terça-feira, 10 de abril de 2007

Exclusivo: o livro inédito sobre a 89 FM

Em 2005, a alta direção da 89FM encomendou ao jornalista Ricardo Alexandre um livro que contasse sua trajetória desde que passou a investir no rock n’roll. Ele faria parte das comemorações de seu vigésimo aniversário. Por uma série de fatores, seu lançamento não aconteceu no período previsto. E a emissora nem esperou o vigésimo primeiro aniversário para torná-lo público. 2006 marcou o início de uma profunda reformulação, fazendo com que a 89 FM deixasse definitivamente de ser “a rádio rock” para disputar de forma mais agressiva a audiência do público jovem em geral, adicionando ao seu play-list pitadas de R&B, dance music e rap. Não há previsão para uma publicação imediata do livro.

Ricardo Alexandre é autor de “Dias de Luta” (2002), um livro-reportagem bastante elogiado que detalha a história da geração de bandas do rock nacional que surgiu (e explodiu) na década de 1980. A 89 FM ocupa aproximadamente três páginas dele. Ricardo resume em quais circunstâncias ela apareceu no cenário radiofônico e fala de bandas que lançou, como o Violeta de Outono, com direito a depoimento de Fabio Golfetti.

O tom crítico de “Dias de Luta”, obviamente, não aparece neste livro sobre a 89 FM. Em compensação, Ricardo procura acentuar mais a angústia vivida por sucessões de coordenadores e diretores artísticos para encontrar um meio termo entre o sucesso artístico e o sucesso comercial. Decisão acertada, pois dessa forma o texto não fica tão chapa-branca. Outro ponto a favor caso a obra seja publicada algum dia: o texto é acessível tanto aos profissionais do mercado radiofônico, como aos ouvintes fiéis que não abandonaram a emissora nesses quase 20 anos de “rádio rock”.

Um dado curioso é que a espinha dorsal da narrativa se concentra nas figuras dos coordenadores ou diretores artísticos que lá passaram em todo esse tempo. À primeira vista, pode parecer estranho, mas ao longo do texto, talvez sem querer, Ricardo mostra que existiu espaço para um certo “rádio de autor”, ainda que dentro da citada angústia de tornar a rádio atraente do ponto de vista comercial. Cada um dos profissionais pôde fazer a rádio que tinham em mente, de acordo com seus respectivos perfis, e ajudados pela conjuntura musical do período. Fabio Massari, por exemplo, levou a 89 FM para uma linha mais alternativa, aproveitando o aparecimento do grunge. Por sua vez, Luiz Augusto Alper teve de fazer uma rádio mais comercial, até por causa do esgotamento do mesmo grunge.

Ainda sobre os manda-chuvas da rádio, Luiz Fernando Magliocca ganha um olhar mais simpático talvez por ter criado o conceito de “anti-rádio” que marcou o início de suas transmissões. Porém, ao falar desse personagem, o texto derrapa. A forma como Magliocca conduziu essa transição está bem contada. No entanto, não se avança em nada naquilo que está registrado no próprio “Dias de Luta” e em entrevistas que ele próprio concedeu a sites especializados em rádio.

O livro sobre a 89 FM tem espaço para pequenas histórias, algumas divertidas, outras nem tanto, que ajudam a ilustrar o dia-a-dia da rádio. Uma delas no entanto, caberia muito bem em “Dias de Luta”. Em 1994, uma entrevista de Paulo Ricardo ao apresentador Tatola quase termina em briga corporal. Nessa época, ele estava em mais uma de suas tentativas de tirar do limbo o RPM. A banda iria abrir na ocaisão para o INXS e trabalhava na divulgação da música “Pérola”. Segundo o relato de Fábio Massari, o cantor chegou aos estúdios dando a impressão de que iria aprontar algo. Durante a entrevista, Paulo Ricardo se desentendeu com Tatola no momento em que falavam sobre a possível receptividade desse retorno do RPM em outros centros. O apresentador iria usar o Ceará como exemplo e foi interrompido, acusado de preconceito. O nível de tensão subiu até que Paulo Ricardo teve de deixar o estúdio, amparado por Massari. Esse desentendimento ganha uma outra leitura se lembrarmos que Tatola veio de uma da banda punk chamada Não Religião, na qual era vocalista. Seria mais um round da eterna disputa entre o underground e o mainstream (ou pelo menos de quem já fez parte do mainstream).

Outra boa história contada com detalhes é a famosa e bem-sucedida pegadinha ocorrida no primeiro de abril de 2003. A mídia do Brasil não tem muita tradição de pregar peças em seu público, fato comum na Europa. Nesse dia específico, o rock na 89 FM deu lugar a músicas de artistas como Earth, Wind & Fire, KC & The Sunshine Band, Frenéticas, Abba, entre outros. A reação dos ouvintes foi imediata: telefones congestionados, servidores de e-mails abarrotados de mensagens. Somente às 6 da tarde é que ocorreu a revelação: tudo não passou de uma brincadeira típica da data. Alexandre Hovoruski, o coordenador artístico da época conta que quase desistiu de tudo antes de colocar a idéia em prática. A artmanha até que teve um efeito positivo e a rádio foi citada em outros veículos de comunicação (incluindo este Rádio Base).

Os 20 anos da 89 FM marcam o final do texto. Ricardo fala de uma reflexão interna sobre o papel da emissora (e sua possível importância) no futuro. Mas o apêndice, todos sabem. Parte da equipe foi demitida em 2006 a partir da contratação de um novo diretor artísitco, Vaguinho, que comandou a Metropolitana FM por muitos anos. O rock teve seu espaço diminuído e a programação musical passou a ser mais abrangente, tocando a atual black music e o R&B.

No livro, Neneto Camargo, um dos proprietários da rádio, falando sobre a época da Pool FM (a antecessora da 89 FM na freqüência) diz que o mercado ainda não estava preparado para absorver a música negra em todas suas manifestações. Se repararmos na 89 FM hoje, dá para dizer que ela é aquilo que a Pool FM tentou ser nos anos 80, guardadas as devidas proporções. A Pool FM, talvez sem querer, foi vingada.

6 comentários:

Anônimo disse...

Não dá! O texto estava interessante, mas esse parágrafo final sobre a Pool é brincadeira! Realmente, caro Rodney, você não ouviu ou não tem noção sobre qual era o conceito da Pool FM. Dizer que essa "89 pop" existente hoje é, talvez, uma Pool dos anos 2000, é um absurdo. Nada a ver mesmo. Desculpe-me, mas você está maculando a imagem de uma rádio inovadora e única, até hoje lembrada e cultuada pelos seus saudosistas fãs. Não há nada a ser comparado, a não ser a frequência, que é a mesma.

Anônimo disse...

Desculpe, Silvio "sei lá o quê", mas a narrativa do livro está certa. A primeira versão da Pool FM (1984-1985) era uma cópia descarada da Bandeirantes FM da época, que se especializara em música negra americana. Tanto é que quase todos os locutores da Pool vieram da Bandeirantes FM. Até as músicas eram as mesmas. No entanto, a 89 não teve competência de desbancar sua principal oponente porque não conseguiu falar a "linguagem da periferia" e resolveu apostar no filão do rock, que crescia graças à emissoras como Fluminense e a antiga FM 97, ainda em Santo André. Hoje em dia a 89 não passa de uma rádio "poperroque faz-me rir", como algumas que ainda estão no ar e outras que já foram tarde. (Marcos Ribeiro)

Anônimo disse...

Então, Marcos Ribeiro... Sua "defesa" ao Rodney serviu mais para confundir do que qualquer outra coisa.
Pool, cópia da Bandeirantes: certo.
89 hoje em dia, pop-roque-faz-me-rir: certo
Aonde está a relação entre esta 89 e a Pool? Só o Rodney sabe.
A narrativa está certa? Não. Claro que não!
Sílvio

Rodney Brocanelli disse...

Silvio,
Em primeiro lugar, quero agradecer por suas manifestações. Prova de que meu texto não passou batido.
A relação é a seguinte: quando a Pool apareceu, ela era uma rádio de black music. Por uma série de motivos, ela não deu certo. A 89 FM pós-2006 hoje é uma rádio que toca black music. Se a atual black music é melhor ou pior que a de vinte e poucos anos, essa é uma outra discussão. Se a Pool tivesse continuado com o mesmo nome e proposta na freqüência dos 981,MHz estaria tocando o que a atual 89 toca. É isso.

Marcos Lauro disse...

Tatola é Tatola, não há igual. Marrento no ar e uma figuraça fora dele. Também me lembro como se fosse hoje do dia em que ele expulsou o Evan Dando, vocalista do Lemonheads, do estúdio da extinta Brasil 2000, porque ele não quis responder a uma questão de um ouvinte e também porque estava visivelmente (e audivelmente) "calibrado".

Rodney Brocanelli disse...

Cadê o Silvio?