quarta-feira, 1 de junho de 2005

Band News FM - melhor do que a CBN?

Emissora all news é a novidade no ar
Adhemar Altieri (*)
Do Observatório da Imprensa

O recente lançamento em São Paulo da BandNews FM, uma rede de emissoras FM que transmite exclusivamente notícias, merece os mais efusivos aplausos. Trata-se de um acréscimo valioso para o radiojornalismo brasileiro, que chega por iniciativa de uma empresa com sólida tradição no meio rádio: o Grupo Bandeirantes nasceu em 1937 com a Rádio Bandeirantes, três décadas antes da chegada da TV ao grupo.

A BandNews FM traz novidades em várias frentes, e a maioria delas chega ao Brasil com um certo atraso. Por exemplo, é a primeira emissora do país a adotar, de fato, o formato all news, transmitindo notícias o tempo todo em noticiários consecutivos atualizados continuamente, 24 horas por dia.

O que se viu no Brasil até agora foram emissoras erradamente chamadas de all news, pois apresentam notícias mescladas com programas de debate, entrevistas longas e, em alguns casos, futebol. Esse formato, adotado, por exemplo, pela rede CBN, não é all news e sim news-talk – e a diferença entre os dois é acentuada.

Vinte minutos

A pioneira das rádios all news foi a WINS, de Nova York, criada em 1965 pelo então poderoso (e hoje extinto) Group W de emissoras. O "W" é de Westinghouse, empresa mais conhecida no Brasil por suas geladeiras e máquinas de lavar roupa, mas que na época dominava o processo nos Estados Unidos de ponta a ponta: fabricava transmissores, aparelhos de rádio, e era dona de algumas das mais tradicionais emissoras do país.

A CBS News, outra grande rede de rádio e televisão, adotou o formato all news em várias de suas emissoras e consolidou o chamado ciclo de 30 minutos, com noticiários consecutivos, no ar pontualmente nas horas cheias e meias horas.

Na década de 1980 surgiu o formato que a BandNews FM acaba de adotar, com ciclos de 20 minutos – noticiários atualizados na hora cheia, aos 20 e aos 40 minutos de cada hora.

Criado por uma das rivais da CBS – a NBC News –, o ciclo de 20 minutos foi desenvolvido a partir de pesquisas mostrando que o tempo disponível do ouvinte americano estava ficando cada vez mais escasso. Em 1985, muitos já achavam 30 minutos tempo demais para dedicar a um noticiário.

Para lançar a novidade e enfatizar a vantagem dos ciclos mais curtos, a NBC utilizou o slogan "Give us twenty minutes, and we’ll give you the world" (você nos dá 20 minutos e nós lhe entregamos o mundo), aliás muito próximo do slogan que a BandNewsFM está utilizando: "Em 20 minutos, tudo pode mudar".

Chacoalhada no mercado

O formato all news recebeu um grande incentivo na década de 1980 com a ampla desregulamentação do meio rádio nos Estados Unidos, promovida pela Federal Communications Commission, a poderosa FCC. Uma das medidas mais impactantes foi o fim da obrigatoriedade de emissoras de rádio produzirem noticiários, o que levou ao desaparecimento de milhares de pequenas redações em todo o país.

Foi um mau negócio para novos jornalistas, que perderam uma importante porta de entrada para a profissão. Nessas pequenas redações, de três ou quatro pessoas, estava o primeiro emprego para muitos profissionais da notícia. Por outro lado, a desregulamentação estimulou fortemente a segmentação no rádio, já que emissoras musicais se concentraram em seu foco principal e deixaram o jornalismo para emissoras especializadas – all news ou news talk.

A concentração de ouvintes que queriam jornalismo nas emissoras especializadas levou a uma situação que persiste até hoje no maior e mais avançado mercado de rádio predominantemente privado do mundo. Em todas as principais cidades dos Estados Unidos, as emissoras all news são líderes ou fortes concorrentes à liderança de audiência. Trata-se, portanto, de um formato testado, aprovado e vencedor, resistente inclusive às novas tecnologias.

Mesmo com a chegada de novas redes de rádio distribuídas por satélite, e a preferência crescente do público jovem pelo rádio transmitido via internet – o audio streaming – emissoras americanas all news continuam lucrativas operando em AM e pela web, sem necessidade de retransmitir seu sinal em FM, como fazem as principais rádios jornalísticas de São Paulo para combater a migração de ouvintes de AM para FM.

A BandNews FM parece disposta a adotar uma estratégia comum há décadas entre as grandes redes americanas que fazem jornalismo por rádio e TV, que é a forte sinergia entre redações, com âncoras e correspondentes participando tanto dos noticiários de rádio quanto da TV. A escolha de Carlos Nascimento para ancorar as manhãs da nova rede é o primeiro sinal dessa opção. A CBN já vem fazendo isso com nomes importantes da TV Globo, como Arnaldo Jabor, Franklin Martins e Renato Machado, mas são participações em segmentos especiais, e não na ancoragem de noticiários ou com reportagens

Positiva também é a movimentação no mercado causada pelas várias contratações feitas pela BandNews FM, algo que há muito não se via. Para montar a equipe, foram contratados profissionais de outras emissoras e outros que haviam deixado o rádio para outras mídias. Importante ressaltar o resgate de alguns excelentes profissionais, como a âncora Ana Lúcia Moretto, de volta ao rádiojornalismo após dois anos de afastamento

Jornalismo local

Mesmo menor em termos de audiência, faturamento e número de emissoras, o rádio brasileiro tem um perfil muito parecido com o dos Estados Unidos. A maioria das emissoras é privada e o rádio público ocupa menos espaço do que na Europa. As principais diferenças estão na saúde financeira do meio rádio – muito boa na América do Norte em geral e boa apenas isoladamente no Brasil – e na segmentação, fato consumado e crescente por lá, mas ainda encarado com suspeita e resistências infundadas por aqui.

Por tudo isso, uma iniciativa como a BandNews FM tem tudo para impactar o público brasileiro da mesma forma que as all news americanas vêm conquistando números expressivos de audiência há décadas. O projeto pode ganhar parcela importante da audiência de rádio mesmo em uma cidade como São Paulo, que exibe uma característica rara: tem cinco emissoras que priorizam o jornalismo, situação que não encontra paralelo em nenhuma outra grande metrópole do planeta.

Para garantir bons resultados, é fundamental que a BandNews FM não cometa o mesmo engano de outras iniciativas em rede, tanto em rádio como em televisão, que privilegiam a conveniência do produto pronto – e, portanto, barato – para suas afiliadas. Acabam "enlatando" um país com profundas diferenças regionais como é o Brasil. O rádio permanece uma mídia fortemente local, o que significa que a afiliada ideal da BandNews FM deve ser uma emissora que também produza notícias locais para seu público, com sua própria equipe.

Se há uma falha a registrar, é a ausência de um site próprio da BandNews FM, para acesso online ao áudio e disponibilização de conteúdos em texto e áudio on demand. Todas as principais emissoras que seguem essa estratégia têm sites extremamente dinâmicos, verdadeiras extensões do trabalho realizado no ar. É uma ferramenta indispensável, que pode levar um projeto dessa natureza a se tornar referência nos mercados que atua – inclusive entre jornalistas de outras redações.


(*) Jornalista, foi diretor de jornalismo da Rádio Eldorado de São Paulo e telejornais regionais do SBT, e editor-chefe das redes canadenses CBC e CTV; é comentarista do BBC World Service, editor do site InfoBrazil.com e diretor de comunicação do Instituto de Hospitalidade, dedicado ao desenvolvimento sustentável do setor turístico brasileiro

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Eu quero que você responda, meu amigo, minha amiga, você que é um simples ouvinte de rádio e que não é jornalista: você ligaria numa rádio das 7h às 7h20 da manhã para se informar sobre tudo o que aconteceu no mundo ontem em apenas 20 minutos e depois desligar o rádio? Você teria saco para ouvir uma rádio que dá as notícias em tom quase monótono, sem a intervenção de reportagens ao vivo de fora do estúdio? Você escutaria uma rádio que não varia o formato de seus programas - debates, revistas, programa de análises, programas de entrevistas, transmissões esportivas, programas de variedades - diferentemente do que fazem emissoras líderes e respeitadas como Rádio Gaúcha, Guaíba, Jovem Pan, CBN, Eldorado e a própria Bandeirantes?

Você acha que o ouvinte americano se comporta igualzinho ao brasileiro ou que os hábitos radiofônicos dos cariocas são rigorosamente iguais aos dos paulistas, por exemplo? Enforque-se nesta corda chamada liberdade (segundo Antonio Abujamra) e responda se for capaz.

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