A POLÊMICA DA NOVA BRASIL FM E A ARMAÇÃO DO "FUNK"
Alexandre Figueiredo
O Brasil tem ainda um espaço limitado à verdadeira música brasileira. Pode ser um fenômeno curioso, mas em termos de penetração na mídia e apelo popular, a Música Popular Brasileira - aquela que resultou na fusão da música de protesto dos CPC's da UNE, da Bossa Nova e do Tropicalismo, consistindo na música brasileira de alguma qualidade de hoje - , ou seja, a nossa MPB, virou o Rock Brasil da atualidade. Sim, porque um artista como Milton Nascimento, por exemplo, soa quase distante para o brasileiro médio do que Deep Purple.
Há rádios que, em formatos variados, dão espaço relativo à MPB. Em todo o país, existem sempre rádios que de uma forma ou de outra, incluem a MPB dentro do cardápio musical. Mas rádios especializadas, ou melhor, exclusivamente MPB, são muito raras.
Para piorar, há um tipo de música herdada do brega brasileiro (Waldick Soriano, Odair José) que se tornou hegemônica no país e que agora põe a própria MPB em segundo plano. Há locais no Brasil onde não há um artista local de MPB. Por outro lado, vemos uma enxurrada de tendências ligadas ao grotesco que, não satisfeitas em permanecer no establishment, querem agora vender a imagem falsa de "verdadeira cultura popular". A reboque disso, vários intelectuais estão falando bem dessas tendências, com uma insistência que lembra os antigos pregadores do IPES/IBAD, os dois institutos de fachada que contribuíram para a instalação da ditadura militar no país.
Essas tendências, que constituem o brega-popularesco, são o breganejo (Chitãozinho & Xororó, Zezé Di Camargo & Luciano), axé-music (Chiclete Com Banana, Babado Novo), forró-brega (Banda Calypso, Calcinha Preta), pagode romântico (Exaltasamba, Alexandre Pires), pagode pornográfico (É O Tchan, Gang do Samba) e "funk" (Tati Quebra-Barraco, DJ Marlboro), entre outros. Todos, de uma forma ou de outra, herdeiros de uma perspectiva pretensamente cultural lançada por Waldick Soriano, Odair José e respaldada principalmente por rádios comandadas por latifundiários e políticos de extrema-direita.
A música brega-popularesca é uma espécie de populismo musical orquestrado pelas grandes gravadoras, pelos donos de TV, pelos proprietários de terras. Sob o pretexto da origem pobre de seus ídolos (hoje estão até mais ricos do que a antiga elite da Bossa Nova e seus herdeiros), a música brega-popularesca passa a pretensa imagem da "verdadeira música popular". Ela nada tem a ver com MPB, mas quer tomar seu lugar. Quem lê autores como Umberto Eco, Milton Santos, Ruy Castro, José Ramos Tinhorão, sabe que a música brega-popularesca não é mais do que "cultura de massa", que era como os professores da Escola de Frankfurt (Alemanha), como Theodor Adorno e Walter Benjamin, se referiam à "cultura" como uma reles mercadoria trabalhada ou remoldada pelos meios de comunicação. Numa comparação aproximada, a cultura popular seria os horti-fruti-granjeiros, a "cultura de massa" seria os enlatados ou manufaturados que apenas imitam o sabor ou aroma dos horti-fruti-granjeiros.
Num país com crise de valores, com violência extrema cometida até pelas elites e com a corrupção cafajeste de políticos até de esquerda, a música brega-popularesca tornou-se a trilha sonora dessa bagunça toda, inclusive com o faz-de-conta de ídolos veteranos (Chitãozinho & Xororó, Harmonia do Samba, Daniel, Alexandre Pires, Gang do Samba, Zezé Di Camargo & Luciano etc.) que, quando ultrapassam o quinto CD depois de um desempenho comercial sem quedas, posam de "grandes nomes da MPB" com discos não menos medíocres que os anteriores, mas que tem a "crise" de (in)capacidade criativa compensada com covers oportunistas de sucessos da MPB. Afinal, têm dinheiro suficiente para comprar regravações tendenciosas e até para arrumar duetos encomendados com nomes da MPB como Zé Ramalho, Renato Teixeira, Zeca Pagodinho e Chico Buarque.
Diante desse efeito estufa da cafonice ameaçando a cultura nacional - que se perderá com essa gororoba sem identidade nacional, nem regional, nem cosmopolita - , é evidente que devemos ter mais rádios de MPB para reagir a esse sucateamento cultural e seus defensores acadêmicos com seus apês na Barra da Tijuca. A Nova Brasil FM tem defeitos evidentes: de fato, a linguagem Jovem Pan 2 nas vinhetas, a locução em cima das músicas, a restrição aos sucessos e medalhões e a presença até de locutores mauriçolas (como William Mayer, da escola Ruy Bala/Emílio Surita de rádio) baixam a cotação da Nova Brasil. Mas um ponto ela tem de bom: ainda não se rendeu ao canto de sereia de Zezé Di Camargo & Luciano, Chitãozinho & Xororó, Alexandre Pires e DJ Marlboro. Acredito que existem pressões para tal, e a Nova resiste. Mesmo com os dois filhos de Xororó invadindo o jet set da MPB pela porta da frente, a custa de alguns ingênuos padrinhos condescendentes.
O mais grave disso tudo é a armação do "funk carioca", que está enganando direitinho muita gente, incluindo até mesmo os cientistas sociais, pasmem. Tanto discurso bonitinho, que parece propaganda do Criança Esperança, e ninguém repara que o "funk" balança ao ritmo do plim-plim, porque a atual onda funkeira nada seria se não fosse a tutela EXPLÍCITA da Rede Globo de Televisão, que faz até mershandising com o ritmo. Será que ninguém percebe que até o DJ Marlboro é contratado da Som Livre? É tanta gente, cínica ou ingênua, achando que o "funk" ainda é underground (pode isso? querendo comparar o "funk" a, por exemplo, o ótimo mangue-beat. Mas, ouvindo um e outro, que diferença!! O "funk" tornou-se a maior fraude da história da música e o jabaculê mais rentável dos últimos cinqüenta anos. Não tenho o menor preconceito com coisa alguma, e a qualidade lamentável do "funk carioca" é algo que pude conhecer porque a vizinhança e o comércio das ruas toca muito esse gênero neo-brega.
O que devemos lutar é por mais rádios dedicadas à verdadeira Música Popular Brasileira. Falta as tendências mais antigas, como os velhos samba e baião. Faltam os nomes mais obscuros, as músicas menos conhecidas. Falta também um alcance maior da MPB no território nacional, para varrer do mapa sobretudo os Bruno & Marrone e Aviões do Forró que agora os latifundiários empurram para o povão. Ou para varrer nomes de triste lembrança como o baiano Chiclete Com Banana, cujo vocalista Bell Marques se envolveu até com sonegação fiscal.
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Estava na FLIP até ontem e o Lobão falou muitas coisas interessantes sobre a indústria fonográfica brasileira. Segunda eu apronto os textos e publico aqui.
17 comentários:
Por falar em Nova Brasil, eu fazia parte da comunidade da rádio, mas decidi sair. O motivo foi pelo fato de eu contestar o nível da programação e o slogan "Música brasileira de qualidade". Falei que eles estavam apelando para o popularesco colocando na programação artistas do nível de Ivete Sangalo, por exemplo. Ela já tem muito espaço na mídia, e suas músicas tocam em inúmeras rádios populares existentes pelo país. Alguns ouvintes começaram a criticar o meu depoimento, inclusive dizendo que a Ivete é uma cantora muito talentosa, e o meu tópico foi simplesmente apagado.
Isso não é democracia!
É, Xará, a situação está muito feia. Na verdade, a Nova sofre pressões do mercado e tem que se ajustar a ele. Se aderisse a Zezé Di Camargo & Luciano (que aliás chamaram Ivete para duetar com eles no recente CD da dupla), pegaria mal para o público intelectualizado paulista. Claudinho & Buchecha só entra na Nova nas versões do Kid Abelha e Adriana Calcanhoto (sob o codinome Partimpim). Por enquanto não vemos esses nomes na Nova, mas existe a ameaça do breganejo e do "funk" entrarem na programação da Nova. O lobby do "funk" é tão grande que existem professores universitários querendo comparar o gênero ao samba e ao maxixe. O que, na verdade, nada tem a ver.
Ah, isso é verdade. O que tem de intelecutalóide que defende o funk carioca com unhas e dentes não está escrito.
Acho que é um movimento válido, que deve existir para satisfazer um determinado grupo de pessoas. Mas torná-lo mainstream, só vai prejudicar o próprio movimento. E os meus ouvidos também.
Mas de uma forma ou de outra a Nova Brasil se rende ao mercado.
O funk carioca ou o sertanejo brega podem não entrar na programação por ficar tudo escancarado demais, mas Adriana Calcanhoto cantando Claudinho & Buchecha é normal! E, na Alpha FM (que não é uma rádio especializada em MPB - e cuja relação com o mercado e com seu público merecia um tópico independente) já ouvi aquelas locutoras sem sal falarem aquele texto padrão "a música brasileira que é respeitada no mundo todo" (que usam quando tocam MPB) para a regravação da Adriana Calcanhoto.
Pior que o brega é a falsa MPB de qualidade.
Bom, eu já ouví Ivete Sangalo e suas baladinhas na Alpha. E, sinceramente, não acho nada demais nisso.
Parece que a Ivete Sangalo é vista pelos fãs e mídia como uma "Diva incontestável". Todos têm direito de gostar dela, mas deveriam colocá-la em seu devido lugar. Ela tem boa voz mas se trata meramente de uma cantora brasileira de DANCE MUSIC, já q o gênero musical que ela canta não passa de uma adaptação brazuca de uma tendência feita APENAS para as PISTAS DE DANÇA. Axé e Funk não são arte, são apenas diversão para sacudir o esqueleto. Surgiram com esse objetivo apenas. Voltando a Ivete, ela tem valor sim, mas meramente como entretenimento. O Brasil já possui Maria Rita e Marisa Monte para o posto de melhores cantoras do país. Ivete só sabe fazer dançar. Ah! As baladinhas que ela canta copiam o formato norte-americano, o que contribui mais ainda para ela se distânciar do rótulo de MPB. Que a Nova FM deixe a Ivete dançar em paz e se preocupe mais em tocar cantoras REALMENTE compromissadas com a música brasileira.
Não concordo, Marcelo.
Que a música "de Ivete" (como dizem) seja pra dançar, até passa. Mas que não é "música brasileira", aí já é forçar a amizade.
MPB eu não digo que é, porque MPB já é um rótulo tão desgastado que nem deveria existir mais. Até Seo Jorge chamam de MPB.
As baladinhas podem ser puxadas pro R&B norte-americano? Sim, lógico que são. Palmas para o produtor, que soube ir pro caminho que a grande massa gosta. Acho que ninguém cogita a possibilidade de Ivete ir para caminhos alternativos, né?
Todos têm sua função na sociedade. A função de Ivete é ser mainstream, jogar pra galera, pular, fazer pular. Um mundo só de Los Hermanos e Radiohead seria chato demais.
E Ivete não faz música brasileira. Faz música brasileiríssima. Se não, ela faria sucesso na Europa, e não aqui.
A Ivete Sangalo tem seu valor, sim! E é autêntica no que faz (ainda que o que faça possa ser considerado como puro comércio).
Mas é música brasileira... tem seu público e tem seu valor. Concordo que um mundo só de Los Hermanos e Radiohead seria chato e gosto de escutar de tudo. Cada música tem seu momento e sua "função".
O problema da baladinha da Ivete na Alpha não é o fato de uma cantora tão popular estar numa rádio tão "de elite" (mesmo porque suas baladinhas podem ser de mais bom gosto que muita cosia que toca na Alpha e nas suas concorrentes diretas). O problema nesse caso é a máscara que isso tem de "classe, requinte e qualidade" que essas rádios colocam. Aí pra mim começa a bagunça!
O meu problema não é com a música... é com o rótulo elitista de revista Caras. Eu sei que isso é só uma questão de posicionamento e que o público de Alpha/Antena 1 (e por que não Nova Brasil) quer ouvir o tempo todo que tem bom gosto. Só que o posicionamento dessas rádios - e que não se restringe às rádios - acaba mudando conceito na música como um todo.
O produto que a empresa toca por jabá é anunciado dentro do posicionameento da emissora... e o produto é visto como a emissora quer!
Aí Ivete é uma das maiores cantoras da MPB e funk carioca é mangue beat.
Sobre o rótulo elitista, não seria a Ivete Sangalo uma cantora de elite, de classe média, burguesa?
Fez-se tanta bronca contra os cantores de MPB porque eles viviam em Ipanema e Leblon e gostavam de música popular. Mas vejam a Bossa Nova. Todo mundo pensa que seus cantores e músicos ficaram podres de ricos com a BN, mas não é verdade. Eles não ficaram pobres, também, e até vivem com algum conforto. Mas muito do que a BN rendeu foi para as mãos dos editores, empresários e estrangeiros que exploravam o estilo.
Por outro lado, no brega-popularesco, vemos verdadeiros magnatas que ainda tentam vender a imagem (superada) de "pobres": Chiclete Com Banana, Chitãozinho & Xororó, DJ Marlboro, Ivete Sangalo, Tati Quebra-Barraco, Latino, Zezé Di Camargo & Luciano, Asa de Águia, Sandy & Júnior, Wanessa Camargo, etc., etc., etc..
O que o DJ Marlboro arrecadou de grana é comparável, em honestidade e quantidade, a Marcos Valério, Delúbio Soares, Zuleido Veras etc.. Vale lembrar que jabaculê é uma espécie de mensalão para as rádios, TVs e jornais.
Vale lembrar a "polêmica" no última carnaval bahiano, com alguns artistas reclamando do preço que se cobra para ir atrás dos trios elétricos. Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu ou quem não tem grana mesmo!
Malditos piratas, que não me deixam ouvir a Rádio USP em paz. Que queimem todos no fogo da Anatel. Aliás, a USP FM é muito superior à Rede Nova Brasil FM. O mesmo pode se dizer da MPB FM carioca. O pessoal do Rio reclama tanto da Nova Brasil, uma emissora que faz nós, paulistas, passarmos vergonha via satélite, dado à fraca qualidade de sua programação, que se esquecem que daquele lado da Dutra há uma alternativa melhor. E se não tiverem pruridos de revirar a internet, vão encontrar muitas emissoras melhores também. E antes que eu me esqueça, baiano é sem h, Marcão.
Caro Marcos, não entendi esta questão "ir atrás do Trio Elétrico". Quem tem de pagar? Os foliões ou os artistas?
Quem vai atrás é o público. Os artistas vão em cima! heheh
Mas a frase ficou ruim mesmo. Foi mals æ!
NÃO ME CONFORMO COM AQUELAS PESSOAS QUE MUITO ME AJUDARAM A FORMAR UMA OPINIÃO SOBRE A MUSICA RUIM HOJE DEFENDE-LAS COM UNHA E DENTES.SINCERAMENTE NÃO ESPERAVA.
"Nas favelas no senado sujeira prá todo lado!"
"Terceiro mundo se for , piada no exterior"
O Brasil , juntamente com Paraguai e paises pobres da africa,é o país mais desigual do mundo segundo a ONU.
E em muitas Universidades brasileiras ,principalmente as particulares toda festa de universotários é no ritmo do funk e do tal pagode e sertanejo universitário.
Muitas universidades em vez de formar cidadãos estão formando idiotas
Nós sabemos porque a rede globo apóia esse lixo todo é por causa do $$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$ . E de onde vem tanto dinheiro.
Na wikipédia havia um artigo extenso explicando sobre o brega.Eles(os que apoiam o ridiculo) conseguiram($$$$$$) mudar . Meses atráz verifiquei que tinham modificado. Com o texto novo entende-se que só existe brega no norte e não existe brega-popularesco. Porque a minha preocupação com isso ? Por que muitos estudantes fazem trabalho escolar baseado no que leem na wikimentira.
Viva! Roberto , Ivete, Chitaozinho,Zezé & Luciano , È o tchan, Mc Créu, Bruno e Marrone Viva o Ridiculo a idiotice....Viva!
A inteligência está morrendo Viva la burrice!Viva os idolos do Brega nacional!
Faxineiro
se as rádios adultas tocam breguise americana como celine dion,lara fabian e sullivan e massadas daqui a pouco vai tocar chitãozinho e xororo,wando,alexandre pires e zezé di camargo e luciano,nova brasil fm não toca só ivete sangalo toca jota quest,cidade negra e o rappa.
na nova brasil fm escutei a música do fagner da autoria de sullivan e massadas deslizes de 1987,abraço atraves do furação de brasilia.
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