quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Novas perspectivas para a Estadão e para ESPN



Para quem chegou de Marte ou Saturno depois do Réveillon e não estava sabendo do que acontecia aqui na Terra, A ESPN encerrou o contrato de "parceria de conteúdo" com agora chamada Rádio Estadão, ex-Rádio Eldorado.

A emissora pertencente ao grupo Estado encerrou a dobradinha no dia 1°de Janeiro, passando-se a chamar apenas Rádio Estadão. O que para muitos "fãs do esporte" - é como a ESPN chama seus ouvintes/telespectadores - pode ter sido um grande baque, para os ouvintes "originais" da antiga Rádio Eldorado talvez tenha sido um alívio.

Ao longo de seus recém-completados 55 anos de vida, a Eldorado nunca primou em fazer programas de esportes baseado no futebol. Com a chegada da ESPN, ela botou pra escanteio toda uma história de cobertura de esportes considerados "das elites" - Iatismo, motociclismo, hipismo, automobilismo, etc. - iniciada nos anos 80 com seu ex-diretor João Lara Mesquita.

Na época, fazia sentido. Afinal, como conta o próprio João Lara em seu livro "A Rádio Cidadã" (Editora Terceiro Nome - 2008) a Eldorado era a emissora ouvida maciçamente pela classe média alta, a tal ponto que "No final dos anos 80 a programação esportiva já era registrada da Eldorado FM...." (Nota da Redação: A antiga Eldorado FM, 92,9 MHz transmite hoje em cadeia a programação da Rádio Estadão AM. No entanto, a referida emissora funciona agora nos 107,3 MHz, numa parceria com a Fundação Brasil 2000) ....."Éramos de tal forma envolvidos com os esportes diferenciados, pelas coberturas que fazíamos e pelo apoio que dávamos, que acabamos ficando amigos de André Azevedo e Klever Kolberg - os primeiros brasileiros a participar do "rallye da morte" - o Paris Dacar".

Além de divulgar, cobrir e apoiar os esportes que promovia, a Eldorado também participava das disputas esportivas, através de seu diretor que, além competir, passava boletins diários para as duas emissoras, sob a alcunha de Jota Mosk (mosk significa Mesquita, em inglês). Em um segundo momento a Eldorado, numa ideia genial, começou a transmitir boletins - gravados e ao vivo - dos competidores que a rádio apoiava, direto do local das provas. A ideia era, não só informar, como também passar as impressões pessoais dos atletas, pilotos e velejadores, dando uma nova visão ao fato jornalístico.

É bom notar que tudo isso foi feito entre os anos 80 e 90, época em que os recursos técnicos e financeiros eram mais escassos do que hoje. Porém, deixa claro João Lara, a audiência e o prestígio que a emissora alcançou foram inigualáveis mesmo entre as outras emissoras.

Esta observação do ex-comandante da emissora é pertinente. A escolha deste tipo de cobertura esportiva não foi "a esmo", "por acaso", "no chute". A ideia partiu da percepção de que havia um público diferenciado, que apreciava música de uma qualidade superior ao que era oferecido pelo "establishment" e que não era tão afeito a esportes populares, leia-se futebol. Não raro, boa parte desta audiência não só acompanhava como que por vezes praticava estes esportes, que eram considerados de alto custo financeiro, em comparação ao futebol, por exemplo. Os então gestores da Rádio Eldorado entenderam a situação.

Não só investiram em esporte, como também foram fundo na música, a ponto de criarem o "Prêmio Eldorado de Música", reunindo, primeiro, descobrindo os novos talentos da música erudita, depois, revelando as jovens promessas da música popular instrumental do Brasil. Tal tipo de premiação, com esta qualidade e visão nunca mais se repetira no meio radiofônico, exceto aqueles promovidos pela TV Cultura, em parceria com as Rádios Cultura AM e FM.

Enfim, a Rádio Eldorado dos anos 80 e 90 soube ouvir "a voz roucas das ruas" - como diria um certo ex-presidente da República - e atendeu a demanda da audiência, sem sair um milímetro que fosse da sua linha de programação ou orientação "editorial".

Os tempos mudaram, a revolução tecnológica foi enorme e os meios de comunicação tiveram de mudar de postura, da mesma forma que outros setores da economia. Em algum momento dos anos 2000, após a saída de João Lara e quase toda a família Mesquita do comando do Grupo Estado, os novos diretores das Rádios Eldorado AM e FM decidiram que era hora delas disputarem o filão da grande audiência dos programas e das transmissões esportivas, inclusive na faixa do FM para onde as AMs importantes estavam migrando.

Inicialmente fizeram uma tímida parceria com esta mesma ESPN, da qual agora se divorcia. À época o acordo se resumia basicamente à transmissão dos jogos a que a ESPN tivesse acesso. Posteriormente, a então Brasil 2000 FM - que hoje abriga a Eldorado FM - entrou na parceria, como mera retransmissora nesta faixa de onda em alguns horários. Como a iniciativa dera muito certo, ampliou-se a parceria e a ESPN começou a dividir a programação com a agora chamada Rádio Estadão quase ao meio.
Para a ESPN, a parceria foi muito frutífera. A emissora especializada em esportes pertencente ao Grupo Disney ganhou visibilidade no mercado radiofônico brasileiro onde ela não tinha participação alguma. Entretanto, os índices de audiência não refletiram o prestígio e a credibilidade que a parceria proporcionou aos dois grupos e a audiência não subiu, segundo os institutos de pesquisa.

Esta coluna apurou que o acordo entre as partes era um tanto esquisito para uma parceria do que quer que seja: a ESPN colocaria pelo menos 5 horas de programação diárias na emissora e receberia cerca de 250 mil reais por mês da Rádio Estadão. A parte comercial ficaria por conta do Grupo Estado. É de se supor que neste tipo de acordo é, a empresa que está entrando não pague nem recebe nada da emissora. Porém, se vier a faturar com venda de espaço publicitário em seus programas, o faturamento é dividido com a rádio.

Novas perspectivas para os ex-parceiros - De qualquer maneira, se era assim ou não, a parceria já está desfeita. A ESPN pretende agora "arrendar" ou comprar uma emissora de FM em São Paulo, o que não será tarefa fácil. Talvez nem consiga. É bom o "fã do esporte" não se iludir. Uma saída visível seria a ESPN ocupar a frequência da Rádio Disney. Esta concessão, que um dia pertenceu ao falido Grupo Bloch (Rádio e TV Manchete), agora fora arrendada por seus donos atuais para a própria Disney/ESPN.

Ainda resta à ESPN a alternativa de montar uma rádio em seu próprio portal. Apesar do descaso e a falta de interesse do mercado publicitário por esta mídia que cresce a olhos vistos, uma web radio é a opção perfeita para uma emissora de grande prestígio como esta. Livre das limitações impostas pelo sistema de concessões governamentais, das leis antiquadas que ainda regem a radiodifusão e da falta de canais de FM na cidade de São Paulo - o maior mercado do país - a emissora esportiva terá mais liberdade de ação, poderá ousar mais em seus programas e gastará muito menos com parte operacional. Ouvintes/internautas e anunciantes sério que quererão apostar na nova mídia, com certeza, não lhe faltará.

Para a “nova” Rádio Estadão, o futuro não será incerto. Sem as “muletas” da ESPN, depende apenas dela para voltar ao tempo em que era uma das rádios mais respeitadas e qualificadas de São Paulo e do Brasil.

O dia 1º de janeiro inaugurou um livro com todas as páginas em branco, cuja equipe da emissora e a direção do Grupo Estado terão de reescrever a história da Eldorado/Estadão. Apoio de um grande grupo não lhes faltará. Criatividade e entusiasmo de seus jornalistas e radialistas, também não. As lições do passado estão aí para serem aprendidas e revisitadas, se necessário for. Olhar para o futuro também não é problema para a Rádio Estadão. Acertando o rumo da nau, os ouvintes que algum dia se desgarraram da nave mãe, voltarão. E novas audiências virão juntamente com os anunciantes. E isto é fato.

2 comentários:

Guilherme disse...

Eu era ouvinte da Estadão / ESPN desde o primeiro dia e achava uma combinação perfeita. Tinha jornalismo de qualidade e uma cobertura esportiva NUNCA feita no país. Pela primeira vez pude acompanhar jogos da NBA, NFL, Champions League e os campeonatos de futebol com uma equipe bem acima da média.
A separação das empresas vai é trazer aquele marasmo para o dial, pois vai ser só mais uma rádio de notícias. Perdeu o grande diferencial.
Continuo ouvinte, mas apenas em alguns horários específicos

Anônimo disse...

Ouvi a radio Estadao/Espn por muito tempo. Gostava muito. Eu trabalho de motorista e sempre fique bem informado sobre o mundo dos esportes. Que pena chegou ao fim esta parceria espero que a espn volte logo. E ainda estou ouvindo a estadao. Acho muito boa porque ainda contínuo bem informado com oque acontece no brasil e no mundo