sexta-feira, 10 de outubro de 2003

Cobra o escanteio e vai para área cabecear

Paixão pelo Rádio
Eduardo Ribeiro do Comunique-se

Estreou, nesta segunda-feira (06/10/03), na Rádio Trianon, de São Paulo (740 AM), o jornal Porque, um misto de jornal e revista, se é que assim podemos nos referir a um informativo radiofônico, que quer juntar notícia e entretenimento para oferecer aos ouvintes um programa diferenciado, agradável e leve, sem perder de vista, obviamente, a informação mais relevante. O novo jornal entra no lugar do É, que estava já há muitos anos no ar, praticamente desde o lançamento da rádio, cerca de dez ou onze anos atrás, pela dupla Fernando Vieira de Mello e Antonio Del Fiol (ambos já falecidos).

Até aí, embora a notícia seja nova e atual, nada de excepcional, sobretudo porque estrear e acabar com programas é fato corriqueiro na vida de qualquer emissora de rádio e tevê.

O que chama a atenção nesse projeto é o colega que está por de trás dele - aliás nem tão atrás assim, já que além de dirigir ele atua também como comentarista e certamente vai agora empenhar-se na sua viabilização comercial. Refiro-me ao Durval Monteiro, que após muitos e muitos anos atuando na comunicação corporativa, como contratado da Gessy Lever, ficou famoso e badalado ao enveredar, nos últimos anos, pelo mundo da televisão como autor de telenovelas - ele é o Yves Dumont, autor que assinou folhetins tanto para a Globo como para outras emissoras.

Pois esse mesmo Durval, ou Yves, que lá atrás andou percorrendo o mundo do rádio, talvez por influência do tio Edmundo Monteiro, que presidiu por muitos anos os Diários Associados, aproveitou o hiato entre um trabalho e outro para voltar a dedicar parte do seu tempo a esse fantástico meio de comunicação, que a sociedade adora e que as agências e anunciantes (com as exceções de praxe) inexplicavelmente discriminam e boicotam.

Durval assumiu o horário (7 às 9 horas), montou a equipe, pôs o jornal no ar e agora, lição de casa feita (ou quase), começa a estruturar a estratégia de buscar apoios no mercado. Até porque sem receita ninguém sobrevive.

Outro detalhe é que ele foi buscar alguns colegas de muita experiência para ajudá-lo na empreitada, a começar pelo parceiro de comentários, com anos de estrada, o José Fernando Lefcadito. O âncora do jornal é Wellington de Oliveira, conhecido de muitos de nós, e o locutor-noticiarista Zancopé Simões, que também está no rádio desde outros carnavais. O time de comentaristas inclui Walter Souto Maior e Dulce Santos, que entram diretamente de Brasília, Cláudia Toni (Cultura), Maria Cristina Corrêa (Literatura) e Vera Golik (Beleza e Estética). Há também a participação de Érica Corrêa, na produção da última meia hora (revista de variedades) e Rodrigo Cassino, responsável pelas matérias e comentários de esportes. Além das repórteres Ana Paula Boer e Fabiana Grilo.

Durval diz que só mesmo a paixão pelo rádio explica a decisão pessoal de investir num programa jornalístico, correndo até o risco de não ter o retorno comercial esperado.

Rádio é assim mesmo, como quase todas as mídias, mas ele tem realmente um encanto especial, diferenciado, difícil até de explicar e traduzir.

São vários os exemplos que poderíamos aqui citar, mas fico com mais um, por coincidência da mesma Trianon. Falo do colega Newton Flora, repórter dos mais atuantes, que trabalhou, salvo engano, mais de duas décadas na Rádio Bandeirantes. Newton, ao deixar a emissora, anos atrás, e após temporada tentando outras ocupações, decidiu voltar às origens. E já que não conseguia como assalariado foi à luta e obteve parcerias que lhe permitiram primeiro comandar um jornal na Rádio América, e depois assumir o horário de final da tarde da Trianon com o De olho na notícia, que vai ao ar das 17h30 às 18h45.

Todos nós - uns mais do que outros - temos uma dívida de gratidão para com o rádio. Alguns, como Durval e Newton, pagam com o próprio suor. Que ambos - e seus respectivos programas - tenham vida longa.


Será que funciona quando o profissional responsável pelo conteúdo de um programa ou publicação jornalística tem de correr atrás dos anunciantes? Sinceramente, não me lembro de nenhum caso em que a credibilidade do profissional de imprensa que se dispôs a correr atrás dos patrocinadores não tenha sido ao menos questionada. Fica sempre uma suspeita de que a lisura do conteúdo possa ter sido afetada por motivos quase óbvios. Ou não.

Agora vamos inverter as posições no balcão: e se o "cara do comercial" começar a dar "palpites" no notiário ou nas "reportagens" do programa, hein?

Nenhum comentário: