quinta-feira, 28 de junho de 2007

Quando falam bobagens ao microfone

Há certas horas que nem uma emissora zelosa do seu dever de informar escapa do vexame de algum de seus comentaristas soltar bobagens que ouviu de suas fontes. Ainda hoje de manhã, um colunista da Band News FM disse que as grandes empresas não estão encontrando mão-de-obra especializada para preencher suas vagas. Faltam profissionais especializados no mercado, o que é uma mentira sem tamanho, ainda mais com faculdades despejando recém-formados aos montes a cada 6 meses. Sem contar aqueles que estão desempregados há séculos, pois o mercado de trabalho diz que eles não servem mais porque, além de experientes, são velhos demais para "o mercado". Diante disso, não me contive e escrevi a seguinte missiva ao âncora Ricardo Boechat.
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Caro Boechat,

Me desculpe, mas o colunista que falou agora há pouco sobre falta de mão de obra especializada nas grandes empresas não contou toda a verdade. Acontece que, como está sobrando muita gente no mercado, elas ( as empresas) escolhem demais e acabam não pegando ninguém. "Não tem gente especializada para preencher as vagas". Isso é conversa mole pra boi dormir!!!!!!

Eles querem jovens com no máximo 25 anos de idade, com 10 anos de experiência na área, de preferência no exterior!!! Sabe onde eles vão achar profissionais com este perfil? Nem no quinto dos infernos. Se você é recém-formado, não serve porque não tem experiência. Se já tem muita experiência, não serve porque tem mais de 40 anos.

E no Brasil quem 40 ou mais anos de vidas, não serve para trabalhar, segundo essas mesmas empresas, que choram de barriga cheia. Eu mesmo estou me aproximando da fatídica idade e não consigo emprego em lugar algum. Bem feito. Quem mandou ser jornalista e estar desempregado há cinco anos? Foda-se. "Você não serve para o mercado", dizem eles, muito embora eu tenha plena convicção de que estou no auge da minha perfomance profissional e posso muito contribuir com qualquer equipe da qual venha fazer parte, se algum dia isto acontecer. Creio que o meu vizinho, que é engenheiro químico, pense da mesma forma. Mas os nossos possíveis empregadores, não. Preferem verter lágrimas de crocodilo, dizendo que não são profissionais suficientemente bons para suas importantes vagas.

Desculpe ser repetitivo, mas nunca aguentei ouvir uma pessoa falar tanta besteira ao microfone. Sei que não é culpa do comentarista, afinal ele só reproduziu o que ouviu. A culpa é dos altos e competentíssimos executivos de empresas brasileiras, que preferem contratar empresas "especializadas" em não contratar ninguém, exceto quem é mais bonitinho ou tem o currículo mais perfumado. Será que estes, que reclamam da escassez de mão de obra, já tentaram eles mesmos entrevistar os futuros pretendentes na base do "olho-no-olho", e sentir se o candidato "é do ramo", tal qual se fazia antigamente? Deixo aqui esta pergunta que peço que a repasse a esses empregadores.

Obrigado pela atenção e me desculpe pelo desabafo mais uma vez.
Marco Antonio Ribeiro
Jornalista e desempregado

Um comentário:

FG-News.blogspot.com.br disse...

Caro jornalista
Marco Antônio Ribeiro

Compreendo o azedume do colega e nem poderia ser diferente. Mas, cá entre nós, vai ficar pior. Dê-se um tempo e você verá do que estou falando. De qualquer forma, você já parou para pensar que as redes vão crescendo, crescendo, crescendo e os profissionais nelas (sub)empregados vão minguando, minguando, minguando?
Pois é... o buraco é mais no meio. No planalto, que é pra você não pensar bobagem. Hoje, um candidato (perdão pela inevitabilidade do termo) à concessão radiofônica é contemplado com uma rádio em uma cidadezinha ao redor de São Paulo, deixa por lá o transmissor, monta um estúdio na capital, embola ainda mais o mercado, opera à margem da própria concessão e nem se preocupa em arregimentar equipes de profissionais no mercado para "tocar" uma programação digna, o mínimo que se espera dele. Ou seja, o espertalhão, passa a ser um mero locador de espaço e vira as costas, inclusive, para os moradores da cidade detentora da concessão, que ficam "sem voz" e com cara de bobo. Tá cheio de empresário assim. Gente, aliás, considerada de primeira linha, com cara de santo e tudo o mais. E, no planalto, ninguém vê nada. Até porque o exemplo vem de cima e, lá, nas alturas, parece que o problema de cegueira - e de audição - é crônico. Ninguém vê, nem ouve nada. Em todos os sentidos, se é que você me entende. O problema, meu caro Marco Antônio, não é de falta de mercado de trabalho. É de falta de empresários autênticos no mercado de trabalho. Estamos vivendo a fase do oportunismo puro, em que o objetivo é o lucro a qualquer preço, sem nenhuma responsabilidade. E os "caras de pau", ainda fazem questão de lembrar ao distinto público que "o programa a seguir é uma produção independente. Não temos nenhuma responsabilidade pelo seu conteúdo". Vá lá que não tenham responsabilidade pelo festival de barbaridades que, via-de-regra, inundam o "éter", por assim dizer, mas deveriam ter, pelo menos, vergonha na cara. Por último, a culpa não é do Boechat e de tantos outros, por aí. Cabe-lhes, isto sim, o papel de coniventes com a situação. Mas, daí, a você (e eu)imaginar que eles poderiam se preocupar com isso, vai uma grande distância. Tão grande quanto aquela que separa os insondáveis mistérios entre o céu e a terra; impossível de ser mensurada, como intui, de antemão, a nossa vã filosofia. Uma bela saída seria, quem sabe, nos unirmos em um grande coral e entoarmos o sucesso gravado até por (quem diria?) Eliana, a ex-musete-infantil, que hoje, descasada, tem mandado ver, sem pudor, o refrão mais despojado da atualidade. Sim, Marco Antônio, é aquele mesmo em que você está pensando. E, claro, com uma dedicatória especial para esses pseudo-empresários da comunicação, como "prova de profundo carinho e grande consideração".

Flávio Guimarães