sábado, 6 de março de 2004

FM faz "operação caça-talento" no teatro para ampliar humor

Laura Mattos
Da Folha de São Paulo

A Jovem Pan FM montou uma "operação caça-talentos" em grupos de teatro. Em décimo lugar no ranking do Ibope, a emissora pretende descobrir novos comediantes a fim de criar um ou mais programas de humor. A razão dessa aposta é o bom desempenho dos quadros originários da peça "Cócegas" -o da adolescente Thati (Heloísa Périssé) e o das Cachorras (ela e Ingrid Guimarães). No ar desde setembro, agradam a 90% dos ouvi ntes, segundo pesquisa interna.

"Cócegas" ficou em cartaz por três anos no teatro-até antes deste Carnaval- e foi vista por mais de 350 mil pessoas. Thati, uma de suas personagens, migrou para o "Fantástico" (Globo). Na Pan, são sete edições diárias, com dois minutos cada uma. "Nós só não transformamos em um programa maior porque as duas (Périssé e Guimarães) estão em vários projetos e não têm tempo", afirma Luiz Augusto Alper, 43, diretor artístico da Pan.

Sua intenção é ampliar o humor na programação, já que as maiores audiências são registradas pelos cômicos "Paulo Jalaska" e "Pânico" -que ganhou versão televisiva aos domingos na Rede TV!. Alper era o diretor artístico da 89 FM quando estourou o fenômeno humorístico "Os Sobrinhos do Athaíde" (1995-1999), com seu surfista Peterson Foca. Também nessa época, a rádio absorveu da televisão o caricato repórter Ernesto Varela (Marcelo Tas).
"Precisamos de novos comediantes e não estamos vendo nada nascendo no próprio rádio. Por isso vamos procurá-los no teatro. Queremos encontrar pequenos grupos capazes de criar, produzir e atuar. Já temos alguns na mira, que gravaram pilotos [testes]", diz o diretor artístico da Pan. "Mas nem tudo que funciona no palco ou na TV dá certo no rádio. A busca deve ser cuidadosa."

A relação entre dial e teatro já foi intensa, principalmente na chamada "era de ouro" do rádio (décadas de 40 e 50). "Havia a radionovela, embrião da novela da TV, e o radioteatro, comparável às minisséries televisivas", diz Mario Fanucchi, 79, que já atuou como professor da USP, locutor da Tupi e da Difusora, e diretor artístico da Jovem Pan e TV Cultura.

Segundo ele, as radionovelas tinham histórias simples, para agradar a maioria do público. Já os radioteatros contavam com produções mais sofisticadas e adaptavam textos clássicos, a fim de atingir o ouvinte mais intelectual. "Nos anos 40, Walter George Durst [1922-1997, pioneiro da TV] comandava na rádio Tupi o famoso "Cinema em Casa", clássico do radioteatro. Adaptava para o rádio até filmes do Hitchcock."

laura@folhasp.com.br


Acho que a Jovem an vão recisar muito mais do que meros "novos comediantes a fim de criar um ou mais programas de humor". Vai precisar de um projeto arrojado, quesaia desses esquetes de humor, na sua maioria totamente sem graça alguma. Eles vão precisar de pessoas que saibam escrever textos de humor para rádio, que saibam, elo menos, que rádio não é tv sem imagem, que tenham criatividade, para sair do lugar comum da maioria dos programas de besteirol.

As "Jovens Pans" se notabilizaram num passado recente por produzirem programas de humor modernos. A fórmula foi copiada e desgastada pela concorrência. Outras formas de humor vieram e foram embora do rádio. Pelo menos desta vez, a Pan foi buscar os futuros profissionais do humor no lugar certo. Quem sabe esta procura sirva para uma outra emissora se encoraja e resolva trazer de volta um gênero que anda tão em baixa quanto o ministro Zé Dirceu: a radiodramaturgia.

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