domingo, 16 de maio de 2010

A voz da reflexão

Lendo o texto abaixo - POA*: Voz do Brasil de volta ao horário das 19h - proponho ao caro leitor, um momento de reflexão, diante da grita formada no Rio Grande do Sul por conta da volta da obrigatoriedade da exibição do programa "A Voz do Brasil", às 19 horas.
O fim do programa oficial dos poderes da República deve ser melhor pensado. As emissoras de rádio e tv são concessões públicas e quem as consegue, sabe que obrigatoriamente terá de transmitir " A Voz" e outros programas oficiais, como o pronunciamento do presidente da República, dos ministros e outras autoridades, sobretudo quando trata-se de mensagem de utilidade pública. Vale lembrar também que na "Voz do Brasil", os parlamentares e autoridades do judiciário prestam contas de seus atos, coisa essa que é justamente reclamada por todos os cidadãos, sem exceção.

O que devemos considerar como "odioso" é o fato de as emissoras de televisão não estarem obrigadas a formação de rede em determinado horário. Além disso, quando são obrigadas a fazê-lo, podem escolher a que horário colocar. Paradoxalmente, esta regra de flexibilização não vale para mensagens da propaganda eleitoral gratuita.

Quando lá pelo começo dos anos 90 a Rádio Eldorado de São Paulo começou a se mobilizar, tinha um motivo justíssimo. Afinal, a "Voz" entrava bem na hora em que ela e outras emissoras jornalísticas como ela prestavam serviço, bem na hora do "rush", do trânsito mais pesado. João Lara Mesquita, então diretor, mobilizou as demais emissoras e conseguiram ao menos flexibilizar o horário de exibição do programa na capital paulista, às duras penas.

Porém, algumas emissoras sem vocação jornalística ou com o forte inuito de prestar de serviço "abusaram" do direito conquistado e simplesmente aumentaram a sua grade musical ou começaram a falar de assuntos menos importantes que poderiam ser tratados em horários de maior audiência.

No fim das contas, pelo que tenho conhecimento, só as rádios Eldorado AM e FM, além da Rádio Bandeirantes AM conseguiram o legítimo de parar de transmitir a "Voz do Brasil" de uma vez por todas. As demais continuam fazendo o que fazem, desde que conseguiram jogar o programa para altas horas da madrugada.

Para 99% das emissoras instaladas no país não há motivo para se mudar o horário da transmissão da "Voz do Brasil", muito embora a flexibilização e a determinação de uma faixa horária seja o mais inteligente a fazer. Lembro me que, certa vez, quando era diretor da ex-Brasil 2000, Roberto Maia foi questionado por um ouvinte sobro o por quê a emissora não "birgaria" para tirar a "Voz do Brasil" do horário das 19 horas. Ele sabiamente disse que não era o programa oficial que tiraria a audiência da rádio. Ele entendia a briga das demais emissoras porque elas prestavam serviço a essa hora com o trânsito e tudo mais, mas que não era a da Brasil 2000. O tipo de programação da emissora era outra - já que era uma emissora educativa com finalidades culturais - e quem gostava da ex-Brasil 2000 não se incomodaria em voltar uma hora depois ou até mesmo ouvir a "Voz", que não deixaria de ser salutar. E que se fosse para transmitir lá pelas 3, 4 horas da manhã, já transmitia às 7 da noite e ficaria livre da "obrigação". Não sei se Maia mudou de opinião, mas seu pensamento se apresentava corretíssimo ao menos à epoca.

É preciso sempre tomar cuidado antes de se gritar contra o fim da obrigatoriedade da transmissão da "Voz do Brasil". Pelo país afora, ele é o único programa "decente" na grade de várias emissoras porque justifica uma das premissas da radiodifusão no Brasil, que é de prestar serviço.

A elegação de adminsitrações anteriores da Radiobras - hoje Empresa Brasileira de Comunicação, que gera o programa para todo o país - é que a "Voz" era o única forma para o morador do interior mais distante do país se informar sobre os atos do poder público, saber se haveria verba chegando para seu município, as últimas portarias baixadas e leis aprovadas de seu interesse. Não deixa de ser em parte verdade, pois as empresas comunicação privadas, por mais éticos e corretamente jornalísticos que sejam, acabam divulgando aquilo o que eles acham interessante o seu leitor / ouvinte / telespectador saber. Até aí nada de errado, desde que a edição seja feita baseados nos critérios éticos de seus profissinais. Paradoxalmente a "Voz do Brasil" acaba sendo uma espécie "versão do outro lado", do Estado, quase sempre retratado - não sem motivos - muito mais por suas mazelas do que por seus acertos.

Portanto, reforço o convite à reflexão: o que fazer com a "Voz do Brasil"?

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* POA: Baseado no texto em questão, suponho que seja a forma como alguns portoalegrenses chamam ou abreviam o nome de sua cidade. Levando-se em consideração que se só convencionou abreviar o nome dos Estados (no caso, Rio Grande do Sul seria RS), é bom lembrar que Poá (com acento na letra a) é um município localizado no Estado de São Paulo, além de uma marca de água mineral engarrada nessa cidade.

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