terça-feira, 1 de janeiro de 2008

O estado atual do nosso rádio - ou - Santa criatividade, Batman

Acredito que muita gente ache esse blog uma versão eletrônica do Jorge Kajuru. Sim, aquele Jornalista (com J maiúsculo) que parece que está sempre de mal com o mundo, reclamando de tudo e de todos. Um cricri (palavras do próprio). Afinal, aqui no blog, sempre damos nossas espetadas nos profissionais do rádio. Não é birra nem marra, apenas queremos uma programação melhor, criatividade... essas coisas meio fora de moda ultimamente.

Já escrevi nesse espaço a minha opinião sobre o rádio atual. Principalmente no FM, há uma crise de criatividade tremenda. Rádios se esforçam cada vez mais para ficarem parecidas com outras que já existem, seguindo um padrão cansado. No AM a criatividade não apanha tanto, mas as rádios jornalísticas também andam penando para saber o que o ouvinte quer. Ou seja, há muito coordenador/diretor/superintendente perdido por aí.

Prova disso é a história que recebi há alguns dias e que vou contar agora pra você, leitor da Rádio Base. Não vou citar nomes porque não vem ao caso. É uma história “genérica”, serve para ilustrar a nossa atual fase radiofônica. Aconteceu no final do morto-ainda-quente ano de 2007.

Era uma dinâmica de grupo para vaga de estágio em uma grande rede de rádios, com doze candidatos. Presentes dois profissionais de RH, responsáveis pela seleção, e dois profissionais da rede, do “alto escalão” da emissora.

Numa primeira fase, a apresentação. Ao invés daquela coisa chata de cada um ficar se apresentando, se gabando de ter feito isso ou aquilo, um ponto positivo. A apresentação teria de ser como se a pessoa estivesse no rádio, sendo entrevistada ou como entrevistador. Algo do tipo: “Boa tarde, estou aqui com fulano de tal, aluno de jornalismo de tal semestre, que vai nos contar um pouco sobre seu dia a dia...”. E todos os candidatos fizeram mais ou menos nesse padrão, que é o que estão acostumados a ouvir diariamente, certo? O entrevistador faz um rápido perfil de quem vai entrevistar ou a própria pessoa fala, também de forma rápida, o seu “currículo” (o que é mais difícil de acontecer, inclusive).

Foi só o último candidato acabar que um dos funcionários do “alto escalão” pediu a palavra. E com cara de poucos amigos foi falando com os candidatos como se já fossem seus funcionários. Para resumir, disse que não esperava ouvir o que ouviu. Disse que todos os candidatos repetiram o padrão e ele não queria isso. Ele quer estagiários que dêem idéias novas para a rádio e não que repitam o que já vai pro ar diariamente. Esperava, já na dinâmica, uma coisa nova, um suspiro de criatividade.

Agora, vejam só se eu posso saber de uma coisa dessas e não colocar aqui no blog. Quer dizer então que um diretor de uma rádio, que já deve ter no mínimo os seus vinte anos de profissão, quer que numa simples dinâmica de grupo aconteçam coisas criativas, inovadoras? Concordo com o profissional quando ele quer idéias novas. Todos nós queremos. Mas cobrar isso numa dinâmica de grupo, com candidatos a estagiário??? Não é pedir um pouquinho demais???

Também não estou dizendo que um estagiário não seja capaz de dar idéias novas, de contribuir de forma criativa com a empresa em que trabalha. Mas creio que o estado de nervosismo e a insegurança numa avaliação nem permita ficar inovando ou inventando na frente do avaliador. Isso ele vai fazer depois, já na sua área de atuação, conhecendo mais a empresa, sua chefia e outras pessoas que trabalham no mesmo local. Aí sim é possível cobrar com firmeza uma postura do estagiário. E se de repente ele estiver numa empresa conservadora, que não permita vôos muito altos, e sai plantando bananeira logo na dinâmica, seu primeiro contato com os futuros empregadores?

Mais uma vez digo que essa história resume bem o nosso atual estágio. Um “diretor” de uma emissora de rádio depende de candidatos a estagiário para inovar, criar e levar um conteúdo diferenciado para o seu ouvinte. A tal dinâmica não parou por aí, mas creio que só isso já basta para entendermos a quantas anda o nosso querido rádio e seus poderosos chefões.

Aos 12 candidatos: Relaxem. Ele devia estar num mau dia. Ou na profissão errada.

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