sábado, 18 de julho de 2009

José Paulo de Andrade conta um pouco da história de O Pulo do Gato

Em 1999, quando o programa "O Pulo do Gato" completou 26 anos, José Paulo de Andrade publicou um texto no site da Rádio Bandeirantes contando um pouco de sua história. Pelo seu caráter documental, vamos reproduzi-lo aqui no Rádio Base.

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Pulo do Gato

26 ANOS

Anos difíceis aqueles "70"...
Especialmente os primeiros da década, uma seqüência à edição, em 68, do AI-5 - o respaldo jurídico autoritário da revolução de 64, cujos 35 anos estão sendo lembrados, os defensores chamando de "Revolução de 31 de março" e os opositores de "Golpe de 1.º de abril". Época de perseguições, de cassações de mandatos e perda de direitos políticos, de eliminação física pura e simples, de feroz censura... a "era Medici", o gaúcho de Bagé, que governava com mão de ferro e radinho de pilha no ouvido, acompanhando os jogos do Grêmio Portoalegrense - seu time de coração - e da seleção brasileira - tri-campeã no México, em 70, com Zagalo, no comando, substituindo o comunista João Saldanha, uma ameaça...

Época do milagre econômico, do "ame-o ou deixe-o", versão nacionalista do irreverente ditado popular "Os incomodados que se mudem"...

Em 17 de março de 73, poucos dias antes da estréia do novo programa do rádio paulista, era morto em São Paulo, o estudante Alexandre Vanucchi Leme, acusado de pertencer à organização subversiva Aliança Libertadora Nacional (ALN). Laudo Natel era o governador de São Paulo, e José Carlos Figueiredo Ferraz o prefeito (que teve a coragem um dia de dizer que "São Paulo precisava parar"). Já existia tevê colorida, inaugurada um ano antes, em fevereiro de 72, na Festa da Uva de Caxias do Sul, terra do Ministro das Comunicações de então, Hygino Corsetti, dias antes da festa de cores, que é o Carnaval do Rio, atração internacional. Mas no regime militar era assim, quem podia mandava e quem tinha juízo obedecia...

Tempos de 2 partidos - ARENA - fachada democrática do regime - e MDB - a oposição consentida - que ainda em 73 teria a ousadia de lançar uma chapa de anti-candidatos contra o indicado oficial, o general Ernesto Geisel, chapa composta por Ulysses Guimarães e Barbosa Lima Sobrinho, esse sim, imortal, até hoje, com 100 anos, o Presidente da ABI... Ano em que, reprovado em aritmética, o árbitro Armando Marques provocou a divisão do título paulista entre Santos e Portuguesa. Ele não contou direito o número de "penalties" e encerrou a cobrança quando a Portuguesa ainda podia se igualar ao Santos, que tinha a vantagem. O Palmeiras levantou o título nacional...

No mundo, naquele início de abril de 73 (2/4), ainda se comemorava o fim da inglória participação norte-americana na guerra do Vietnã, anunciada no dia 29/03, depois da assinatura do acordo de paz que abria caminho para a unificação sob regime comunista; internamente, nos Estados Unidos, começava o julgamento dos sete homens acusados de invadir o edifício Watergate, onde ficava a sede do Partido Democrata e que culminaria, no fim do ano, com a renúncia do Presidente Richard Nixon. Foi também o ano em que caiu próximo ao aeroporto de Orly, em Paris, o Boeing da Varig que transportava entre outros o senador Filinto Müller e o cantor Agostinho dos Santos.

Na América do Sul, golpe no Uruguai, fechamento do Congresso e os militares assumem pondo o civil Bordaberry no poder - ele que é atualmente Presidente democrático do vizinho país da banda oriental. Na Argentina, a volta triunfal de Juan Domingo Perón, uma caricatura do que tinha sido nos anos da Guerra, quando a Argentina conquistou índices e padrão de vida de Primeiro Mundo. Mas o destaque acabaria sendo o fim sangrento, em setembro, da tentativa socialista chilena, que emergiu vitoriosa das urnas com Salvador Allende, que acabaria morto em Palácio. Começava ali a "era Pinochet", que só está acabando neste 1999.

Em dezembro de 73 aconteceria o primeiro "choque do petróleo", que começaria a fazer ruir o "milagre econômico" brasileiro... e a abrir caminho para a "distensão política", com Geisel, a partir de 74, e à abertura, com Figueiredo, em 79. O preço do barril passaria, em janeiro de 74 de U$ 5,11 para U$ 11,65.

Enfim esse era o quadro nacional e internacional naquele 1973 que marcou mais um pioneirismo da Bandeirantes: inaugurar para o Jornalismo, o horário das 6 horas. E na guerra pela audiência, que só valoriza o trabalho desenvolvido pelos profissionais madrugadores do rádio paulista, "antiguidade tem sido posto". É um gato de sete fôlegos, que alcança 3 gerações e sempre se renova. Quanto profissional liberal não se lembra com saudade dos tempos de estudante, acordando mal humorado com o volume alto do miado do gato, lembrando que era hora da escola. E que hoje faz o mesmo com o filho. É a mística da Bandeirantes, rádio-família, rádio que tem a cara da cidade e do país e que tem participado ativamente da vida contemporânea da nação.

E nesse dia de boas recordações, a homenagem aos pioneiros:
Hélio Ribeiro era o Diretor Artístico na época e Jair Brito o Diretor Executivo...
Gualberto Curado, foi o primeiro e o mais duradouro produtor do programa, cerca de vinte anos, em duas passagens pela Bandeirantes. O programa deve muito do seu formato a ele... O Curado, que nos deixou para sempre, em 11 de março de 1997, uma perda irreparável para o rádio... Hoje o editor é Mário Reis, da nova geração, com menos idade do que o programa, o que garante a renovação, a atualização, um dos segredos do "Pulo do Gato"...

O primeiro apresentador do programa, por um curto período,não mais do que quinze dias, naquele abril de 73, foi o radialista, jornalista, escritor, poeta, político e ser humano dotado de grande sensibilidade, Rafael Gióia Martins Junior, ou simplesmente Gióia Jr, que um infarto levou prematuramente em 3/4/96. Gióia era titular de um programa de fim de tarde, de grande audiência, o "Chega de Prosa" e depois dos primeiros dias à frente do "Pulo", chegou à conclusão de que a proposta do programa fugia ao seu estilo, mais calmo, tranquilo, apropriado às seis da tarde. Foi assim que Hélio Ribeiro convidou José Paulo de Andrade. O programa passou a ter uma hora de duração, a partir de 4/4/77. Homenagens a todos os que colaboraram para o êxito do programa, como o produtor Carlos Alberto Vicalvi, a editora Eliane Leme, a secretária por muitos anos, Nilza Câmara, a responsável pelo Serviço de Utilidade Pública, Luiza de Lucca (antes Sandra Gláucia) o sempre colaborador Geraldo Tassinari, os companheiros da Técnica e Controle Geral, como Mário Batista, Vitório Jr., Antenor Bicudo, Ailton Dias.

Mantiveram seções fixas durante muitos anos: o psicólogo Roque Theóphilo, o pediatra Luiz Gustavo Horta Barbosa Eng, o empresário de turismo Adel Auada, o jornalista filatélico Américo Tozzini.
Nossa saudade para o parapsicólogo Frei Albino Aresi, o jornalista da natureza, Armando Cury, e para o jornalista Angelo Apolônio, assessor de transportes e Trabalho.

É do início do Pulo do Gato a participação da Previdência, que se mantém até hoje, prestando significativo serviço ao segurado-ouvinte às quintas-feiras. De Luiz Pereira, o primeiro, a Kátia Carminato , hoje, grandes profissionais passaram ao longo de todos esses anos, como Antonio Pedone de Oliveira, Almir Borges, Maria de Lourdes Motter, Silvia Ribeiro, Ligia Maria, Fernando Odriozola, Denise Pereira...

Enfim, os 26 anos do programa representam um capítulo, na história do rádio brasileiro. "O Pulo do Gato" tem marcas que o colocam como recordista de permanência no ar: mesmo horário, mesmo prefixo, mesmo apresentador...

O grande homenageado hoje é você, ouvinte, que prestou atenção, gostou, ficou, e transmite a novas gerações o gosto pela notícia, pela defesa das boas causas, pela cidadania. Batendo às portas do terceiro milênio, temos uma certeza: vamos deixar um país melhor do que o que tinhamos há 26 anos.

Obrigado São Paulo, obrigado Brasil !!!

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