quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Há 10 anos, a Musical FM abandonava a MPB

O final deste mês de maio trará uma efeméride que poucos deverão comemorar. É a transformação da Musical FM (105,7Mhz) em uma rádio com programação eminentemente religiosa. A partir de 1993, a emissora passou a ser conhecida e admirada do público por voltar a sua programação musical para a Música Popular Brasileira. Segundo reportagem publicada à época pelo jornalista Roldão Arruda no jornal O Estado de S.Paulo, a Musical FM "foi vencedora de 3 premios da Associação Paulista dos Criticos de Arte (...) Ajudou a lancar novos artistas, como Chico Cesar, Vania Abreu e Zeca Baleiro".

Ainda segundo a reportagem de Arruda, "a emissora teve em abril uma base de 30 mil ouvintes por minuto, de acordo com números do Ibope. Era uma audiencia selecionada: 68% das pessoas pertenciam 'as classe sociais A e B".

Vendo de fora, tudo era lindo e maravilhoso. Contudo, a emissora vivia uma crise interna e a venda de espaços publicitários não era suficiente para pagar as contas. Resultado: a Rede L&C de Midia, detentora da concessão, decidiu alugar seu espaço de programação a um grupo de denomiações religiosas. Segundo norícias da época, o valor do arrendamento era de R$ 3 milhões anuais, por um prazo de quatro anos. Pelo jeito, a Rede L&C não se animou em voltar a contrlolar a emissora. O acordo foi sucessivamente renovado e, caso não ocorra nenhuma surpresa, chegará ao seu décimo ano em 31 de maio.

MPB Sempre

Ao mesmo tempo em que ocorria a transição da programação, um grupo de ouvintes que participava do fórum de discussão do antigo site da Musical FM decidiu se mobilizar pela Internet. Nascia o Movimento do Sem Rádio, que conseguiu fazer algum barulho e chamar a atenção da imprensa.

O mote principal desse grupo era o slogan "Calaram a boca da MPB". O grande problema era que a tal MPB que julgavam ter sido calada era a MPB de Gil, Caetano, Milton Nascimento, Tom Jobim, Gal, Maria Betania, Adriana Calcanhoto, Ze Ramalho, Alceu valença, MPB4, Flavio Venturini, Beto Guedes, etc, que já tinham espaço generoso em outras emissoras espalhadas pelo país afora.

Os novos talentos lançados pela Musical nada mais faziam a não ser repetir fórmulas já consagradas pelos artisitas citados acima. Chico César é um belo exemplo disso, e a comparação de seu trabalho com o de Caetano Veloso pode ser muito bem explorada em outros artigos.

O Movimento dos Sem Rádio tentou contato com as direções de várias emissoras no intuito de "discutir a manutenção e ampliação da música de qualidade em todos os veículos sonoros de comunicação". Na verdade, esse grupo queria apenas a volta da Rádio Musical querida por eles, com todas as suas virtudes e defeitos (alguém aí conseguiria explicar o fato da promoção continua a vários artistas da gravadora Velas?). Se esqueciam de outras estações de rádio que eram até mais radicais na defesa da música brasileira, como a Cultura AM e a USP FM.

Em outubro daquele mesmo ano era criada a ONG MPB Sempre. Algum tempo depois, chegaram a ter um programa semanal na USP FM. Em paralelo, criavam manifestações públicas, com a intenção de obter espaço na mídia. Numa delas, chegaram a organizar uma passeata para combater a música brega. Na verdade, era apenas mais um protesto de pessoas da classe média querendo impor seu gosto musical aos outros.

Depois disso, nunca mais se ouviu falar do MPB Sempre. A lista de discussão no Yahoo Groups está parada. O site oficial da ONG está desatualizado. Talvez esses orfãos da Musical tenham se contentado com mudança ocorrida na Nova FM, que passou a se dedicar integralmente a MPB. Se esta emissora decidir mudar seu rumo, quem sabe o grupo reapareça para fazer seu barulho.

11 comentários:

Marcos Lauro disse...

Pelo que eu me lembre, o fim da Musical causou a primeira grande movimentação na internet sobre o assunto rádio. Chegaram até a criar uma web-rádio que "imitava" o estilo da Musical, para os que ficaram órfãos da programação.

Anderson Diniz disse...

E que fim levou essa web-rádio? Quando foi lançada tinha até propaganda em relógios e outdoors. E, até onde eu sei, era a própria Rede L&C que produzia essa rádio.

Rodney Brocanelli disse...

A web radio também fracassou, Anderson.

Anônimo disse...

Se o Brasil tivesse governantes sérios, o correto seria tirar a concessão da Rede L&C, já que ela não explora sua concessão com programação própria, arrendando uma concessão pública, em benefício próprio. Não é só ela não, tem as rádios da Rede CBS e muitos outros grupos que tem inúmeras rádios, todas arrendadas a diversas igrejas. Ao mesmo tempo, temos grupos jornalísticos como a Folha, a Editora Abril, por exemplo, sem nenhuma emissora, imagino que se a programação fosse gerida por estes grupos, teríamos emissoras de qualidade.

Anônimo disse...

Já sei como ganhar a vida fácil, dentro da 'Lei'. Vou arrumar um dinheiro, e conseguir uma concessão pra minha cidade de 50 mil/hab no interior de SP, e daí quem sabe arrendar pra alguma rádio evangélica por uns R$ 50 mil mensais...
Já imaginaram? 600 mil reais limpos, descontamos alguns impostos - o governo tem que receber o dele - e pronto!! Grana honesta, com o perdão da palavra, 'coçando o saco'!!!

Que m...a!

Marcelo

Marcos Lauro disse...

Pois é, Marcelo. Se você for bem relacionado com deputados da região, consegue fácil. Depois, empresta um tanto pra gente, ok?

Anônimo disse...

A Musical MPB na internet deu errado porque simplesmente fizeram um vitrolão. E o pessoal que montou não entendia nada de rádio. Quando não se chama gente do ramo para se fazer as coisas, normalmente elas não vão longe.

Marco Ribeiro

Mauricio Barreira disse...

Fui diretor da Musical FM, a rádio MPB, durante toda a sua trajetória no dial de SP. E foi com muita alegria e prazer que tive a oportunidade de dar espaço a novos artistas da música brasileira tais como Chico César, Lenine, Zélia Duncan, Zeca Baleiro, Vânia Abreu e tantos outros. Acho natural que o estilo dos artistas lançados então pela emissora seja questionado. A rádio tinha um perfil - música de qualidade mas que também tivesse uma sonoridade mais acessível, com o objetivo de alcançar o maior número possível de ouvintes - e tentávamos ser fiéis a ele. Era uma emissora comercial e vivia de patrocínios, ao contrário da Cultura Am e da USP FM. Mesmo assim, acredito que conseguimos inovar e dar espaço a artistas que não tinham acesso à grande mídia, entre eles Tetê Espíndolla, Alaíde Costa, Luli e Lucina, Rosa Passos e Ná Ozzetti, entre outros. E promovíamos artistas de gravadoras de vários portes e também de selos independentes, não apenas da gravadora Velas, conforme você sugeriu. Nem a Musical Fm, nem os profissionais que nela trabalharam e nem os seus proprietários, nunca receberam um tostão em troca de execução de músicas em sua programação, ao contrário do que alguns detratores insinuaram após a sua extinção. Pergunte a artistas como Luiz Gayotto, Kleber Albuquerque, Katia Freitas, Madan, Juca Novaes, Dan Nakagawa, Ceumar, Jussara Silveira, Celso Viáfora, Paulo Padilha, Karnak, Pedro Luis e a Parede, Inácio Zatz e outros. Gostar ou não do tipo de programação que a Musical Fm praticava e até questionar a sua contribuição para a MPB, é um direito seu. Porém, se dez anos depois, ainda estamos falando dela, acho que contribuímos de alguma maneira. E que fique bem claro: errando ou acertando, tudo o que foi tocado e lançado em sua programação foi responsabilidade minha e dos profissionais que comigo trabalhavam na emissora, sem nenhum tipo de negociata com gravadoras. Maurício Barreira.

Unknown disse...

Pois eu ainda me emociono ao lembrar dos últimos momentos desta rádio no ar e acho que nada a superou ainda...

Unknown disse...

A rádio MPB FM do Rio, que também fechou, existe na web, e basicamente tem a mesma programação que havia na Musical FM de Sampa.

Romolo disse...

Era uma ótima rádio, excelente programação, etc....Foi-se numa década em que ficamos muito pobres de emissoras radiofônicas pelo Brasil. Foram os casos das: JB AM e Mundial AM (Rio)....Record FM e Eldorado AM (SP), Portobello FM (RS) entre dezenas de outras que nos deixaram desprovidos de entretenimento e cultura.