quarta-feira, 5 de maio de 2004

Sem controle de conteúdo, rádio é ouvido por 86,5% das crianças

Laura Mattos
Da Folha Online

Sempre preocupados com o conteúdo da TV e da internet para as crianças, sociedade e governo pouco olham para a programação das rádios. Esse é um erro grave, de acordo com uma pesquisa sobre hábitos infantis. Segundo o instituto MultiFocus, especializado em consumo de mídia na infância, 86,5% das crianças de seis a 11 anos, das classes A, B e C, escutam rádio regularmente. O estudo foi realizado em 2003, com 1.500 entrevistas, em quatro capitais brasileiras (São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Curitiba).

O levantamento aponta ainda que quase metade (49,1%) escolhe pessoalmente as emissoras. Diferentemente da TV, as emissoras de rádio não submetem sua programação à classificação etária do governo federal e raramente são alvo do monitoramento de ONGs ou do Ministério Público. De manhã e à tarde, não são poucos os exemplos de humorísticos, com altas audiências, a explorar piadas de sexo. Há palavrões e frases homofóbicas. Programas sobre violência também são comuns.

Pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, o governo deveria também monitorar programas de rádio, o que não ocorre, segundo o próprio diretor do departamento de classificação do Ministério da Justiça, José Eduardo Romão, responsável pela tarefa. Ao ser informado pela Folha sobre a pesquisa, ele disse que "o resultado exige novos procedimentos do ministério". "A lei estabelece que não se classifica previamente programação ao vivo, no rádio e na TV. Mas ela deve ser monitorada e pode ser classificada se se demonstrar inadequada."

Ele diz que rádios que transmitem programas considerados impróprios para o horário livre (até 20h) podem ser multados. "A sociedade deve olhar para essa questão do rádio e denunciar o que for inadequado." Segundo Ana Helena Meirelles Reis, do MultiFocus, crianças têm interesse principalmente em música. "Mas estão expostas a todo o tipo de conteúdo. A sociedade não se dá conta da penetração do rádio e só se preocupa com TV."

Outro ponto: AMs e FMs comerciais não investem em programação infantil. "Ficou claro na 4ª Cúpula Mundial de Mídia para Crianças e Adolescentes que esse público quer mais do que uma programação feita para ele. Deseja participar da produção", diz Ismar de Oliveira Soares, coordenador do Educom.radio, da USP, projeto que utiliza o rádio como ferramenta da educação.

José Inácio Pizani, presidente da associação de rádios de SP (Aesp), não concorda que o rádio seja monitorado pelo governo. "Se houvesse problemas, a própria sociedade se manifestaria."


Eu jurava que criança não ouvia rádio! Pelo menos agora a gente sabe que ouve, certo? Alguém aí tem uma idéia para manter os pest.., quer dizer, anjinhos do meu condomínio ocupados ouvindo rádio?

Nenhum comentário: