Por Valério Cruz Brittos e Paola Madeira Nazário no Observatório da Imprensa, em 1/12/2009
Uma temática fundamental para a democratização da sociedade brasileira – que deveria ocupar lugar central na Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), a ser realizada neste mês de dezembro em Brasília – é a relação mídia e educação. A educação para os meios de comunicação, nos processos formais de ensino médio e fundamental no Brasil, tem que ser tratada na Confecom, como (esperada) grande arena de debates dos problemas estruturais da comunicação nacional. Isto é fundamental para que se tenha mudanças efetivas, constituindo outra postura do receptor, capaz de, inclusive, pressionar por políticas de comunicação democráticas, na medida em que conheça as lógicas das indústrias culturais.
Além do mais, o mega-setor comunicacional carece de democratização não só no controle dos meios tradicionais, mas também na possibilidade de uso emancipador da mídia pela população, o que passa, necessariamente, pela escola. Trata-se de um ponto imprescindível para modificação paradigmática na área, o que não deverá ocorrer no curto prazo, justamente por isso requerendo procedimentos com o amadurecimento próprio do processo educacional, assim apostando-se em resultados de médio e longo prazos.
Novas formas de produção simbólica
Neste momento de debate dos rumos da estrutura comunicacional brasileira, deve-se reafirmar que, de forma mais acentuada com a convergência dos meios de informação e comunicação, é imprescindível ações no plano escolar que dinamizem a leitura reflexiva dos conteúdos audiovisuais em sala de aula, permitindo ao cidadão avaliar as mensagens midiáticas e posicioná-las no mundo. Com esse deslinde, poderá ele próprio, ainda que com limites, atuar no espaço público midiático, dinâmica favorecida com a digitalização.
É necessário que, apesar de seu alcance restrito, já que não é um espaço deliberativo, a Confecom conforme-se como um lócus de proposição de ações que constranjam o Estado a adotar medidas de incentivo à formação de profissionais atuantes na interface entre as áreas de comunicação e educação. No entanto, é necessário ressaltar que, para além da capacitação desses profissionais na utilização de suportes tecnológicos, é premente trabalhar sua percepção sobre a importância de se fazer uma utilização crítica e reflexiva dessas tecnologias e dos conteúdos que estas produzem. Dito de outra forma: não é só usar recursos midiáticos para o aprendizado, mas trabalhar em sala de aula a leitura dos produtos hegemônicos.
Nos dias atuais, a escola, como mantenedora da aprendizagem formal, encontra-se fragilizada diante da inserção das tecnologias da informação e comunicação (TICs) no chão social, visto que o ambiente de ensino – em especial o público – não possui incentivo para uma utilização plena destes expedientes comunicacionais. Essa problemática insere-se no amplo quadro do capitalismo reconfigurado, em que o discurso de valorização do sujeito serve, não raro, para dificultar a luta coletiva, e o Estado confirma desigualdades.
Esses são pontos e argumentos fundamentais para todo debate sobre alteração na regulamentação da comunicação brasileira. Medidas como a inserção de elementos pedagógicos no sistema formal de ensino que atendam à reflexão crítica dos meios de comunicação e seus conteúdos são urgentes, assim como o comprometimento do governo – federal, principalmente – em injetar no ensino público verbas que permitam esta atuação dos docentes. Isto envolve a plena capacitação de professores para uso e recriação das tecnologias info-comunicacionais, de modo que, em sala de aula, possam analisar criticamente a mídia, bem como experimentar novas formas de produção simbólica.
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