domingo, 29 de julho de 2007

Saiba quem entende de rock nesta Terra

A imprensa rock no Brasil e seus principais personagens
Alexandre Figueiredo, novembro de 2003.
Do site Rock Informação

O radialismo de rock de hoje, corrompido através das rádios comerciais que se dizem "rock", sofre a ditadura do pessoal não-especializado, gente que só entende de posições de paradas de sucesso ou de quantidade de discos vendidos.

Tempos atrás, no entanto, o radialismo rock era conhecido e respeitado por ter gente realmente especializada em rock. Gente autêntica, que gostava do gênero que trabalhava profissionalmente e entendia tanto do segmento que tinha segurança para avaliar os nomes que eram realmente bons e "garimpar" (pesquisar) gravações raras ou intérpretes obscuros que muitas pessoas não imaginam ter existido.

Jornalismo e radialismo, nessa época, andavam junto. Os locutores de rádios de rock não eram rapagões bonitões, "gostosões" e alienados (como as "rádios rock" hoje querem impor), mas jornalistas conhecedores de causa, que não tinham aparência "chamativa" mas tinham o mais importante, a honestidade, simplicidade e autenticidade.

Graças a essa especialização, muitos desses radialistas trabalharam na imprensa escrita, como Fernando Naporano, Vitão Bonesso, Leopoldo Rey, José Roberto Mahr, Valdir Montanari. Aqui, no entanto, não iremos enumerar apenas os jornalistas que trabalharam em rádio, mas os principais personagens da imprensa rock como um todo, para se ter uma idéia quem e o que faziam as cabeças pensantes da cultura jovem de nosso país dos anos 60 aos anos 80, uma geração peculiar que conseguiu furar o limite do mainstream na reportagem musical.

Para compreender a qualidade dos textos e das informações que transmitiam, só recorrendo a antigos periódicos ou aos livros publicados, muitos fora de catálogo. Mas vale a pena saber que na imprensa musical houve gente que fazia muito além do óbvio e que seria uma lição para a imprensa musical de hoje (salvo exceções), cheia de gente desinfomada, confusa e limitada a perder tempo falando de nomes da moda.

OS PERSONAGENS

LUIZ CARLOS MACIEL - Gaúcho de nascimento, ele é considerado um dos maiores especialistas em Contracultura dos anos 60 e rebeldia juvenil no Brasil. Versátil, escreveu para vários veículos "nanicos", lançou livros, trabalhou em TV e dirige teatro. Mais detalhes em breve, onde estará disponível uma seleção de textos do autor.

ROBERTO MUGGIATI - Foi repórter e depois diretor de redação da revista semanal Manchete. Com a crise que atingiu essa revista (atualmente limitada a publicar edições especiais), depois da morte do fundador Adolpho Bloch, Muggiati faz parte da chamada "massa falida" da Bloch Editores. No entanto, ele também escreveu vários textos e livros sobre rock, jazz e blues. Do rock, se destacam as obras "Rock, o grito e o mito", abrangente histórico do rock lançado em 1973, e "Rock, do sonho ao pesadelo", lançado em 1984, sobre algumas celebridades do gênero.

NEWTON DUARTE - Mais conhecido como "Big Boy", ele era discotecário, jornalista e radialista. Trabalhava usando ora seu próprio nome, ora o pseudônimo que o marcou. É profundo conhecedor de música soul, tendo sido amigo do cantor James Brown. Mas seus conhecimentos de rock não eram poucos, e entre seus discos havia até raridades dos Beatles. Se consagrou na Mundial AM (atual CBN), no Rio de Janeiro, e depois coordenou a rádio de rock Eldorado FM (conhecida como Eldo Pop, ocupava o espaço hoje reservado à 98 FM), que tocava rock sem usar locução. Chegou a ser repórter do Jornal Hoje, nos anos 70 e faleceu por problemas com a obesidade em 1977, com apenas 32 anos de idade.

ANA MARIA BAHIANA E JOSÉ EMÍLIO RONDEAU - Este casal já trabalhava junto desde meados dos anos 70. Quer dizer, eram colegas, mas cada qual partia para sua própria reportagem, só eventualmente trabalhavam em conjunto. Começaram escrevendo sobre rock e MPB em vários periódicos independentes, além de terem colaborado na fase áurea da extinta revista Bizz, nos anos 80. Ana Maria teve uma coluna no jornal O Globo que deu origem ao "Rio Fanzine", que ela deu em 1986 para o então estagiário Tom Leão. A partir dos anos 80, o casal passou a se especializar em cinema e Ana Maria chegou a ser repórter da Rede Globo (Fantástico, Bom Dia Brasil), além de ter feito uma coluna ao lado do Rio Fanzine, no Segundo Caderno de O Globo. Em 2002, estão finalizando a produção do primeiro filme, 1972, dirigido por Rondeau. Um filho deles, Bernardo, também chegou a colaborar para o Rio Fanzine.

LEOPOLDO REY - Radialista e jornalista veterano, em atividade desde meados dos anos 60. Fez parte da equipe da antiga Excelsior FM (que foi a Eldo Pop paulista, nos anos 70) e colaborou para várias revistas. Foi fundador e diretor artístico da antiga 97 FM, conhecida como 97 Rock, que durou entre 1983 e 1994. Trabalhou também na Brasil 2000, onde retornou recentemente. Na imprensa, destaca-se sua colaboração em revistas como Dynamite e Bizz.

VALDIR MONTANARI - Físico e musicólogo, ele escreveu um livro de Rock Progressivo em 1985. Também fez parte da equipe original da 97 Rock. Escreveu também o livro "História da música: da Idade da Pedra à Idade do Rock". Também é especializado em música erudita, principalmente a música concreta.

VITÃO BONESSO - Um dos maiores conhecedores de heavy metal do Brasil. É especializado também em rock clássico, sobretudo hard rock. Também integrante da equipe original da 97 Rock, Vitão se consagrou através do programa "Backstage", que ele apresenta há vários anos no rádio, atualmente na Brasil 2000. O programa também tem site na Internet. Também tem uma coluna homônima na revista de heavy metal Roadie Crew e colaborou em outras revistas especializadas em rock. na Internet. Também tem uma coluna homônima na revista de heavy metal Roadie Crew e colaborou em outras revistas especializadas em rock.

LUIZ ANTÔNIO MELLO - Num tempo em que no Brasil as novidades demoraram a vir, nos anos 60, Mello teve o privilégio de conhecer a música do grupo inglês The Who no ano de sua estréia em LP, 1965. A partir daí não deixou mais de ser fã do grupo, tanto que, em jornais como o Jornal do Brasil, O Estado de São Paulo e Internacional Magazine, fora outros veículos, Mello sempre escreve sobre alguma notícia sobre o Who. Como jornalista, no entanto, Mello vai muito além do universo musical, tendo atuado em diversos setores, desde um simples articulista de jornal alternativo até repórter policial. Uma seleção de textos dele sobre cultura rock pode ser conferida em breve neste site.

RENÉ FERRI - Especializado em músicas pop dos anos 60, sua contribuição para a cultura rock se dá através da redescoberta de esquecidas bandas de garagem daquela década, como os Beau Brummels (que chegaram a "aparecer" num episódio de Os Flintstones) e The Zombies (não confundir com o White Zombie). Ele é capaz de nos fazer lembrar de cantores e grupos hoje sumidos, mas cujo brilho se tornou mais durável do que suas carreiras. Fez uma coluna "Jukebox", na antiga Bizz, mas divergências com a equipe da revista (que começou a passar por uma má fase nos anos 90, sob a influência de André Forastieri) fizeram ele deixar a revista. Hoje ele tem uma coluna similar na revista Metal Massacre (antiga Top Rock - apesar do atual nome, não se limita ao metal), onde se dispõe de completa autonomia para falar de raridades dos anos 60.

MAURÍCIO VALLADARES - DJ, fotógrafo e jornalista, ele está em atividade na mídia desde os anos 70. Fez parte da primeira equipe da Rádio Fluminense FM e comandou o "Rock Alive" juntamente com a também jornalista Liliane Yusim. Foi responsável pelas fotos dos Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, Biquini Cavadão, Plebe Rude, entre outros. Como jornalista musical, ele tem como proposta uma salada musical informativa onde cabe intérpretes que ele considera importantes, não apenas rock, mas também MPB, reggae, hip hop, world music e soul. Em sua casa, já estiveram Steve Jones, guitarrista dos Sex Pistols, e o próprio reggaeman Bob Marley, que visitou o Brasil em 1980, um ano antes do ídolo do reggae falecer. Atualmente está na Internet e na noite carioca com seu projeto "Ronca Ronca".

JOSÉ ROBERTO MAHR - Comissário de bordo, ele é um ávido colecionador de discos de música eletrônica e rock independente. Como radialista, iniciou sua carreira na antiga Estácio FM e chegou a ser diretor de programação da rádio. Criou e apresentou o programa "Novas Tendências", que divulgou muitas novidades do rock inglês dos anos 80 no Brasil. Trabalhou na Fluminense FM entre 1985 e 1990, depois retornou entre 1991 e 1993 e em 2000 foi chamado pelos DJs da Jovem Rio (rádio dance que ocupou o espaço da Flu FM na época) para apresentar um programa de música eletrônica, Clubtronic. Largou o programa para organizar a programação rock da Fluminense AM em 2001 e hoje é coordenador da nova fase da Fluminense FM. Na imprensa rocker, Mahr escreveu e editou vários zines do programa "Novas Tendências", e no programa realizou diversas entrevistas com músicos e personalidades ligadas à cultura alternativa.

FERNANDO NAPORANO - Especializado em pós-punk, ele chegou a ser vocalista da banda Maria Angélica Não Mora Mais Aqui, ícone do underground paulista dos anos 80. Rebatizado de Maria Angelica (sem acento agudo no "e"), o grupo lançou um raro compacto de 12 polegadas, com quatro músicas em inglês. Chegou a trabalhar na 97 Rock e na Brasil 2000. Era um dos principais jornalistas da Bizz na virada dos anos 80 para os 90.

ARTHUR G. COUTO DUARTE - Jornalista mineiro, era também colaborador da Bizz. Especializado no pós-punk mas sem limitar-se a ele, Couto Duarte fez resenhas elogiosas ao Bizarro, álbum de 1989 do subestimado grupo inglês Wedding Present e Freedom, álbum de 1990 do cantor de folk rock Neil Young, nomes mal compreendidos pela grande mídia.

RODRIGO LARIÚ - Especializado no rock norte-americano dos anos 80 e 90, mas sem menosprezar os britânicos, o carioca Lariú, sobrinho de Nivaldo Lariú (residente em Salvador e autor do dicionário de "baianês", ou seja, dialetos típicos da Bahia), se tornou conhecido pelo zine Midsummer Madness. Participou de uma fase delicada da Fluminense FM, entre 1991 e 1994, mas não integrou a "parte podre" que contaminou a rádio. Desfez o zine e montou uma gravadora com o mesmo nome do periódico, que tem até site na Internet. Lançou nomes como Pelvs, Beach Lizards, Second Come e Stellar, e também o grupo de Thomas Pappon, The Gilbertos. Com a volta do grupo Fellini, célebre na cena alternativa paulistana, Lariú assumiu o lançamento do recente álbum do grupo, A Manhã É Tarde, na Internet. Lançou nomes como Pelvs, Beach Lizards, Second Come e Stellar, e também o grupo de Thomas Pappon, The Gilbertos. Com a volta do grupo Fellini, célebre na cena alternativa paulistana, Lariú assumiu o lançamento do recente álbum do grupo, A Manhã É Tarde.

THOMAS PAPPON E CADÃO VOLPATO - Jornalistas musicais que se tornaram integrantes de toda a trajetória do grupo Fellini, que marcou o rock paulista dos anos 80 mesmo sem fazer sucesso na mídia (mesmo assim, chegou a causar ciúme nos Titãs num episódio da votação dos melhores da revista Bizz). Thomas é mais voltado ao rock inglês e já morou na Alemanha e na Inglaterra. Cadão, sem deixar de gostar de rock pós-punk, gosta de MPB, sobretudo a Bossa Nova do cantor Lúcio Alves. Thomas escreve geralmente sobre música nos jornais, tendo trabalhado na Bizz e O Estado de São Paulo. Cadão também trabalhou na Bizz e chegou a ser editor-chefe da revista de cinema SET e também fez parte da redação da revista Época. Atualmente Thomaz Pappon é correspondente da BBC Brasil e aparece no jornalismo da TV Bandeirantes devido à parceria feita com a filial da emissora estatal inglesa.

2 comentários:

E. SANCHES disse...

LEOPOLDO REY está morando em Atibaia e aparece esporadicamente em shows musicais ao vivo dos artistas da região.
Esteve presente em um show meu a pouco tempo em um PUB em Atibaia.
Uma escritora está escrevendo a sua biografia.
No facebook acabou de abrir sua página "Reynação" com o incentivo dos amimos mais próximos.
Tenho algumas fotos recentes dele em minha página do Facebook
Edelzio Sanches [Dedé Musical Show]
Ótima máteria.
Parabéns!

E. SANCHES disse...

Leopoldo Rey está em Atibaia
de.sanches9@gmail.com