transmissão simultânea AM/FM também diminui os postos de trabalho, já que reduz as opções de programação para o ouvinte. É uma equação em que só ele (ouvinte) está perdendo. É preciso repensar na fórmula desta conta.

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