sábado, 17 de abril de 2004

Para ler, pensar e opinar

Radialismo Rock, Drogas e Imbecilização Juvenil

Por Alexandre Figueiredo
Do Web site Tributo à Rádio Fluminense


A associação entre drogas e rock é histórica. Muitos são os ídolos e fãs que através do rock mergulham no pesadelo das drogas e não raro sacrificam suas vidas em conseqüência do vício. No entanto, sabe-se que o universo das drogas não pode ser confundido com o do rock, uma vez que há muitos não-drogados vinculados ao rock, assim como há muitos drogados ligados a outras
tendências, como o miami bass carioca (que muitos dizem ser funk) e o pagode rebolativo baiano pós-Harmonia do Samba.

Nos últimos anos, o grunge e seu derivado nu metal reconstituiram o lamentável fascínio dos jovens pelas drogas, mas com o agravante da visão maniqueísta que os jovens ditos "rebeldes" têm a respeito da relação polícia X favela, onde a primeira é vista sempre como o "mal" e a segunda sempre como o "bem". Nessa visão, trabalhada sutilmente por uma mídia teen metida a arrojada, um favelado com metralhadora em punho é visto como um "herói", como um Robin Hood moderno.

No rádio, a idéia infeliz de deturpar o radialismo rock - que caminhava para um processo de sensatez e sobriedade que estimulava a autocrítica e o senso crítico dos jovens brasileiros - a uma performance imbecilizante e cheia de absurdos, fez com que o jovem se tornasse ainda mais vulnerável do que antes no que se refere ao uso das drogas.

A partir de um marketing que transforma o jovem num indivíduo narcisista, agressivo e egoísta, capaz de chamar qualquer um de "imbecil" só por alguma discordância, ou gritar até para os próprios pais e defender sua irresponsabilidade de forma intransigente, a alienação juvenil acaba estragando praticamente toda uma geração, e hoje se vê que, de todos os indivíduos nascidos depois de 1978, apenas uma minoria se livra completamente do processo de imbecilização promovido pela mídia dedicada aos jovens. É notória a ignorância da maioria dessa geração pós-1978 em relação às coisas do passado ou a referenciais preciosos da cultura mundial.

O radialismo rock, na medida em que se diluiu para a fórmula "Jovem Pan 2 com guitarras" - não é segredo algum que a Rádio Cidade e a 89 FM espelham seu formato, de forma explícita, com a Jovem Pan 2 e Transamérica, apesar da aparente hostilidade entre os ouvintes - , causou um enorme e praticamente irreparável prejuízo à formação cultural dos jovens.

A partir de locutores engraçadinhos, programas de besteirol, publicidade enganosa que cita o nome do rock em vão e um repertório que não sai do hit-parade, essas "rádios rock" criam estereótipos de jovens "rebeldes" que deixam claro que essas rádios supostamente alternativas estão em consonância com todo o processo de imbecilização que, no caso do povo pobre, é simbolizada pela baixaria na televisão e pela música popularesca da pior qualidade (breganejo, pagode, axé-music etc.)

Alguns aspectos podem ser aqui enumerados:

1. A divulgação de bandas de rock caiu em qualidade e quantidade. Os jovens de hoje estão muito mais presos ao hit-parade do que os jovens de vinte anos atrás. É um gosto musical medíocre e muito pouco ousado, pois são sempre as mesmas bandas e músicas de "sucesso".

2. Os jovens passaram a se comportar como playboys e clubbers, com um comportamento boçal e estuúdo. Não pára por aí. Gírias ridículas como "balada" e "galera", pelo seu poder massificante (fruto dos executivos e publicitários que difundem essas gírias) são faladas tanto pelos roqueiros atuais como por funkeiros e pagodeiros.

3. O jovem perdeu o senso de respeito humano, passando a xingar quem discorda de suas opiniões equivocadas ou de frágil sentido lógico. Pior: jovens passaram a ser até conservadores, adotando valores de direita mesmo mantendo clichês (datados) do comportamento rebelde, como falar palavrão a toda hora, pogar nos shows, andar como junkie e usar tatuagens e piercings.

Com isso, é claro que a vulnerabilidade dos jovens se torna grande. Eles acabam agindo para justificar o "sistema" que acreditam combater. Defendem ídolos medíocres como Charlie Brown Jr., Guns N'Roses e Marilyn Manson porque rock para eles é apenas catarse. São alienados e se orgulham em não querer ler livros, nem ver filmes e nem mesmo ter senso crítico, que eles julgam ser "frescura".

Esses jovens se acham felizes porque agora seus telefones celulares de última geração são verdadeiros brinquedos, que eles podem somente pensar em praia, noitada, esportes radicais, de forma obsessiva, viciada e irracional. E, a partir disso, tratar o "inocente" consumo de maconha como uma forma de "transgredir" o "sistema", quando na verdade o consumo de drogas é a coisa mais favorável ao "sistema" do que se pensa, uma vez que os traficantes de drogas juntam a ganância capitalista com a violência fascista para se sustentarem no poder.

Enquanto o jovem for tratado como imbecil, sem o menor cuidado de uma mídia melhor habilitada, os traficantes continuarão fortes, porque um jovem imbecil, alienado e acrítico, desprovido de sensatez, autocrítica e respeito humano, será um grande consumidor de drogas em potencial.

2 comentários:

Anônimo disse...

Mas e agora, que está definida(ou estão definindo)essa geração, o que fazer?
Cruzar os braços?Criticar?
A resposta pra essa pergunta é a que todos nós queremos.

E também reforço que não estão imbecializando somente os jovens..é só abrir os olhos um pouco mais.

Anônimo disse...

As pessoas têm um conceito absolutamente errado sobre "roqueiros". Pra elas são todos drogados e rebeldes (o que são na maioria da vezes). E os que gostam de funk, pagode barato entre outros? São comuns, claro. Fazem besteiras como todos, muita baixaria. Mas aí, pra eles, é diferente, a final são adolescentes.
Não somos super-heróis, não vamos mudar o mundo. Mas também não podemos fazer como todos. Creio que apenas temos que fazer o que é "certo" e tentar mudar os pensamentos e ações de pessoas próximas para que elas também o façam.

Tenho 14 anos, odeio drogas e bebidas com álcool. Sou tímida, odeio aprecer. Adoro matemática e física. Não saio com a maioria de meus amigos, sei que no final dá besteira. Adoro bandas como Kiss, Aerosmith, Led Zeppelin, Beatles, Pink floid e também música clássica. Quando as pessoas vêem o que ouço, se escandalizam e dizem: nossa, não parece que você gosta de ouvir isto.
Não sei o que mais posso fazer pra isso mudar, mas sem fazer nada nós não podemos ficar.