quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Pianista Karin Fernandes lança trabalho sobre nova música brasileira

O repertório é formado por peças de vários compositores, entre eles Arrigo Barnabé, Felipe Lara e Tatiana Catanzaro (Foto: Divulgação)
A pianista Karin Fernandes lança “Cria – nova música brasileira, vol. I”, o seu 11º cd, fruto de um projeto feito pela própria pianista e patrocinado pelo ProAC de São Paulo. Gravado em 2015 no Oktaven Audio, em Nova Iorque, em maio e no Estúdio Sala Viva, em São Paulo, em junho, o cd apresenta gravações de três peças inéditas.

 O repertório é formado por Nó para piano e eletrônica - Sergio Kafejian (estreia mundial, 2015), Felipe Lara - Sonata de desintoxicação (estreia brasileira, 2004), Tatiana Catanzaro - Andma Shajarat al-Hayah tanmow fi al-Sahra Yahi (estreia mundial, 2015), Arrigo Barnabe - Sonata (estreia mundial, 2000) e Leonardo Martinelli - Peça para piano II (2005).


Sobre as peças do cd 
"Nó", Sergio Kafejian
A peça, de 2015, foi concebida como um grande entrelaçamento de gestos musicais que se distendem em espaços acústicos e eletrônicos. Os acordes do piano vão se dissolvendo em acordes arpejados até se tornarem sequências de notas, com arpejos e escalas. Nesta peça o compositor explora o piano de várias formas, seja utilizando-o como um tambor, como uma harpa ou ainda por meio das muitas ressonâncias, resultado do uso de formas específicas do pedal.

"Sonata de desintoxicação", Felipe Lara
A Sonata de desintoxicação, para piano solo, composta em 2003, é uma homenagem ao compositor francês Olivier Messiaen, que viveu de 1908 a 1992. A peça também faz referência ao Poema de desintoxicação, escrito entre 1940 e 1941 por João Cabral de Mello Neto. Felipe Lara musicou o poema em 2003. Nele o poeta medita sobre o mistério e a densidade do processo criativo. A Sonata utiliza aspectos da música de Messiaen como acordes densos, sequências de notas repetidas, suspensão do tempo e da métrica, atenção à ressonância do piano e acordes tonais removidos de contextos diatônicos. A ideia da peça é fornecer uma textura caleidoscópica, fantástica, como a visão de um sonhador, bem ao gosto do homenageado, Messiaen, e do poema referido.

 "Andma Shajarat al-Hayah tanmow fi al-Sahra Yahi," Tatiana Catanzaro
A tradução do nome da peça, composta em 2015, é “Quando a árvore da vida cresce no deserto de Yahi”. A árvore da vida, literalmente Shajarat al-Hayah, em árabe, é uma árvore de cerca de 400 anos que está no deserto do Barém. Segundo a compositora, a motivação da obra foi a forte impressão que lhe causou a violência dos extremistas responsáveis pelos atentados na França, Nigéria e em outros países. Para Tatiana, essa violência é a representação da luta pelo poder – poder esse simbolizado, sobretudo, pelo petróleo. O deserto de Yahi, literalmente al-Sahra Yahi, por sua vez, vem de uma peça de teatro de Bertold Brecht que se chama A exceção e a regra. O deserto de Yahi da peça de Brecht é um deserto fictício, e fica pretensamente na China. A obra é, assim, a representação de uma grande máquina de perfuração de petróleo, donde sai uma força de esperança com os sons dos instrumentos orientais – que por sua vez são forçados a silenciarem, pois sua voz é cortada o tempo todo.

 "Sonata para Piano", Arrigo Barnabé
A peça foi composta em 2000. Na Sonata, o compositor se vale do dodecafonismo, com uma série de doze alturas diferentes desde o primeiro tema, para desenvolver seu discurso musical. Misturando compassos compostos, sempre com ritmos e acentuação marcantes, o tempo é constantemente deslocado, fazendo com que o ouvinte perca a referência temporal. O tema inicial é desdobrado e recomposto constantemente durante o desenvolvimento da peça, que termina numa sequência frenética de cinco semicolcheias cujas alturas mudam, mas cujos acentos são fixos.

"Peça para piano II (Schackleton, Worsley e Crean deslizando de uma colina de neve)", Leonardo Martinelli
Composta em 2005, a Peça para piano II antagoniza de forma brusca com a primeira. Composta dez anos antes, a Peça para piano I é um estudo serial, de sonoridade pontilhista. Já sua sequência é integralmente baseada em clusters, ou seja, violentos blocos de notas tocados ora com o punho, palma da mão ou antebraço, articulados de forma essencialmente gestual e intuitiva. Ao contrário da primeira, fundamentalmente abstrata em sua concepção, a Peça para piano II é confessadamente programática, tal como indica seu subtítulo, que se remete a um dos mais dramáticos episódios da exploração do continente antártico.


Sobre Karin Fernandes - A pianista dedica-se especialmente à execução do repertório para piano dos séculos XX e XXI, com várias peças executadas em primeira audição. Dentre estas se destacam as dos compositores brasileiros Silvio Ferraz, Tatiana Catanzaro, Sergio Kafejian, Edson Zampronha, Mario Ficarelli, Leonardo Martinelli, Marlos Nobre, Ronaldo Miranda, Edmundo Villani-Côrtes e Arrigo Barnabé.

Como solista, apresentou-se junto à Camerata Osesp, Amazonas Filarmônica, Orquestra Sinfônica de Campinas, Osusp, Sinfonia Cultura, Banda Sinfônica do Estado de São Paulo, Orquestra do Theatro São Pedro, Orquestra Sinfônica de Sergipe, dentre outras.

Possui onze CDs gravados, sendo nove deles inteiramente dedicados ao repertório brasileiro, incluindo piano solo, música de câmara e concertos para piano e orquestra. Seus discos foram finalistas de prêmios como Prêmio Caras da Música 2000 (Melhor CD e Artista Revelação), Prêmio Bravo! Bradesco Prime de Cultura 2012 (Melhor CD) e Prêmio Concerto nas edições 2013 e 2014 (Melhor CD).

Paralelamente à carreira como pianista recitalista e solista, Karin desenvolve intenso trabalho camerístico. É integrante do Trio Puelli, formado em 2009, também dedicado à música dos séculos XX e XXI.

Nenhum comentário: