segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Hélio Costa abandona projeto de rádio digital

A mudança de posição foi radical. Depois de ter defendido abertamente durante quase três anos e meio o padrão de rádio digital norte-americano (Iboc ou HD), apresentando-o como o único aceitável para o Brasil, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, acaba de retirar seu apoio àquela tecnologia, também preferida pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert).

O ministro reconhece agora o que todos os técnicos independentes vinham afirmando desde 2006: em todo o mundo, a tecnologia de rádio digital ainda tem muitos problemas que não permitem sua adoção no Brasil.

O recuo de Hélio Costa, embora tardio, é um fato positivo, pois seria muito pior se o País adotasse o padrão Iboc. O maior prejuízo ficaria com as 5 mil emissoras de rádio brasileiras, que seriam levadas a investir numa tecnologia que aindafunciona precariamente.

O que mais estranhou os observadores nesse episódio foi a posição da Abert, ao defender apaixonadamente o padrão norte-americano, mesmo diante da comprovação de seus problemas.

MARCHA A RÉ

Hélio Costa anunciou sua nova posição no domingo passado, em artigo no jornal O Estado de Minas (leia-o no site Caros Ouvintes), em resposta à jornalista e professora Nair Prata, que havia cobrado do ministro, no início de dezembro, o cumprimento de suas promessas quanto ao rádio digital.

Entre as diversas opiniões citadas no artigo de Hélio Costa, uma das mais convincentes foi a de Sarah McBride, editora de tecnologia do Wall Street Journal.

Na realidade, o jornal norte-americano apenas confirmou a conclusão já conhecida havia muito tempo: depois de quase 5 anos de introdução nos Estados Unidos, a nova tecnologia digital não conta hoje sequer com 10% da adesão das emissoras.

Para se ter idéia da baixa penetração do rádio digital nos Estados Unidos, basta lembrar que, do lado dos ouvintes, mesmo com preços subsidiados, apenas 0,15% da população norte-americana adquiriu seu receptor digital.

PROBLEMAS

Uma das características do padrão conhecido pelo nome de In Band on Channel (Iboc) ou HD Radio, criado pela empresa Ibiquity, é utilizar o mesmo canal de freqüência para transmitir um único programa, simultaneamente, tanto no modo analógico quanto no digital. A idéia é excelente, mas, até agora, o sistema não tem funcionado de forma satisfatória.

Nas transmissões em AM e FM, o padrão Iboc apresenta, entre outros, o problema do atraso (delay) de 8 segundos do sinal digital, em relação ao analógico. Como o alcance do sinal digital é menor do que o analógico, nos limites de sua propagação, a sintonia oscila entre um e outro, com grande desconforto para o ouvinte.

Embora pareça ser a grande saída, a idéia de usar o mesmo canal para transmissões analógicas e digitais, adotada pela empresa Ibiquity, não tem tido sucesso na prática. O fato indiscutível é que essa tecnologia ainda não está madura e apresenta diversos problemas sérios, como a impossibilidade de se utilizarem receptores portáteis - pois o consumo de energia é tão elevado que as baterias se descarregam em poucas horas.

Na Europa, outras tecnologias têm sido propostas em faixas de freqüências exclusivas para o rádio digital, o que, no entanto, obrigaria à troca de todos os receptores. Conclusão: ainda temos que esperar que o mundo desenvolva uma solução melhor para a digitalização do rádio.

ANÚNCIOS PRECOCES

O ministro Hélio Costa, desde que tomou posse no Ministério das Comunicações, em julho de 2005, tem anunciado numerosos projetos puramente imaginários que nunca se concretizam ou que se revelam inviáveis.

Na abertura do evento internacional Américas Telecom, em outubro de 2005, em Salvador (Bahia), ele anunciou que o Brasil já vivia "a era do rádio digital" (quando apenas algumas emissoras iniciavam os primeiros testes com o padrão norte-americano HD Radio ou Iboc). Na mesma ocasião, anunciou ao auditório que a Grande São Paulo veria as imagens da Copa do Mundo de 2006 com imagens da TV digital, que só entrou no ar em 2 dezembro de 2007.

Entrevistado no programa Roda Viva, da TV Cultura, em 2005, afirmou categoricamente que o Ministério das Comunicações iria investir não apenas o montante de R$ 600 milhões anuais dos recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust), bem como o saldo acumulado então superior a R$ 4 bilhões.

Até hoje o Brasil não utilizou praticamente nada do Fust. No ano de 2006, o ministro garantiu que o Japão havia concordado em instalar uma indústria de semicondutores (circuitos microeletrônicos) no Brasil, em contrapartida à escolha do padrão de TV digital nipo-brasileiro. Na verdade, o Japão jamais prometeu essa fábrica.

Ethevaldo Siqueira - O Estado de S.Paulo


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Foi preciso um especialista americano dizer que esse negócio de rádio digital é um mico para o senhor ministro achar isso também? Será que ele não tem rádio em casa, não? Qualquer ouvinte mais atento de rádio AM descobriu desde o primeiro dia em que "implantaram" esta trolha de rádio digital no ar, que este sistema é uma porcaria. O som de emissoras como Bandeirantes, CBN e Record simplesmente ficou uma m*, sem contar que a chiadeira que deveria sumir não desapareceu.

Um colega meu que trabalha em rádio disse que o Tuta, diretor todo poderoso da Jovem Pan, mandou chamar um engenheiro que estava implantando o sistema digital na concorrência. Ele veio demonstrou o sistema e o velho homem do rádio ouviu. Ouviu e não gostou do som. Preferiu ficar com o bom e velho analógico. Jovem Pan, Capital e Eldorado são únicas emissoras grandes de São Paulo que ainda podem ser ouvidas decentemente em São Paulo. Alguém conhece algum ouvinte que ouça a CBN pelo AM? E a FM digital? Fez alguma diferença? Não, não fez.

Esses políticos de Brasília não aprendem que - e olha que o Hélio Costa é do ramo - um sistema ou tecnologia só suplanta a outra se o consmuidor perceber que há vantagens em adotar algo mais novo do que o convencional. Mais avançado e barato. O governo não incentivou (ainda bem!) que os fabricantes de aparelhos de rádio produzissem essa iguaria no Brasil. Se tivesse incentivado a venda dos novos aparelhos a 50 reais cada, eu pegaria uns três. Os Mp3, Mp4, Mp5, Mp10 tão populares hoje em dia já viriam com o novo sistema.

A derrapada pior foi com o sistema digital da TV. O governo saiu dizendo por aí que iria subsidiar a venda de aparelhos conversores digitais a no máximo 200 reais para o consumidor. Só se esqueceram de combinar com os fabricantes. O interesse das fábrica é fazer TV maiores a mais caras, e não conversores. O preço do aparelhinho é quase o mesmo de uma boa TV analógica grande. Não compensa o investimento. Nem a compra de uma TV digital de plasma e tal vale a pena. Ainda. O consumidor está esperando o preço destes produtos baixar. Além do mais, na televisão digital há muitos problemas a se resolver. Quem já viu sabe que a qualidade da imagem precisa melhorar bastante. Os produtores de conteúdo precisam se adaptar ao sistema. Ainda não é a imagem que "parece um cinema", como costumava dizer meu finado pai, quando a TV lá de casa pegava muito bem.

Por ora, fazendo coro aos amantes do vinil, que o odeiam o MP3, só me resta dizer: "VIDA LONGA AO SISTEMA ANALÓGICO".

4 comentários:

Anônimo disse...

me diga, pra que tv digital??? par ver o tv fama?? esses programas horriveis que existem por ai?? nem pensar, eu fico com a minha toshiba que tem 20 anos e funciona muuuuuito melhor q essas tvs de agora

e o rádio digital??? não vai virar nada mesmo, em fm se não me engano ear a Energia 97 que tava testando o sinal, mas pra mim continuava a mesma coisa...e detalhe q o ministro como vc disse é do ramo, imagina se ele não fosse???

estamos perdidos....

Marcos Lauro disse...

Só para esclarecer uma coisa. Quem tem receptor convencional não nota mesmo as diferenças dessas emissoras que estão testando a "ex-novidade", ok? Precisaríamos ter o tal receptor digital para isso, coisa que não existe no mercado. Eu mesmo, nunca peguei um na mão. Para dizer que nunca ouvi, passei por um na FNAC um dia e a única coisa diferente era a "legenda" da rádio passando num visor.

Marco Antonio Ribeiro disse...

Que naõ seja por isso, Marcos Lauro. Lá no meu trabalho tem uma Tv de 20 polegadas que pega rádio FM. Nas emissoras "digitais", a tv mostra um letreiro normalmente com o slogan da rádio. "A rádio que toca notícia", "A trilha sonora de sua vida" e coisas do gênero. Não fosse pelos ridículos alto-falantes que toda televisão tem, o som é perfeito. Detalhe a recepção do aparelho, tanto para a rádio como para a TV, é analógica, ok?

Anônimo disse...

Olá pessoal, sobre o fato da TV mostrar o slogan da rádio tipo "a rádio que toca notícia" da CBN por exemplo, se deve ao sistema RDS que várias FMs de São Paulo utilizam. Este sistema de informação funciona no sistema analógico, alguns auto-rádios e celulares também possuem o receptor com este recurso.