sábado, 13 de outubro de 2007

Morre Paulo Autran, um grande nome do rádio

Notícia de hoje, segundo o blog Rádio Base:Os fãs do ator Paulo Autran, que faleceu na tarde desta sexta-feira (12), têm até as 11h deste sábado (13) para prestar a última homenagem no salão nobre da Assembléia Legislativa de São Paulo, no Ibirapuera, Zona Sul de São Paulo, onde o corpo está sendo velado. O velório é aberto ao público.

Paulo Autran morreu na tarde desta sexta, vítima de parada respiratória decorrente de um enfisema pulmonar. Às 11h, o corpo do ator deixará a Assembléia Legislativa e seguirá para o crematório da Vila Alpina, na Zona Leste da Capital. Antes da cremação, haverá uma cerimônia fúnebre restrita à família, parentes e amigos.

Um dos mais aclamados atores do Brasil, estreou no teatro em 1955 e, desde então, protagonizou sucessos de crítica e público nos palcos, cinema e TV. Em Quadrante - vencedor do Grande Prêmio da Crítica da APCA -, interpreta textos de renomados nomes da literatura em língua portuguesa, retomando a experiência que havia feito na década de 60", diz a sua página no site da Rádio Band News FM, emissora onde apresentava o seu programa de crônicas.

Paulo Autran foi um grande artista que o rádio "emprestou" ao teatro, ao cinema e televisão ao longo das últimas seis décadas, embora ele jamais tenha admitido isso. Sua estréia como radialista, aconteceu em 1957, na Rádio Mec do Rio de Janeiro, a convite de Murilo Miranda que, então, dirigia a emissora.

"Murilo era um homem com uma visão sobre cultura extraordinária. E ele teve então a idéia de fazer o programa Quadrante, que eram cinco minutos em que eu lia crônicas. E os cronistas eram a nata da inteligência do Rio de Janeiro. Era Carlos Drummond, Cecília Meireles, Dinah Silveira de Queiroz, enfim, um para cada dia da semana. Então era um programa privilegiadíssimo. Durava no máximo cinco minutos, que era o tempo de leitura de uma crônica", diz Autran em um depoismento ao site dos ouvintes da Rádio Mec. "Ia ao ar às oito horas da noite, e era repetido no dia seguinte, ao meio-dia. Era um dos programas de maior audiência. O sucesso do Quadrante foi uma coisa extraordinária, na época, porque a Rádio MEC nunca teve a pretensão de rivalizar com nenhuma rádio comercial - é uma rádio que sempre se dedicou mais às coisas culturais e sabia, portanto, que teria menos ouvintes, habitualmente. Foi a primeira vez na história da Rádio em que um programa teve maior audiência que os programas das rádios comerciais. Às vezes eu falava com alguém pelo telefone e a pessoa perguntava: 'Não é o Paulo Autran?', e eu dizia 'Como é que você sabe?', e ela: 'Estou reconhecendo sua voz da Rádio MEC.' Isso aconteceu inúmeras vezes", continua Autran.

O programa saiu do ar porque um certo Eremildo (Nota da redação: seria o famoso "Eremildo, O Idiota", personagem da coluna de Elio Gaspari, na Folha de São Paulo?) Viana assumiu a emissora e quis podar qualquer liberdade de manifestação artística que houvesse por lá. Como era funcionário há mais de 10 anos da emissora, o tal Eremildo queria que ele batesse cartão e cumprisse horário, como os demais funcionários administrativos. Todos acharam isso um absurdo, pois sabiam que Autran era um artista também de teatro e cinema. "Então o Eremildo começou a me atribuir outras funções. Um dia, quis que eu lesse uma crônica a respeito de um novo pintor. A crônica era assinada por um rapaz do Rio de Janeiro e dizia coisas inacreditáveis a respeito do pintor. Que era um pintor jovem, musculoso, de olhos verdes, e eu lhe disse que não poderia ler aquela crônica, pois ela parecia uma declaração de amor e não uma crônica sobre pintura. E não li a crônica. Ele não podia me demitir, mas continuou me dando coisas completamente desinteressantes para ler no microfone, e eu acabei pedindo demissão da Rádio Ministério da Educação, contra a vontade dos colegas. Esta foi a minha passagem pela Rádio MEC, uma passagem muito agradável, de glórias, até o golpe de 64, e, depois, uma coisa meio constrangedora", desabafa o radialista.

Anos mais tarde, já na de´cada de 70, Paulo Autran estréia um novo programa nos mesmos moldes, desta vez na Rádio Eldorado AM de São Paulo, que a época tinha os também atores Sérgio Viotti e Rubens de Falco no seu elenco de locutores. Depois de quase 20 anos longe dos microfones, o ator volta a fazer o "Quadrante", na recém inaugurada Band News FM, emissora "All News", da Rede Bandeirantes de Rádio. Neste mesmo ano, ele ganha o "Grande Prêmio da Crítica" , na categoria rádio, concedido pela Associação Paulista dos Críticos de Arte - APCA.

Ao longo destes dois anos de Band News, Paulo Autran trouxe muito lirismo e poesia ao árido ambeinte sonoro do hard news do dial paulistano. Ao lado do humorista José Simão, também colunista da Band News, Quadrante era aquele momento de "respiro" dentre as notícias, nem sempre tão boas assim. E não era um momento de pausa para a música ou de pausa parafalarmos de assuntos mais triviais como o futebol. Era o momento de poesia, da dramaturgia no rádio, da interpretação de uma boa crônica. E o rádio não ouvia nada semelhante desde as crônicas de Lourenço Diaféria, no Jornal da Excelsior, na década de 80.

Paulo Autran já está fazendo muita falta para os amantes do verdadeiro RÁDIO.

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