Enquanto o Brasil ainda tateia na discussão sobre a TV digital, em meio a preocupações sobre prazos e a data de corte para o sinal analógico, a Europa debate o relativo fracasso de outro meio também digitalizado: o rádio. O padrão em uso no continente europeu é o DAB (Digital Audio Broadcasting, ou Transmissão de Áudio Digital). Foi criado na década de 80 e há anos são vendidos aparelhos capazes de receber e decodificar o sinal. As principais vantagens são o som de maior fidelidade, mais estações na mesma faixa e um sinal resistente a interferências. Isso tudo existe em teoria, mas testes demonstraram que a qualidade do áudio é pior do que a da FM, porque a maioria das estações digitais presentes no Reino Unido, na região da Escandinávia e na Suíça, codifica o sinal em baixa qualidade, o que elimina a vantagem inicial do formato.
O DAB também não gerou as vendas esperadas do lado comercial. Um executivo de uma rádio inglesa declarou ao Guardian que “todos têm medo de dizer isso publicamente, mas se pudéssemos, todos nós (rádios digitais) devolveríamos nossas licenças de DAB amanhã”. O elefante no meio da sala, como em muitas outras mídias, é a internet. Os críticos dizem que ela tornou uma tecnologia cara em algo obsoleto, como um Betamax do rádio. Por isso, os consumidores decidiram não investir em aparelhos novos e optaram por ouvir as estações preferidas on-line. Outros não sabem se o fracasso se dá por uma questão de timing, porque a tecnologia é relativamente nova, ou porque não existe conteúdo interessante nas transmissões.
A idéia original da rádio digital, ao menos na Grã-Bretanha, era permitir que estações comerciais se igualassem às operações da BBC, principalmente em termos de qualidade de transmissão. Duas delas, Core e Oneword, fecharam no fim do ano passado e outras duas, Virgin e Global, anunciaram cortes nos orçamentos.
As vendas de aparelhos DAB foi boa durante as festas natalinas. Mais de 550 mil rádios foram vendidos em dezembro, com o número total da base instalada próximo de 9,1 milhões. Só que existem mais de 100 milhões de aparelhos analógicos espalhados pelo país e o governo não quer estabelecer uma data de corte para as transmissões do sinal antigo, ao contrário do que acontece com a televisão.
“Uma pesquisa rápida com 30 gerentes de fundos financeiros indicaria que quase todos compraram um rádio digital e o amam. Da perspectiva empresarial, contudo, o DAB ainda não aconteceu. Os custos são altos e o formato não gera lucro”, disse Richard Menzies-Gow, analista de mídia do Dresdner Kleinwort, ao Guardian.
A sobrevivência talvez esteja ligada à facilidade de uso. “A qualidade do protocolo de transmissão na internet é péssima. O sinal cai e não ouço nada por alguns segundos ou até minutos. Um rádio DAB simplesmente funciona. Aperte um botão e tudo acontece: qualidade excelente, uma gama relativamente boa de escolhas, nenhum problema”, escreveu em seu blog Ashley Highfield, diretora de mídias futuras e tecnologias da BBC. (Fábio Marra, Revista Carta capital)
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