sábado, 21 de março de 2009

E o repórter virou segurador de microfone

Quando vi este artigo do Luiz Carlos Azenha, me lembrei muito de uma certa redação na qual trabalhei muito tempo atrás.......
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O PAU DE MATAR MATÉRIA

Atualizado e Publicado em 11 de abril de 2008 às 16:23

O aquário é uma sala envidraçada onde ficam os peixes graúdos de uma redação de Jornalismo. A mão pesada do aquário vai ficar cada vez mais pesada.
Hoje, em qualquer redação moderna da TV brasileira, um editor-chefe de um telejornal pode acompanhar à distância a produção do texto do repórter. Graças à informatização. Você escreve num terminal, salva o texto, e acessando de outro terminal o chefe já tem uma idéia do que você está escrevendo.

Problema maior, em minha opinião, é a pauta pré-definida. Se o repórter desmentir a proposta de reportagem corre o sério risco de se queimar. Essa tensão, entendam, existe em qualquer redação. É óbvio que se você junta três jornalistas discutindo um texto haverá discordâncias. De estilo, de conteúdo, de hierarquização das informações. Mas, no passado, o papel do repórter era preponderante.

Não é mais. Meu amigo Tonico Ferreira costuma brincar que, nas redações, existe um certo pau de matar matéria. Refere-se aos temas relevantes que passam batido pelos telejornais. É que, com raríssimas exceções, a pauta é definida de cima para baixo. Idéias pré-concebidas no aquário acabam sendo entregues a repórteres, que saem às ruas em busca dos fatos e imagens que justifiquem as hipóteses. Curiosamente, a indústria do entretenimento incentiva a personalização do Jornalismo. É comum ver fotos de repórteres e apresentadores na capa de Caras ou de revistas de fofocas.

O repórter é protagonista, muitas vezes mais importante do que a própria notícia. Por outro lado, o papel preponderante do aquário incentiva à "despersonalização" das reportagens. É a vitória da forma sobre o conteúdo. O repórter é mais importante para o marketing do produto do que para a produção de informação.

Os textos são previsíveis, os entrevistados também, o tom de voz, o sotaque - tudo é tão homogêneo que dificilmente você se surpreende com alguma reportagem no telejornal. A criatividade, muitas vezes, fica por conta dos repórteres cinematográficos e dos editores de imagens, aqueles que são encarregados de escolher o que você vê na TV. Porém, isso está prestes a acabar, se o modelo aplicado hoje aos repórteres for mantido.

As imagens gravadas em disco - não mais em fita - serão descarregadas diretamente num servidor. Assim, os repórteres poderão assistí-las diretamente nos terminais de computador. Esse novo sistema também permitirá que a turma do aquário veja as imagens brutas, não editadas, assim que chegarem à redação. O que permitirá o microgerenciamento também das imagens.

Há outro modelo de gestão possível. Se aos repórteres for dada maior responsabilidade pelo conteúdo das matérias, teremos maior diversidade, garantia de pluralidade, uma produção heterogênea e um telejornal mais humano, porque narrado com a convicção daqueles que, em carne e osso, estiveram em contato com a notícia. Esse modelo descentralizado, no entanto, dificulta o uso do Jornalismo para a pregação ideológica.


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Será que esse "desenvolvimento de teses inconsistentes" também chegou ao radiojornalismo?

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