domingo, 4 de dezembro de 2011

Quando morre um Cidadão Brasileiro


Hoje, dia 4 de dezembro de 2011, seria - ou ainda será, o dia mais importante para o futebol - consequentemente para o esporte brasileiro dominado pela monocultura do ludopédio nacional. Vasco e Corinthians disputam o título de um dos campeonatos mais disputados e de menor qualidade técnica dos últimos tempos no esporte bretão. Aos coadjuvantes - Palmeiras e Flamengo - cabem atrapalhar ou não os planos dos dois adversários postulantes.

Será um dia de festa, mas sem alegria. Um dos jogadores mais politizados - se é que não era o mais politizado - de todos os tempos, morreu prematuramente aos 57 anos. A perda de Sócrates pode ser comparada - se é que a comparação é possível - ao recente falecimento do jornalista Luis Mendes. A semelhança entre os dois é que ambos entendiam - e muito - de futebol - dentro ou fora dos gramados.

Desde as primeiras horas deste domingo, emissoras jornalísticas de rádio vêm repercutindo o triste passamento do "Magrão". O comentarista da Estadão/ESPN Paulo Vinícius Coelho ressaltou sua importância de Sócrates nas "Diretas Já" e a sua liderança na "Democracia Corinthiana", movimento esse que nunca mais foi repetido ou imitado. Sócrates fazia Política, sem se meter nela, sem ser parlamentar, sem ter cargo público, sem ser cartola ou coisa que o valha. Era apenas um Brasileiro, um médico, um cidadão comum, que se preocupava com os rumos do futebol, do esporte, do Brasil e dos brasileiros.

Nunca mais haverá jogador com tamanha consciência de seu papel de profissional e de membro da sociedade como ele. Talvez chegamos perto com Rogério Ceni (goleiro do São Paulo) e Marcos (também goleiro, mas do Palmeiras), dois exemplos de atletas conscientes que pensam no futebol como expressão da cultura do povo brasileiro. Mas fazer como Sócrates fazia, que usava de alguma forma seu talento em campo e seu prestígio para discutir os reais problemas nacionais, creio que não. Quem sabe um dia....

Fico imaginando se o "Doutor Sócrates", teria espaço pra suas ideias no futebol de hoje, que ainda é retrógrado, conservador e intolerante. Haveria um "profissional" de comunicação que tentaria transformar sua "rebeldia" em marketing promocional. Claro que ele, homem íntegro e idealista, ao contrário da imensa maioria dos atletas de hoje, refutaria essa tentativa. É possível que ele fosse ameaçado de ser afastado do futebol se usasse a sua famosa faixa branca na cabeça, em protesto ao imperialismo, à fome e às guerras, a exemplo do que fazia no programa "Cartão Verde", da TV Cultura. Ainda sim, ele não abriria mão da faixa.

Sócrates vinha de família humilde, cujo pai estudou a duras penas e conseguiu incutir em seus filhos a importância da Educação. Com certeza esse é o motivo dele e de seu irmão Raí - ex-jogador do São Paulo e da Seleção Brasileira campeã de 94 - terem sido tão bem sucedidos no esporte e na vida.

Fica aqui o exemplo de uma pessoa que se via não como um um gênio da bola, como realmente o era, mas como um cidadão comum, que usava seu talento, sua paixão e carisma para lutar por uma vida melhor e mais digna para todos. Que seu exemplo de dignidade e coragem sirvam para as novas gerações refletirem sobre o que realmente queremos para o futebol. E para o Brasil, claro.

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