terça-feira, 8 de junho de 2004

Aviso aos navegantes

Para quem ainda não descobriu, ou não percebeu, os anos 80 estão de volta à moda. Não que eu me importe com isso, afinal, os anos "perdidos" não foram tão gloriosos para este país, como alguns deslumbrados querem "vender" para a moçadinha mais nova. Mas uma coisa era certa: as coisas eram difíceis, os recursos escassos, e o pessoal - arte dele ao menos - tinha mais gana de fazer as coisas. E muita coisa interessante rolou no rádio nesta era; apesar dos espaços escassíssimos.

Quem sobreviveu a turbulência sabe do que estou falando. Começamos com a esperança da volta de democracia nas ferraduras de um equino residencial e terminamos numa hiperinflação galopante pré-collorida.

Em certo aspecto, era melhor que a era atual. Havia emprego, embora os salários fossem indignos e corroídos pelo custo de vida. A era digital engatinhava e os computadores - só mesmo "os do Baú da Felicidade".

No rádio, ainda haviam garndes nomes das décadas passadas: professores que ensinavam aos mais novos os meandros do radialismo de qualidade. Assim como hoje, a mediocridade grassava de ponta a ponta no dial. Cada espaço de inteligência era precioso como água no deserto.

Mas o campo da música era fértil com "outros sons, outras batidas, outras pulsações". A Dance Music foi relegada ao canto da história pop, o rock -e quase todas as suas vertentes ressurgiam avassaladores, e os anos 60 voltavam à baila com sua estética revolucionária.

Os anos 80 tupiniquim não sabiam direito o significado da palavra concorrência feroz. Conhecia mais o monopólio dos meios de produção e divulgação cultural. Ai de ti, se quisesse curtir algo fora do establishment, era uma maratona quase infindável achar algo que realmente valesse apena curtir. Mas era outra época com outras dificuldades e outras alegrias também.

Hoje está tudo diferente. Chegamos ao Futuro quase sem sentir. Você acha que perdemos a essência da procura? Aos menos temos mas recursos para procurá-la. Nem tudo é dinheiro. Há valores muito mais nobres que precisam ser preservados. A pobreza da criatividade musical dos dias atuais desanima a quem faz rádio com paixão. Mas o rádio sobreviveu a tantas coisas e está aí firme e mais ou menos forte.

Pensamentos arcaicos à parte de alguns que se dizem e se acham importantes no novo milênio, a gente vai tentando se organizar para alcançar o novo século. Aos trancos e barrancos, "a gente vai sobrevivendo nenhum arranhão". Por isso mesmo, aproveite que você leu este texto até aqui e ouça a Paradiso FM

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