domingo, 9 de setembro de 2007

O blog Rádio Base lê revistas

Fazia muito tempo que eu não comprava a revista Imprensa. Por um acaso desses, entrei no site deles, vi alguns destaques da edição e me animei a comprar. Pude constatar que a publicação teve uma melhora sensível na qualidade.

Seu lançamento ocorreu em 1987 (20 anos, caramba!! - essa data me persegue), e a proposta era cobrir os bastidores da imprensa com o olhar de uma revista semanal de informação. Um de seus sócios era o jornalista Paulo Markun, hoje presidente da Fundação Padre Anchieta. A primeira edição trazia entrevistas com Victor Civita, fundador da editora Abril, e Otavio Frias Filho, diretor de redação da Folha de S. Paulo.

Os primeiros anos da revista foram excelentes, com entrevistas e textos idem. À medida em que os sócios foram saindo, a qualidade caiu, quando o alvo se voltou para o público acadêmico. Ainda assim, ela não deixou de circular, numa atitude corajosa (pelo menos para quem acompanha a uma certa distância). Hoje, voltando ao hard-news, ela partiu em busca do prestígio que ficou perdido no passado. Tarefa nada fácil devido a competição com veículos de Internet. Sites como Comunique-se (caso típico de uma idéia boa, mas péssimo nível de execução) e Observatório da Imprensa se tornaram referência no que diz respeito ao jornalismo sobre jornalismo.

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O preâmbulo ficou um pouco longo, mas achei que valia a pena gastar mais linhas para contextualizar a trajetória da revista Imprensa.

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A edição que eu comprei trazia o escritor Ruy Castro na capa, personagem de uma entrevista de fôlego. Ele trouxe um enfoque no mínimo original sobre a polêmica proibição do livro "Roberto Carlos em Detalhes": "Não sei se para uma editora estrangeira, a defesa da liberdade de expressão no Brasil é uma coisa importante. Não é...O que eles têm aqui é um investimento. É melhor não criar caso. Se isso vai abrir um precedente perigoso para a liberdade de expressão perigoso no Brasil, não é problema deles". Outro destaque é uma reportagem sobre a adoção da figura do ombudsman nos portais UOL e iG.

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Mas o que de fato me fez adquirir esta edição foi a seção Degustação, que, como o próprio nome já deixa entendido, é uma degustação editorial de revistas segmentadas. Nas edições anteriores, revistas de psicologia e história foram avaliadas por especialistas convidados pela revista Imprensa. Agora, a vez foi das publicações sobre música.

Dentro de um critério pré-estabelecido, foram escolhidas nesse teste a Bizz (recém-finada), a Outra Coisa, a Rolling Stone Brasil e a Revista da MTV. E para a formação do "júri", alguns músicos: João Marcelo Boscoli, Fabiano Carelli, Rosana Padial, Alexandre Grooves e Paulinho Pereira. Com base em edições recentes das publicações, cada integrante deu suas opiniões à reportagem da Imprensa, que, por sua vez, condensou as impressões em textos separados.

Pode parecer estranha, à primeira vista, a seleção de nomes pouco conhecidos do grande público, com exceção de João Marcelo Boscoli, responsável pela Trama. Mas foi uma decisão correta. Em princípio nenhum deles tem ou teve trabalhos musicais resenhados pelas revistas em questão. Com isso, a análise se deu de forma mais isenta. O resultado poderia ser outro, caso tivessem convidado, por exemplo, algum músico que tivesse problemas com a Bizz no passado.

Não houve uma revista de música que se destacasse nas avaliações. Um dado curioso é que alguns jurados acharam a Bizz e a Revista da MTV muito parecidas, embora os públicos-alvo declarados sejam (ou era, no caso da Bizz) opostos. A primeira tentou falar com um público acima dos 30 anos, enquanto que a segunda é voltada para o jovem entre os 18 e 24. Talvez o ruído estivesse no visual da Bizz, que não casava com o target perseguido. Um design mais sóbrio poderia não ter causado tanta confusão.

Junto com os depoimentos dos convidados, os responsáveis pelas revistas de música puderam comentar as opiniões do júri. Fez feio a Rolling Stone Brasil, que não quis se manifestar a respeito. A alegação: "a proposta do magazine drive não se adequava ao perfil da publicação".

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A Imprensa traz ainda uma reportagem sobre rádios comunitárias. Comento a seu respeito em um post à parte.

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O post ficou mais longo do que eu previa, mas estamos num domingo e o dia é propício para leituras mais aprofundadas. Vamos em frente.

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Trouxe para casa tambem a Piauí. Já falei dela aqui em outra ocasião. Acho seu formato um pouco desconfortável para leituras dentro de coletivos. Como os ônibus de São Paulo estão diminuindo cada vez mais o espaço dos bancos, fica complicada uma leitura mais atenta, especialmente quando a outra vaga está preenchida.

Outro senão é o projeto gráfico, que julgo ser árido demais. Não sei se a revista Brasileiros seria uma concorrente direta, mas num confronto entre os dois, este título leva muito mais vantagem, pois seu visual é bem mais agradável e arejado. Se a inspiração da Piauí é a New Yorker, penso que seu formato poderia ser o mesmo.

Compro atualmente a Piauí apenas quando algum texto me interessa muito. Nesse caso, foi o de Sandro Vaia, contando sua experiência como diretor de redação do jornal Estado de S. Paulo entre 2000 e 2006. Numa palavra, diria que é imperdível tanto para leitores, estudantes de jornalismo e jornalistas.

Uma outra Piauí que me interessou muito tinha um texto de Cadão Volpato (da banda Fellini) falando sobre seu contato com Renato Russo, muito antes da explosão da Legião Urbana. Russo veio passar um tempo em São Paulo e se hospedou no apartamento de Cadão, no centro.

Um ponto positivo da Piauí são os tijolinhos laterais de anúncios. A maioria ocupada por pequenos comércios, cursos de línguas etc. Um deles é de uma locadora de carruagens para casamentos, em São Paulo. Outro é de uma chapelaria, no Rio. Não basta a revista ser, hã, cult. Os anunciantes tambem têm que ser.

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Texto originalmente publicado (e transcito aqui com alguns acréscimos) no site Laboratório Pop.

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