domingo, 12 de setembro de 2004

Nosso império contra-ataca

Cássio Silvério
Do Portal Tudo Rádio

Bom, pra início de conversa, vou ser sincero com vocês... eu não consigo mais ouvir as emissoras que eu ouvia em outras épocas. Seja por causa da constante repetição na parte artística, seja pela constante repetição de certas músicas. É tudo muito igual. Dá a impressão que a maioria das emissoras de FM está fazendo como os "Cartéis" montados pelos postos de gasolina, onde eles combinam entre sí um mesmo preço nos combustíveis para que o consumidor não tenha opções e acabe comprando no primeiro que ele vê. No caso das FMs, são as músicas, as quais as mesmas podem ser ouvidas (sejam lançamentos ou flashbacks) em diversas emissoras, com pouquíssimas variações. Não há muita opção para o ouvinte. Dá a impressão também que os coodenadores artísticos estão mais preocupados com as promoções da rádio do que com o próprio playlist e que as músicas deste, estão esquecidas numa pastinha "mp3" no computador que gera a programação que vai ao ar. Preguiça de mudar? Muito cacique para pouco índio? Talvez...

Eu, que sou publicitário há quase 4 anos, até entendo o ponto de vista minimalista de Diretores de Criação, Mídias e Gerentes de Conta das grandes agências de propaganda do Brasil quanto ao rádio. Eles mesmo dizem: "Pra que eu vou anunciar num veículo que está cada vez mais decadente, repetitivo e ninguém faz nada para mudá-lo?" É... em certo ponto eles tem razão. Prova disso é o volume de investimento que as agências fazem em rádio. Comparado a televisão, é quase nulo. E, as emissoras que conseguem grandes patrocínio ou são as líderes de audiência, ou são emissoras segmentadas com estilo, como pro exemplo as cariocas MPB, JB e Paradiso FM, emissoras diferenciadas e, por isso, líderes em faturamento com publicidade.

Sem saída, muitas vezes algumas emissoras de FM acabam apelando a uma prática deprimente, onde os únicos prejudicados são os ouvintes. Falo da conhecida prática do Jabá.

Muitas vezes por ter um departamento comercial fraco, ou uma direção que não tem poder nenhum dentro da emissora, as rádios acabam vendendo um espaço onde seria para as manifestações artísticas em geral. O ouvinte acaba consumindo um produto de uma operação financeira e não uma opção de programação livre. É um jogo muito bem tramado onde, repito, os únicos prejudicados são os ouvintes.

Enjoados desta repetição, a audiência se vê na obrigação de buscar outros meios para suprir o espaço que deveria ser das emissoras de rádio. Com o avanço desenfreado da tecnologia, a grande maioria apela para ao "download" de músicas na internet e para a compra de CD's piratas, visto que o preço de um CD normal não está de acordo com o poder de compra do consumidor. Esta bola de neve termina na falência de grandes gravadoras como a Abril Music, que tinha um plano de Marketing agressivo em rádio e tv. Só assim, quem sabe, temos a queda de investimentos e compra de espaço para a execução de músicas de uma determinada música, o Jabá.

Infelizmente, pessoas que deveriam lutar para o bem do rádio parecem, mascaradamente, estar do lado oposto. É o caso do Sr. Antonio Rosa Neto, presidente do GPR (Grupo dos Profissionais do Rádio) que disse à jornalista Laura Mattos em uma reportagem veiculada na Folha de São Paulo em 15/04/2003 que "Emissoras são empresas e têm de faturar." Ele não concorda com o projeto de lei do Deputado Fernando Ferro, que proíbe o Jabá ou, pelo menos faz com que se torne uma obrigação das emissoras de rádio em identificar quais músicas estão sendo executadas na emissora mediante a pagamento. Rosa Neto não concorda com a separação e compara o jabá de rádio ao merchandising nas novelas. "Se o consumidor souber que alguém pagou para aquele produto entrar na história, a propaganda perde a força. Da mesma forma seria se o ouvinte soubesse que uma música está no ar porque houve pagamento."

Infelizmente a gente é obrigado a aturar esse tipo de comportamento vindo de pessoas tão importantes. A única coisa que nos resta fazer é botar a boca no trombone ou usar da mesma política que a MTV vêm usando em um comercial veiculado no próprio canal, onde a mensagem é "desliga a tv e vai ler um livro." No nosso caso, devemos simplesmente desligar o rádio e ir atrás mais opções musicais, seja na internet, bancas de revista, bares, casas noturnas, etc. Só não podemos ficar atrelados a esta limitada quantidade de músicas que as emissoras de rádio comerciais nos oferecem. Ai, sem audiência, sem faturamento. Quem sabe assim as emissoras de rádio criam vergonha na cara e passem a tocar o que o ouvinte quer ouvir, abram a programação pra gente que tem pouco dinheiro mas muito talento e não fique presos somente a artistas meramente "comerciais".

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