quinta-feira, 3 de julho de 2008

Morre Samir Achoa

Samir Achôa morre aos 74 anos em São Paulo

Do site do Estadão

SÃO PAULO - O ex-deputado Federal Constituinte e ex-presidente da Câmara Municipal de São Paulo, Samir Achôa (PMDB/SP), faleceu no início da madrugada desta quinta-feira, 3, em São Paulo, aos 74 anos. O advogado e radialista estava internado no Hospital Sírio Libanês desde a semana passada e lutava contra um câncer no pulmão há oito anos.

O velório será realizado no Hospital Albert Einstein e o sepultamento acontecerá no cemitério Getsêmani às 16 horas desta quinta feira.

Samir Achôa nasceu em 6 de setembro de 1933 e era advogado e radialista. Exerceu três mandatos na Câmara dos deputados federais: 1979-1983, 1983-1987 e 1987-1991, participando inclusive da Assembléia Constituinte, onde sua atuação foi importante para retirada de um artigo da Constituiçao que acabava com a terceirização no país.

No início de 1998, Achôa entrou com pedido de afastamento do prefeito Celso Pitta por falta de pagamento de precatório, referente a uma dívida com a Silcon Engenharia Ltda vencida no final de 1997. Atualmente ele mantinha o programa "Falando Francamente" na Rádio Trianon e ainda advogava.

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O que as agências de notícias não comentaram:

No final dos anos 70, qaundo as FMs ainda era emissoras longe da audiência que hoje tem, as AMs populares dominavam o dial. Nesta época, a Rádio Record, ainda sob o comando da Família de Paulo Machado de Carvalho e do Grupo Silvio Santos, tinha os comunicadoes de maior audiência da época: Zé Bétio, Osvaldo Betio, Barros de Alencar, Eli Correia, Altieris Barbieiro, Gil Gomes,João Carlos Maciel e, claro, Silvio Santos.

Em seu programa de 3 horas de duração - antes do Barros de Alencar e depois das notícias policiais de Gil Gomes, O homem do Baú focava com Nelson Rubens, fazia consultas astrológicas para Zora Ionara e tocava músicas do rei Roberto Carlos.

Na última hora, ele apresentava um programa de debates políticos chamado francamente. Quem não viveu esta época nem faz noção do que era um programa político na mídia em pleno governo Geisel. Tanto que no rádio só havia dois: "Falando Francamente" e o "Trabuco", de Vicente Leporace, na Rádio Bandeirantes (depois da morte de seu titular, o "Trabuco" saiu do ar e foi substituído pelo "Jornal Gente", que está no ar até hoje.

O "Falando Francamente" era simples: Silvio Santos lia as notícias e os debatedores comentavam. Samir Achoa, que na época era suplente do então Senador Orestes Quércia, era um dos mais destacados debatedores. Sempre rendia boas discussões que mantinha com o jornalista Moisés Weltman, o advogado Clécio Ribeiro, a atriz Consuelo Leandro (já falecida) e jornalista Décio Piccinnini. Estes 3 últimos também faziam parte do jurado do programa "Shows de calouros", também apresentado por Silvio Santos na tv.

O programa era uma tribuna aberta à críticas aos governos, ás prefeituras e aos parlamentares. É bem possível que eles tenham de ter ido várias vezes à Polícia Federal prestar esclarecimentos sobre "o que fora dito", coisa bem comum à época, segundo dizem os radialistas mais antigos.

Era o meu programa favorito que sempre ouvia antes de ir à escola, enquanto tomava banho e almoçava. Não havia nenhum outro assim. Pode se dizer que ele foi o precursor dos "Debates Populares", aqui em São Paulo.

Com o tempo, Silvio Santos foi abandonando a apresentação do programa. Em pouco tempo, ele saiu do ar. Na década de oitenta "Falando Francamente" foi ressuscitado por Samir Achôa, que o produziu e o apresentou até às vésperas de sua morte.

Doutor Adolfo Carvalho, amigo meu, e também amigo e contemporâneo de Samir Achoa, disse que ele talvez seja o último de uma geração de grandes políticos brasileiro do século 20, que tiveram sua tragetória atropelada pela ditadura militar. Concordo com ele. Infelizmente hoje só temos a escória da escória política por aí. Os grandes políticos com P maiúsculo se foram e parece que não deixaram herdeiros: Leonel Brizola, Tancredo Neves, Teotônio Vilela, Mário Covas, Luís Carlos Prestes, Franco Montoro, Severo Gomes, Ulisses Guimarães, Freitas Nobre, Juscelino Kubistcheck, Florestan Fernandes, Carlos Lacerda, Jefferson Perez, e agora, Samir Achoa.

Tentando ser otimista, talvez daqui a 50 anos, com muita sorte teremos uam geração de políticos decentes comandando este país. Só com muita sorte.

Mais informações sobre Samir Achoa. http://blogandofrancamente.blogspot.com

4 comentários:

Anônimo disse...

Marco,

O Samir era tudo isso e muito mais. Sou sobrinha dele e tive o privilégio de acompanhar muito de perto sua trajetória política, de comunicação e familiar. Hoje sou jornalista e o primeiro contato de verdade que tive na área, ainda na faculdade, foi conhecendo os bastidores do Falando Francamente, com o Samir, Décio e Consuelo. Foi ali que se abriram as oportunidades para mim. A ele agradeço o que sou hoje. Ele era e é tão querido que ouvintes estiveram ontem no velório, como pessoas da família. Samir é um grande homem e nunca vamos esquecê-lo. Agradeço por lembrar de forma tão comovente a história do Samir.

Um abraço,
Yara Achôa
yara.achoa@uol.com.br

Rodney Brocanelli disse...

O Samir não fez parte do jurí do Show de Calouros também?

CAntonio disse...

Caro Marco Ribeiro,

Se vivo estivesse, o Samir agradeceria as palavras.

Infelizmente tão bravo homem, jurista e político nos deixou como que órfãos.

Ainda há muito sobre a trajetória do Samir político a ser escrito. A modéstia impediu que sua biografia fôsse escrita em vida.

Resta a lembrança de muitos que conviveram com esse homem de coração tão nobre.

O Samir político viveu até o seu derradeiro suspiro brigando pela moralização do PMDB, partido que ajudou a fundar.

Se, realmente, o PMDB fôsse digno da presença de Samir Achôa, ele hoje estaria sendo homenageado.

No seu enterro, a melancólica presença de um Orestes Quércia, apenas destoou de tantos "anônimos" apartidários que lá estavam, não por obrigação formal, mas porque verdadeiramente o tinham no coração.

Samir diria - como sempre o fez -:

"Porque no Brasil é assim mesmo!

Grande abraço e, mais uma vez, obrigado, em nome de todos os admiradores do Samir.

Anônimo disse...

Falar de Samir Achôa é muito fácil, homem íntegro, como político lutou muito pelos direitos do cidadão brasileiro, por aqueles menos favorecidos,como adogado tb lutou, cuidava dos processos como se fôsse sua causa própria, como patrão, sempre foi amigo e sempre se preocupou com o bem estar de seus funcionários, não teve quem um dia dia não teve sua mão estendida para poder solucionar um problema, como marido e pai aquele que acima de tudo estava sua família,o que falar mais de um grande homem como foi SAMIR ACHÔA, para mim foi um presente de Deus poder conviver 14 anos de minha vida o servindo como sua secretária.
Obrigado Dr. Samir por tudo que pude aprender ao seu lado, o que me consola é saber que hoje estás nos braços do Pai Todo Poderoso, pois o senhor recebeu uma promoção do próprio Deus que é estar na morada do Pai.
sua sempre secretária eternamente grata.
Conceição Lobão.